Semana de 01 a 07 de dezembro de 2008
Mais do que uma simples contração da atividade econômica, a crise, caracterizada pela redução do nível de produção, pelas falências e pela elevação do nível de desemprego, denominada eufemisticamente de recessão, se transformou numa questão de reconhecimento oficial por parte das autoridades e órgãos governamentais de cada país. Estes órgãos, com “definições técnicas” e, na maioria das vezes, utilizando um “economês” de difícil compreensão para a maior parte da população, baseiam-se em critérios cujas razões não são explicadas e atestam se a economia está ou não em recessão.
Depois de vários países já terem admitido, com “certificado oficial”, estarem passando por umarecessão, no início deste mês, o respeitável National Bureau of Economic Research, grupo privado
americano, anunciou, por meio do seu comitê de “ciclo econômico” que, desde dezembro de 2007, a economia dos Estados Unidos está em recessão. Segundo o relatório divulgado pela entidade, que é a responsável pelo registro dos dados sobre a atividade econômica do país nos livros de história, esta é a primeira recessão nos EUA desde 2001, tendo o período de expansão durado 73 meses, de novembro de 2001 a dezembro de 2007.
Oficialmente, portanto, está declarado e constará nos registros da história econômica dos EUA que, a partir do final de 2007, a economia americana entrou em recessão. Com isto, o que nós já havíamos previsto, quando ainda nem sequer se cogitava a hipótese de uma redução do nível da atividade econômica mundial, recebeu uma certificação oficial. Uma breve consulta às Análises de Conjuntura nos arquivos do jornal Contraponto permite localizar frases, como a que foi publicada no dia 24 de dezembro de 2007: “todos os dados continuam a confirmar que estamos, novamente, prestes a assistir a um quadro de desaceleração do crescimento econômico mundial”. Hoje em dia isto parece óbvio, entretanto, naquela ocasião, a opinião predominante era a de que a crise estava relacionada apenas ao setor imobiliário americano.
Com o reconhecimento oficial da crise econômica, que já não era mais possível esconder, este tema se tornou comum ao jornalismo econômico, que vem divulgando um volume crescente de notícias indicando o agravamento do cenário internacional. Somente para citar alguns dados, nos Estados Unidos, centro das atenções, foram fechadas 533 mil vagas de trabalho, somente em novembro. Este foi o 11º mês consecutivo de retração do nível de emprego no país, fazendo com que a taxa de desemprego já chegue a 6,7%, a pior em 15 anos.
Na China, de acordo com Hu Jintao, presidente do país, a desaceleração está claramente reduzindo a demanda externa e exercendo pressão para enfraquecer as tradicionais vantagens competitivas chinesas. Com a redução das exportações, a produção da indústria vem diminuindo e os protestos de trabalhadores chineses contra o fechamento de fábricas não para de crescer. O Banco Mundial já revisou para baixo a sua previsão de crescimento para a China, de 9,2% para 7,5%, o que, se confirmado, seria a menor expansão em quase duas décadas.
No Brasil as fábricas estão ampliando as paralisações e a produção industrial registrou queda de1,7% entre setembro e outubro, de acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Dos 27 ramos de indústrias pesquisados, 15 cortaram a produção e a indústria de petroquímica foi a que mais se retraiu, com um corte de 11,6%. A indústria automobilística fechou o mês de novembro com 305.660 carros encalhados nos pátios das montadoras, o que, conforme a Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), representa um custo de R$ 12 bilhões. Como resultado, além das demissões, a quantidade de trabalhadores colocados em férias coletivas, na indústria brasileira, não para de crescer. Somente a Companhia Vale do Rio Doce já demitiu 1300 operários e concedeu férias coletivas a mais 5500 empregados. No setor imobiliário, mais de R$ 7 bilhões em projetos de investimento já foram cancelados e a euforia do início do ano, que prometia volumes recordes de vendas e lançamentos de imóveis, nos fazendo lembrar do período do milagre econômico brasileiro, foi apagada. Com isso, o Sindicato dos Trabalhadores da Construção Civil de São Paulo já calcula que cerca de 100 mil funcionários do setor poderão perder o emprego até o final do ano.
Desta maneira, a economia brasileira, da mesma forma que entrou, com certo grau de defasagem, no movimento de expansão da economia global, continua atrasada em relação ao seu movimento de contração. No entanto, cada vez mais, não só empresários, mas entidades empresariais e sindicais, e mesmo autoridades do governo, vão sendo forçados a reconhecer a entrada na crise.
Enquanto aguardamos a expedição do nosso certificado oficial de recessão, a economia mundialprossegue em sua trajetória de queda, esta sim já reconhecida pelos certificados oficiais emitidos pelas autoridades e órgãos governamentais dos mais diversos países do mundo.
Texto escrito por:
Diego Mendes Lyra: Mestrando em economia, Professor Substituto do Departamento de Economia da UFPB e pesquisador do Progeb – Projeto globalização e crise na economia brasileira
(progeb@ccsa.ufpb.br)
Arquivo para download em formato pdf.
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Depois de vários países já terem admitido, com “certificado oficial”, estarem passando por umarecessão, no início deste mês, o respeitável National Bureau of Economic Research, grupo privado
americano, anunciou, por meio do seu comitê de “ciclo econômico” que, desde dezembro de 2007, a economia dos Estados Unidos está em recessão. Segundo o relatório divulgado pela entidade, que é a responsável pelo registro dos dados sobre a atividade econômica do país nos livros de história, esta é a primeira recessão nos EUA desde 2001, tendo o período de expansão durado 73 meses, de novembro de 2001 a dezembro de 2007.
Oficialmente, portanto, está declarado e constará nos registros da história econômica dos EUA que, a partir do final de 2007, a economia americana entrou em recessão. Com isto, o que nós já havíamos previsto, quando ainda nem sequer se cogitava a hipótese de uma redução do nível da atividade econômica mundial, recebeu uma certificação oficial. Uma breve consulta às Análises de Conjuntura nos arquivos do jornal Contraponto permite localizar frases, como a que foi publicada no dia 24 de dezembro de 2007: “todos os dados continuam a confirmar que estamos, novamente, prestes a assistir a um quadro de desaceleração do crescimento econômico mundial”. Hoje em dia isto parece óbvio, entretanto, naquela ocasião, a opinião predominante era a de que a crise estava relacionada apenas ao setor imobiliário americano.
Com o reconhecimento oficial da crise econômica, que já não era mais possível esconder, este tema se tornou comum ao jornalismo econômico, que vem divulgando um volume crescente de notícias indicando o agravamento do cenário internacional. Somente para citar alguns dados, nos Estados Unidos, centro das atenções, foram fechadas 533 mil vagas de trabalho, somente em novembro. Este foi o 11º mês consecutivo de retração do nível de emprego no país, fazendo com que a taxa de desemprego já chegue a 6,7%, a pior em 15 anos.
Na China, de acordo com Hu Jintao, presidente do país, a desaceleração está claramente reduzindo a demanda externa e exercendo pressão para enfraquecer as tradicionais vantagens competitivas chinesas. Com a redução das exportações, a produção da indústria vem diminuindo e os protestos de trabalhadores chineses contra o fechamento de fábricas não para de crescer. O Banco Mundial já revisou para baixo a sua previsão de crescimento para a China, de 9,2% para 7,5%, o que, se confirmado, seria a menor expansão em quase duas décadas.
No Brasil as fábricas estão ampliando as paralisações e a produção industrial registrou queda de1,7% entre setembro e outubro, de acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Dos 27 ramos de indústrias pesquisados, 15 cortaram a produção e a indústria de petroquímica foi a que mais se retraiu, com um corte de 11,6%. A indústria automobilística fechou o mês de novembro com 305.660 carros encalhados nos pátios das montadoras, o que, conforme a Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), representa um custo de R$ 12 bilhões. Como resultado, além das demissões, a quantidade de trabalhadores colocados em férias coletivas, na indústria brasileira, não para de crescer. Somente a Companhia Vale do Rio Doce já demitiu 1300 operários e concedeu férias coletivas a mais 5500 empregados. No setor imobiliário, mais de R$ 7 bilhões em projetos de investimento já foram cancelados e a euforia do início do ano, que prometia volumes recordes de vendas e lançamentos de imóveis, nos fazendo lembrar do período do milagre econômico brasileiro, foi apagada. Com isso, o Sindicato dos Trabalhadores da Construção Civil de São Paulo já calcula que cerca de 100 mil funcionários do setor poderão perder o emprego até o final do ano.
Desta maneira, a economia brasileira, da mesma forma que entrou, com certo grau de defasagem, no movimento de expansão da economia global, continua atrasada em relação ao seu movimento de contração. No entanto, cada vez mais, não só empresários, mas entidades empresariais e sindicais, e mesmo autoridades do governo, vão sendo forçados a reconhecer a entrada na crise.
Enquanto aguardamos a expedição do nosso certificado oficial de recessão, a economia mundialprossegue em sua trajetória de queda, esta sim já reconhecida pelos certificados oficiais emitidos pelas autoridades e órgãos governamentais dos mais diversos países do mundo.
Texto escrito por:
Diego Mendes Lyra: Mestrando em economia, Professor Substituto do Departamento de Economia da UFPB e pesquisador do Progeb – Projeto globalização e crise na economia brasileira
(progeb@ccsa.ufpb.br)
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