Semana de 02 a 08 de janeiro de 2017
Nelson Rosas Ribeiro[i]
2017 começou fervendo. O cenário
internacional vem carregado com o furacão Trump semeando a maior insegurança e
instabilidade no frágil equilíbrio mundial. As primeiras indicações de seu
governo fazem prever que ele pretende cumprir o que prometeu em sua campanha.
Temerosas, a Ford e a GM cancelaram investimentos programados para o México,
sob a ameaça de ter que pagar elevadas tarifas para colocar seus produtos
importados nos EUA. No recente caso dos assentamentos judaicos nos territórios
palestinos, condenados pelo conselho de segurança da ONU com a abstenção
americana, que provocou gritos histéricos do primeiro ministro Netanyahu, ele
pediu paciência, pois após sua posse mudaria tudo. O nervosismo da China, do
Japão e da Coréia do Sul aumenta, para não falar da União Europeia (UE),
temerosa da expansão Russa. Só os bancos americanos demonstram felicidade com a
possibilidade de aumento de seus lucros. Dos auxiliares indicados por Trump
dois provocaram grandes protestos; Um por ser racista declarado e o outro por
ser seu genro.
Na UE a situação não é nada tranquila.
Teme-se o avanço da direita extremista nas próximas eleições da Holanda
(março), da França (abril e maio) e da Alemanha (setembro), além da
concretização do Brexit, saída do Reino Unido da UE. Há uma forte ameaça ao
processo de Globalização e ao comércio internacional com o avanço de posições
protecionistas.
Essa complexa situação, acrescida da
elevação dos juros pelo Federal Reserve (Fed), banco central americano, torna o
ambiente internacional muito hostil para a possibilidade de recuperação da
economia brasileira que continua no fundo do poço.
Embora o período de recesso prejudique a
apuração e divulgação dos dados, alguns elementos podem ser encontrados. Em
novembro, o crescimento da produção industrial foi de 0,2%, sobre outubro,
provocando frustração generalizada dos analistas. A produção de alimentos caiu
0,3% e a de produtos derivados do petróleo, 3,3%. Quem salvou o índice geral
foi o setor de automóveis graças às exportações e à retomada da produção da
fábrica da Volkswagen, parada desde setembro por conflito com os fornecedores.
Estima-se que, no quarto trimestre de 2016, o Produto Interno Bruto (PIB) cairá
0,8%, levando a queda do PIB deste ano para 3,5%. As estimativas dos analistas
para 2017 continuam pessimistas. As taxas de crescimento do PIB variam de 0% a
0,5% e há o perigo de crescimento negativo.
Se não bastasse a péssima avaliação do
governo mostrada nas pesquisas surge a ameaça de continuação da crise. E não é
só. No campo jurídico há a delação premiada da Odebrecht que está nas mãos do
ministro Teori Zavascki e o processo de cassação da chapa Dilma-Temer no
Tribunal Superior Eleitoral.
A realidade tem sido madrasta com o governo
Temer. Agora estoura a rebelião nos presídios e os massacres que envergonham o
país e mostram a situação caótica do sistema prisional e da segurança, nas mãos
de Alexandre de Moraes, ministro da Justiça. Nada parece dar certo. As
concessões dos aeroportos, apontadas como ótimo negócio para aumentar as receitas,
não dão os resultados esperados. A concessionária do aeroporto do Galeão não
conseguiu pagar os R$934 milhões da parcela anual da outorga, que deveria pagar
em maio, obrigando o governo a ser leniente e aumentar o prazo. A indústria
têxtil pressiona por alíquota zero para a importação de 100 mil toneladas de
algodão. As petroleiras, representadas pelo Instituto Brasileiro do Petróleo,
Gás Natural e Bio Combustível e as empresas fornecedoras organizadas em 14
associações e federações da indústria tem posições opostas sobre a legislação
que trata do conteúdo local das compras, que o governo pretende mudar.
O único troféu que Temer pode apresentar é
a aprovação pelo congresso de suas propostas e a força que aí ele mostra ter. É
a feliz coincidência de se ter o mais corrupto Congresso que jamais se teve e o
mais conservador, que agora tem pressa em aprovar o grande pacote de medidas
que estão destruindo as conquistas do povo, conseguidas através de duras lutas
e sacrifícios.
Mas isto não livrará o país da crise. Ela
continua.
[i] Professor
Emérito da UFPB e Coordenador do Progeb – Projeto Globalização e Crise na
Economia Brasileira; nelsonrr39@hotmail.com; (www.progeb.blogspot.com).
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