Semana de 10 a 16 de março de 2017
Nelson Rosas Ribeiro[i]
O Sinistro Meirelles ataca novamente. Ele
sempre esquece as previsões anteriores que fez e, embora teime que a economia
está em recuperação, promete que o emprego só será retomado no segundo
semestre. Para ele, isso é normal, pois costuma haver sempre uma defasagem na
recuperação do emprego em relação à da economia. Meirelles fez essa afirmação
ao voltar de Washington onde andou conspirando com “grupos de investidores
internacionais” nos últimos dias. Incrédulo, o Fundo Monetário Internacional
(FMI) promete enviar técnicos à Brasília para verificar, in loco, as ações
encomendadas. O FMI preocupa-se com as concessões feitas na reforma da
Previdência, entre outras. Por outro lado elogia a urgência adotada para as
reformas trabalhistas.
O pronunciamento sobre o emprego veio em
decorrência da divulgação da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio (PNAD
Contínua) feita na sexta-feira passada. Os desempregados que eram 13,5 milhões,
em fevereiro, aumentaram para 14,2 milhões no trimestre até março. Este número
é 14,9% superior ao trimestre anterior terminado em dezembro. É um recorde
histórico desde 2012. Claro que a culpa não é da política econômica do governo
Temer, mas da herança maldita dos governos anteriores. Além disso, há uma
desculpa teórica. Trata-se de uma “recuperação sem emprego”, ou melhor, uma
“jobless recovery”. Esta é uma novidade dos tempos atuais.
Para os analistas, as dúvidas sobre a
recuperação permanecem. Os dados são contraditórios e a dificuldade aumenta com
as alterações que estão ocorrendo no IBGE e Ipea. Há denúncias de manipulação
dos cálculos para atender à demanda do governo de mostrar a recuperação
prometida.
Mas a realidade continua embaraçosa. A
arrecadação federal, por exemplo, depois de dois meses de alta voltou a cair,
em março, atingindo o menor patamar desde 2010. A declaração do
IRPJ/contribuição Social sobre o lucro líquido (CSLL) dos bancos caiu 52,8%,
comparada a 2016. A arrecadação do PIS/Cofins teve queda de 4% no primeiro
trimestre da mesma forma que o Cide-combustíveis e o IOF.
No setor bancário começam a cair os juros e
a subir o número de operações. Estas alterações, embora consideradas
incipientes, são motivo de comemorações. Em março, ante fevereiro, o estoque
dos empréstimos e financiamentos cresceu 0,2% embora em 12 meses este número
mostre recuo de 3,5%. Os dados do BNDES não são tão animadores apesar do banco
falar em sinais insipientes de recuperação na demanda por recursos do banco.
Mas os dados mostram que, em comparação com 2016 esta demanda foi 17% menor. As
consultas caíram 10% e os enquadramentos, 17%.
Voltando à economia, o setor de papelão e
celulose comemora sinais regulares de retomada, mas o setor siderúrgico reage
fortemente contra a política do governo de recisão das cláusulas do conteúdo
local para os financiamentos e compras estatais. O presidente executivo do
Instituto do Aço Brasil propõe que o governo assuma a defesa da indústria
nacional imitando os EUA com o lema “buy brazilian”. Marco Polo Lopes afirma
taxativamente que a “Retomada não ocorreu, não está ocorrendo e não ocorrerá
ainda em 2017”.
Dentro do próprio governo a Caixa Econômica
Federal manifesta sua preocupação com a reforma trabalhista, pois pode reduzir
a receita do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS) prejudicando o
financiamento da casa própria com consequências para a construção civil.
Fora do governo as manifestações se
multiplicam. A greve geral do dia 28 uniu todas as centrais sindicais de
trabalhadores, a Igreja católica pela voz da CNBB e de muitos bispos arcebispos
e padres, várias igrejas evangélicas, os movimentos sociais e populares,
artistas, profissionais liberais, professores e muitas empresas.
Tudo isso ocorre quando a desaprovação ao
governo Temer atinge um ponto ainda mais elevado. Segundo a Ipsos, em pesquisa realizada
no início de abril, 87% dos brasileiros desaprovam a forma de Temer governar. A
aprovação do governo caiu de 17% para 10%. Apenas 4% da população julga a
administração boa ou ótima enquanto 75% a consideram ruim ou péssima.
O desespero do governo é visível. Só lhe
resta o apoio de parte da classe empresarial e de um congresso comprado,
considerado o mais corrupto de todos os tempos. O próprio governo, ameaçado
pela Lava-Jato, afoga-se na corrupção. Para mostrar serviço precisa aprovar
urgentemente as suas reformas encomendadas pelos seus financiadores e que
representam o maior retrocesso nas conquistas obtidas pelos trabalhadores nos
últimos 70 anos.
Se o sistema aguentar até 2018 é preciso
que o povo lhes dê o troco. Será a “volta do cipó de aroeira no lombo de quem
mandou dar”.
[i] Professor
Emérito da UFPB e Coordenador do Progeb – Projeto Globalização e Crise na
Economia Brasileira; nelsonrr39@hotmail.com; (www.progeb.blogspot.com).
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