Semana de 26 de março a 01 de abril
de 2012
Rosângela Palhano Ramalho [i]
Não há novidades no
cenário econômico internacional. A recuperação americana ainda não se
concretizou, e a Europa aguarda os efeitos da injeção de liquidez fornecida
pelo Banco Central Europeu. Enquanto isso, o velho continente acompanha de
perto os rumos da economia grega.
Internamente, o governo
da presidente Dilma continua a enfrentar dificuldades. No âmbito político, a queda
de nove ministros (sete deles por denúncias de corrupção), que se estende desde
junho de 2011, quando Antonio Palocci foi deposto, parece não ter fim. Embora o
governo negue, a saída da Ministra da Cultura, Ana de Hollanda, é iminente. A
ministra vem recebendo duras críticas de artistas e intelectuais sobre o seu
despreparo para o cargo.
O então ministro das
Cidades, Aguinaldo Ribeiro, que tomou posse em 9 de fevereiro, ao substituir
Mário Negromonte, teve seu nome envolvido nas denúncias veiculadas em âmbito
nacional, com relação ao projeto Jampa Digital, que foi inaugurado por ele em
março de 2010. O acesso gratuito à internet que deveria acontecer em 20 pontos
da cidade de João Pessoa-PB, até hoje, não funciona. E as irregularidades envolvendo
o novo ministro não param por aí. O Tribunal de Contas da Paraíba constatou que,
em 2008 e 2009, quando era deputado estadual, Aguinaldo Ribeiro recebeu junto
com o pai e uma irmã aproximadamente R$ 137 mil da Assembleia Legislativa da
Paraíba, usados para tratamento no Hospital Sírio-Libanês. Esta verba seria
destinada às pessoas carentes do estado. E em maio do ano passado, o atual
ministro das Cidades fez um pedido à Negromonte para incrementar o programa
Minha Casa, Minha Vida na cidade de Pilar-PB. Embora a solicitação ainda não
tenha sido atendida, não é por acaso, que o município é administrado por sua
mãe, Virgínia Maria Veloso Borges. Isto para não falar que o ministro é neto do
fazendeiro Agnaldo Veloso Borges, acusado de vários assassinatos de camponeses
na década de 60.
As dificuldades não se
limitam ao âmbito da gestão. As votações dos projetos do governo têm sofrido
constantes impedimentos. Após algumas derrotas na Câmara, como o adiamento da
votação da Lei Geral da Copa e as intermináveis discussões e negociações que
envolvem o Código Florestal, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, tomou a
iniciativa de reunir os líderes da base governista para aliviar a tensão
política. Os encontros irão se repetir com alguns dos ministérios mais importantes,
como por exemplo, o do Planejamento.
Na área econômica, a
queda de 2,1% da indústria e de 0,13% do PIB em janeiro, têm elevado as
incertezas em relação ao desempenho da economia em 2012. Alexandre Tombini,
presidente do Banco Central, alheio aos fatos, declarou em evento nos Estados
Unidos que as empresas tiveram tempo suficiente para ajustar seus estoques. Acrescentou
ainda que as medidas monetárias adotadas pelo governo e os impulsionadores da
demanda doméstica, favorecerão a retomada do crescimento nos próximos meses. Será?
As previsões de crescimento permanecem entre 3% e 3,5%.
Preocupado com a
situação, o governo tenta dar uma mãozinha. Com o objetivo de aquecer a
economia, no primeiro semestre, foi prorrogado por mais três meses a desoneração
do IPI para os produtos da linha branca. O IPI também ficou menor para o setor
de móveis, laminados e luminárias. Ao lançar as medidas, o ministro declarou
que espera, como contrapartida dos empresários destes setores, a manutenção do
emprego de seus trabalhadores.
Outra preocupação de
Mantega é com os altos spreads bancários. Ao se reunir com o Banco do Brasil, a
Caixa e os maiores bancos privados do país, o ministro praticamente exigiu uma
redução dos spreads bancários. Dados mostram que, embora a taxa de juros tenha
apresentado quedas sucessivas, o mesmo não aconteceu com a remuneração
bancária: o spread geral avançou, de 26,9% em dezembro, para 28,4% em fevereiro.
O aumento da taxa de inadimplência foi a desculpa usada pelas instituições para
justificar a alta.
Para finalizar, um
assunto que tem se tornado recorrente é o processo de desindustrialização do
país. Pesquisas mostram que a participação da indústria no PIB caiu, de 35,8%
em 1984, para 15,3% em 2011. Em Porto Alegre, 4.000 pessoas participaram de uma
manifestação intitulada “Grito de Alerta”, que teve como objetivo chamar a
atenção para a questão. O protesto foi organizado por empresários e
trabalhadores e destacou as principais causas do problema: juros altos, real
valorizado, alta carga tributária e aumento expressivo das importações,
principalmente da China.
Que agenda seguir?
A neoliberal que acusa o
custo Brasil, a falta de infraestrutura, os altos impostos, a oneração da folha
salarial?
Ou a desenvolvimentista,
que implica em proteger o mercado interno através de uma política industrial
ativa?
[i] Professora
do Departamento de Economia da UFPB e pesquisadora do Progeb – Projeto
Globalização e crise na economia brasileira. (www.progeb.blogspot.com)
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