Semana de 22 a 28 de dezembro de 2008
Como é costume, não poderíamos iniciar este novo ano sem enviar a todos os leitores e amigos, em meu nome pessoal e dos pesquisadores que compõem o PROGEB, os nossos votos de muita paz e felicidade.
Embora este seja o nosso desejo, a função de analistas da realidade econômica nos obriga a apresentar, da forma a mais objetiva, o cenário que nos espera em todo o ano de 2009, agora reconhecido, quase por unanimidade, como um ano de crise. Preparemo-nos para o ano das vacas magras.
Com efeito, todas as notícias que são divulgadas continuam a apontar nessa direção, confirmando o que já havíamos previsto desde 2007. A crise atual não é um mero acidente, o resultado da ação de capitalistas desonestos ou de operações financeiras irresponsáveis e muito menos das loucuras do “companheiro Bush.” Estamos diante de mais uma fase de crise do ciclo econômico mundial, fenômeno inerente a todas as economias capitalistas e que se repete periodicamente. Preparemo-nos também para suportar todo o charlatanismo e cinismo das autoridades que tentarão enganar as pessoas manipulando as estatísticas referentes a 2008 que serão divulgadas no início do ano e que esconderão a dureza e profundidade da crise. Por serem estatísticas anuais, diluirão a violenta queda observada no último trimestre do ano, quando, finalmente, a crise chegou ao Brasil, para ser mais preciso, a partir da última semana de setembro.
Embora este seja o nosso desejo, a função de analistas da realidade econômica nos obriga a apresentar, da forma a mais objetiva, o cenário que nos espera em todo o ano de 2009, agora reconhecido, quase por unanimidade, como um ano de crise. Preparemo-nos para o ano das vacas magras.
Com efeito, todas as notícias que são divulgadas continuam a apontar nessa direção, confirmando o que já havíamos previsto desde 2007. A crise atual não é um mero acidente, o resultado da ação de capitalistas desonestos ou de operações financeiras irresponsáveis e muito menos das loucuras do “companheiro Bush.” Estamos diante de mais uma fase de crise do ciclo econômico mundial, fenômeno inerente a todas as economias capitalistas e que se repete periodicamente. Preparemo-nos também para suportar todo o charlatanismo e cinismo das autoridades que tentarão enganar as pessoas manipulando as estatísticas referentes a 2008 que serão divulgadas no início do ano e que esconderão a dureza e profundidade da crise. Por serem estatísticas anuais, diluirão a violenta queda observada no último trimestre do ano, quando, finalmente, a crise chegou ao Brasil, para ser mais preciso, a partir da última semana de setembro.
A crise internacional continua o seu curso, puxada pela economia dos EUA, onde o ProdutoInterno Bruto (PIB) caiu 0,5% no terceiro trimestre e onde também se espera uma queda de 6,0% no quarto. Os gastos dos consumidores já tiveram uma queda anual de 3,8% e o número de pedidos de auxílio desemprego na última semana ultrapassou os 30.000, atingindo o maior nível em 26 anos. O mercado imobiliário também continua em crise com uma redução de 7,6% na compra de casas novas e usadas, apesar da queda de 13% nos preços destas últimas. As montadoras General Motors (GM), Ford e Chrysler encerram o ano à beira do colapso, apesar do socorro de US$ 17,4 bilhões, aprovado pelo congresso americano. A GMAC, braço financeiro da GM, à beira da falência, solicitou ao Fed, Banco Central dos EUA, autorização para se tornar banco comercial, mesmo tendo a GM de perder o controle acionário da instituição. O agravamento da situação e o desespero dos agentes econômicos é tal que a AssociaçãoCrisis-Link, que atua na região de Washington e atende aos pedidos de ajuda nos casos de depressão e suicídios, teve um aumento de 132% nas solicitações recebidas, em outubro, em relação a 2007 e de 81%, em todo o ano.
A economia do Japão, a segunda mais desenvolvida do mundo, teve uma queda de 8,1% emnovembro, em relação a outubro, a maior queda desde 1953, e a produção de automóveis reduziu-se de 15% no mesmo período. A Toyota, a maior empresa do país, reconheceu que no próximo ano terá o primeiro prejuízo nos seus 70 anos de história. A montadora Suzuki reduziu sua produção em 10%, no mês de novembro e já se admite que as 10 montadoras japonesas se fundirão em apenas três. No mesmo mês, as exportações registraram a maior queda da história, o número de desempregados aumentou, as vendas caíram e a economia do país foi tecnicamente considerada em recessão. Na Rússia, a ruptura do sistema bancário e do crédito fez o rublo atingir a sua menor cotação, em três anos, frente ao dólar e euro, apesar do governo ter gasto 25% de suas reservas cambiais para segura-lo. Agora, ele se prepara também para intervir diretamente em 295 indústrias, para impedir falência destas. Já foram escolhidas as gigantesestatais Gazprom e Rosnet (petroleiras), a mineradora Norilsk Nichel, a operadora de celular Vimpelcom e a empresa aérea Aeroflot. A economia do Reino Unido encolheu 0,6% no terceiro trimestre, e a produção da indústria de transformação, 1,6%. O BC inglês já reduziu a taxa básica de juros para 2,0% ao ano. Na Espanha, o PIB caiu 1,5% entre outubro e dezembro, caracterizando a primeira recessão do país em 15 anos. Apesar de todo o empenho das autoridades dos diversos países, a economia mundial continua em desaceleração. Segundo a Associação Mundial de Aço (Worldsteel), somente em novembro, a produção de aço caiu 19%, em relação ao mês anterior. No meio da quebradeira geral, uma nota cômica: o fabricante dos sapatos atirados no presidente Bush, no Iraque, contratou mais 100 empregados para dar conta das novas encomendas recebidas de todo o mundo. O modelo solicitado é o 271 agora rebatizado de “Bush Shoes”. Apesar do aumento da demanda, a fábrica garante que não pretende aumentar os preços.
No Brasil, a crise afetou diretamente o comércio exterior com a redução dos preços e do volumedas mercadorias negociadas. Embora ainda haja superávit, este se reduzirá a quase metade, em relação ao ano passado, caindo de US$ 40 bilhões, para um valor estimado de US$ 24 bilhões. Os preços dos produtos exportados caíram 8,4% em novembro, e espera-se uma queda ainda maior para 2009. Com a queda dos preços dos produtos agrícolas, a cotação do suco de laranja reduziu-se 84% só em novembro. A redução de 26% nos embarques de carne fez o preço do boi cair de R$ 90 para R$79 a arroba. A Sadia pretende suspender as atividades de 20% de seus 63 mil empregados. A pecuária de corte tende a encolher e a demanda por adubos segue o mesmo caminho. Os estoques já se acumulam nas empresas produtoras e importadoras, as quais anunciam prejuízos nos balanços de 2008. Só no mês de novembro, as vendas caíram 41,3%, em relação ao mês anterior.
No setor industrial, as vendas de aço laminado diminuíram 24% em novembro, conseqüência daparalisação das montadoras. A GM, que trabalhou um dia em novembro, trabalhou apenas cinco em dezembro e já programa novas férias coletivas, que reduzirão a atividade, em janeiro, a menos de 10 dias. No Paraná, a Volvo já anunciou a demissão de 430 trabalhadores e a Volkswagen, de 74. A Bosh afastou 800 trabalhadores. A Renault descobriu uma forma mais engenhosa em um acordo com o Sindicato. Suspenderá o contrato de 1.000 trabalhadores que continuarão “empregados”, mas sem ganhar salário por cinco meses. Finalmente, o ministro do Trabalho reconheceu que, em novembro, em relação a outubro, foram fechados 40.821 postos de trabalho.
Para o ano de 2009, o presidente Lula, que nunca sabia de nada, agora “sabe” que o crescimentoserá de 4,0%, mas o Banco Central estima que será de 3,2% e o mercado projeta modestos 2,4%. Quem terá razão?
Os nossos recursos técnicos não nos permitem tamanha precisão nas previsões, mas a base teórica que utilizamos nos garante que, no Brasil, a crise está apenas começando e obrigatoriamente seguirá o seu curso completamente indiferente às bravatas de presidentes e ministros. É para esta dura realidade que nos devemos preparar neste novo ano de 2009 que se inicia.
Texto escrito por:
Nelson Rosas Ribeiro: Professor do Departamento de Economia da UFPB e coordenador do Progeb-Projeto Globalização e Crise na Economia cr
(progeb@ccsa.ufpb.br)
Arquivo para download em formato pdf.
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A economia do Japão, a segunda mais desenvolvida do mundo, teve uma queda de 8,1% emnovembro, em relação a outubro, a maior queda desde 1953, e a produção de automóveis reduziu-se de 15% no mesmo período. A Toyota, a maior empresa do país, reconheceu que no próximo ano terá o primeiro prejuízo nos seus 70 anos de história. A montadora Suzuki reduziu sua produção em 10%, no mês de novembro e já se admite que as 10 montadoras japonesas se fundirão em apenas três. No mesmo mês, as exportações registraram a maior queda da história, o número de desempregados aumentou, as vendas caíram e a economia do país foi tecnicamente considerada em recessão. Na Rússia, a ruptura do sistema bancário e do crédito fez o rublo atingir a sua menor cotação, em três anos, frente ao dólar e euro, apesar do governo ter gasto 25% de suas reservas cambiais para segura-lo. Agora, ele se prepara também para intervir diretamente em 295 indústrias, para impedir falência destas. Já foram escolhidas as gigantesestatais Gazprom e Rosnet (petroleiras), a mineradora Norilsk Nichel, a operadora de celular Vimpelcom e a empresa aérea Aeroflot. A economia do Reino Unido encolheu 0,6% no terceiro trimestre, e a produção da indústria de transformação, 1,6%. O BC inglês já reduziu a taxa básica de juros para 2,0% ao ano. Na Espanha, o PIB caiu 1,5% entre outubro e dezembro, caracterizando a primeira recessão do país em 15 anos. Apesar de todo o empenho das autoridades dos diversos países, a economia mundial continua em desaceleração. Segundo a Associação Mundial de Aço (Worldsteel), somente em novembro, a produção de aço caiu 19%, em relação ao mês anterior. No meio da quebradeira geral, uma nota cômica: o fabricante dos sapatos atirados no presidente Bush, no Iraque, contratou mais 100 empregados para dar conta das novas encomendas recebidas de todo o mundo. O modelo solicitado é o 271 agora rebatizado de “Bush Shoes”. Apesar do aumento da demanda, a fábrica garante que não pretende aumentar os preços.
No Brasil, a crise afetou diretamente o comércio exterior com a redução dos preços e do volumedas mercadorias negociadas. Embora ainda haja superávit, este se reduzirá a quase metade, em relação ao ano passado, caindo de US$ 40 bilhões, para um valor estimado de US$ 24 bilhões. Os preços dos produtos exportados caíram 8,4% em novembro, e espera-se uma queda ainda maior para 2009. Com a queda dos preços dos produtos agrícolas, a cotação do suco de laranja reduziu-se 84% só em novembro. A redução de 26% nos embarques de carne fez o preço do boi cair de R$ 90 para R$79 a arroba. A Sadia pretende suspender as atividades de 20% de seus 63 mil empregados. A pecuária de corte tende a encolher e a demanda por adubos segue o mesmo caminho. Os estoques já se acumulam nas empresas produtoras e importadoras, as quais anunciam prejuízos nos balanços de 2008. Só no mês de novembro, as vendas caíram 41,3%, em relação ao mês anterior.
No setor industrial, as vendas de aço laminado diminuíram 24% em novembro, conseqüência daparalisação das montadoras. A GM, que trabalhou um dia em novembro, trabalhou apenas cinco em dezembro e já programa novas férias coletivas, que reduzirão a atividade, em janeiro, a menos de 10 dias. No Paraná, a Volvo já anunciou a demissão de 430 trabalhadores e a Volkswagen, de 74. A Bosh afastou 800 trabalhadores. A Renault descobriu uma forma mais engenhosa em um acordo com o Sindicato. Suspenderá o contrato de 1.000 trabalhadores que continuarão “empregados”, mas sem ganhar salário por cinco meses. Finalmente, o ministro do Trabalho reconheceu que, em novembro, em relação a outubro, foram fechados 40.821 postos de trabalho.
Para o ano de 2009, o presidente Lula, que nunca sabia de nada, agora “sabe” que o crescimentoserá de 4,0%, mas o Banco Central estima que será de 3,2% e o mercado projeta modestos 2,4%. Quem terá razão?
Os nossos recursos técnicos não nos permitem tamanha precisão nas previsões, mas a base teórica que utilizamos nos garante que, no Brasil, a crise está apenas começando e obrigatoriamente seguirá o seu curso completamente indiferente às bravatas de presidentes e ministros. É para esta dura realidade que nos devemos preparar neste novo ano de 2009 que se inicia.
Texto escrito por:
Nelson Rosas Ribeiro: Professor do Departamento de Economia da UFPB e coordenador do Progeb-Projeto Globalização e Crise na Economia cr
(progeb@ccsa.ufpb.br)
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