Semana de 5 a 11 de dezembro de 2016
Rosângela Palhano Ramalho
[i]
Caros leitores, o fim do ano se aproxima e os maus
resultados produzidos pela economia brasileira, no terceiro trimestre, e que
ainda provocam náuseas à equipe econômica, provavelmente se repetirão no quarto
trimestre. Em outubro, foi registrada mais uma queda da produção industrial. Em
relação a setembro, a atividade caiu 1,1%. A produção de bens de capital recuou
2,2%, pela quarta vez seguida, e a de bens intermediários caiu 1,9%. Dos 24
setores pesquisados pelo IBGE, 20 apresentaram queda na produção. E, segundo a
CNI, no mesmo período, a utilização da capacidade instalada industrial caiu de
77% para 76,6%. Estes dados indicam que os investimentos não mostram
recuperação.
A indústria de papelão ondulado, que fabrica o
produto-chave do setor de embalagens, termômetro da economia, registra queda de
produção de 2,24% no acumulado até novembro. E a venda de eletrodomésticos deve
recuar este ano em até 3%. Segundo a Euromonitor, este mercado só recuperará seu
volume de vendas anterior a 2015, em 2021.
“Surpresos”
com os péssimos resultados de fim de ano, economistas e membros do mercado
financeiro passaram a pressionar o Copom defendendo uma queda mais acentuada na
taxa de juros. De repente, esqueceram-se todos do discurso inflamado sobre a
tal independência do Banco Central. A equipe econômica dos sonhos, que só tem
produzido pesadelos, tem se mostrado incapaz de “produzir” o crescimento e vem
sofrendo pressão de todos os lados.
O presidente da Câmara, Rodrigo Maia, o presidente
do Senado, Renan Calheiros, os líderes do governo no Congresso, Romero Jucá e
Eunício Oliveira, além de Aécio Neves e Tasso Jereissati, têm exigido
resultados, senão por esta, que seja por outra equipe econômica. Mas o
presidente Temer pediu paciência e saiu em defesa de Meirelles. Para acalmar os
ânimos, anunciou que vai lançar, além da PEC 55 e da Reforma da Previdência já
anunciadas, reformas microeconômicas para estimular a economia. Sem dar muitos
detalhes, fizeram questão de condenar as políticas de desoneração utilizadas
por Dilma e frisaram que o foco será na melhoria do ambiente de negócios com
medidas para diminuir a burocracia ligada à atividade empresarial.
Finalizamos
com o cenário político. O centro do poder no Brasil está implodindo. Após a
lambança do Supremo Tribunal Federal em decidir manter Renan Calheiros na
presidência do Senado, a temida delação da Odebrecht foi assinada. Em
depoimento aos procuradores da Lava Jato, vazado à imprensa, Cláudio Melo
Filho, ex-vice-presidente de Relações Institucionais da empresa, afirmou que o
presidente Michel Temer participou diretamente no pedido de recursos junto a
Marcelo Odebrecht, num total de R$ 10 milhões para financiamento de campanha do
PMDB. Uma lista de mais 20 políticos foi levantada pelo delator. Codinomes
curiosos estão listados no “Setor de Operações Estruturadas” da empresa. PMDB,
PT, PC do B, PSDB, PP, PSD, PSB e DEM foram “contemplados”. Pós-vazamento,
Senado e Câmara foram esvaziados. Reuniões foram marcadas. Estratégias são
elaboradas.
No fim do ano passado, precisamente em 07 de
dezembro de 2015, o então vice-presidente Michel Temer reclamava a Dilma, em
carta, sentir-se um vice-decorativo e desrespeitado. E, através da imprensa se
auto-ofereceu como aquele que teria “a capacidade de reunificar a todos”. Pois
bem, em 12 de dezembro de 2016, uma nova carta foi enviada. Desta vez, ao
procurador-geral da República, Rodrigo Janot. No documento, Temer afirma que o
vazamento de delações premiadas tem causado problemas na condução das políticas
públicas para aquecer a economia. Esquecendo-se da independência do órgão,
pediu rapidez na conclusão das investigações, na homologação e divulgação do
inteiro conteúdo das delações premiadas.
O homem que ia reunificar a nação tombou. Tombou
diante da realidade econômica, que não “obedece” à sua mágica equipe, e diante
da corrupção, que se ofereceu para combater, mas que parece ser sua amiga
íntima, e de seus pares.
[i] Professora
do Departamento de Economia da UFPB e pesquisadora do Progeb – Projeto Globalização
e Crise na Economia Brasileira. (www.progeb.blogspot.com.br)
Contato: rospalhano@yahoo.com.br
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