Semana de 02 a 08 de abril de 2012
Nelson Rosas Ribeiro[i]
Parece que o gigante
deitado em berço esplêndido aos poucos vai acordando. O berreiro de burgueses e
proletários unidos em defesa da industrialização começa a ser ouvido, graças à
amplificação provocada pela iminência das eleições. Como está não dá para
continuar, principalmente porque a situação internacional “está mais pra
carcará do que pra cegonha”.
Mesmo sendo repetitivos,
somos obrigados a chatear os leitores com a afirmação de que a situação mundial
continua a se arrastar sem solução. Nos EUA, não se consegue a decolagem e, ao
contrário, as notícias são de aumento do desemprego. Na União Européia (UE) a
coisa tende a piorar, e há quem tema uma nova queda generalizada da economia.
Diante deste perigo, o Banco Central Europeu (BCE) manteve a taxa básica de
juros em 1% ao ano (atenção: eu disse 1%!), enquanto aguarda os efeitos do
derrame de um trilhão de euros para aumentar a liquidez dos bancos. A dívida da
Espanha continua crescendo e deverá chegar a 79,8% do PIB, apesar das violentas
medidas de austeridade que foram aprovadas, com um corte de 27,3 bilhões de
euros no orçamento. Na Itália, as medidas de austeridade preocuparam até Mário
Monti, primeiro ministro nomeado após a saída de Berlusconi. Monti já se recusa
a adotar qualquer nova medida com medo da recessão e, juntamente com Christine
Lagarde, diretora-gerente do FMI, defende políticas mais favoráveis ao crescimento.
Esta preocupação generaliza-se e já surge um movimento de oposição à
austeridade, pois se teme que o aperto fiscal venha a agravar a recessão. Como
afirmou o ministro da Indústria italiano Corrado Passera, “com austeridade não
se cresce”. Cada vez mais, se isolam na posição intransigente, o BCE e o
governo da Alemanha.
Para os lados orientais,
a China continua a programar a sua desaceleração e, no Japão, o BC manteve a
taxa básica em 0,1%, e a Toyota, pela boca do seu presidente, pensa em suspender
a produção no país e transferir todas as suas linhas de produção para os
paraísos da miséria como o Vietnam, Laos, Malásia, Paraguai, etc, em busca de
“custos” menores, para aumentar a “competitividade” de seus produtos.
Diante desta situação
adversa e pressionado pelos péssimos resultados da economia nacional, o governo
Dilma toma, cada vez mais, decisões tentando criar uma política capaz de salvar
a indústria brasileira e retomar o crescimento. No dizer do economista Carlos
Lessa, o problema vem de longe, pois há quase três décadas que o crescimento do
país é medíocre caracterizando um “vôo de galinha” e a principal causa é a
supervalorização do real, o que é agravado pela total ausência de uma política
industrial. Tais fatos levaram a que, agora, em 2011, a participação da
indústria de transformação no PIB retrocedesse aos níveis de 1950, no início da
era JK.
A ação do governo para
conter a valorização do real já vem dando alguns frutos. No mês de março deste
ano, o Banco Central (BC) intereviu 25 vezes no mercado e nisto foi ajudado por
alguns fundos especulativos, que entraram comprando dólares no mercado futuro.
Além das intervenções, o BC tem agido através das medidas “macro prudenciais”,
com o aumento do IOF sobre o capital especulativo e outras. Os objetivos vêm
sendo parcialmente atingidos. Até o dia 23 de março, o BC comprou US$ 1,896
bilhões. No mesmo período do ano passado, as compras atingiram US$ 8,443
bilhões. Como resultado das políticas adotadas, o dólar subiu, de R$ 1,717 em
fevereiro, para R& 1,826 no final de março. O mercado começa a estimar que
o objetivo do BC é manter o dólar entre R$ 1,70 e R$ 1,90.
Além disso, o
governo atacou com um novo “pacotão”. As medidas tomadas incluem manutenção da
redução de IPI ampliando o número de produtos atingidos, desoneração da folha
de pagamento de pessoal, adiamento do recolhimento de alguns impostos
(PIS/Cofins), preferência de até 25% para compra de produtos nacionais nas
encomendas do estado, elevação dos recursos para o financiamento das
exportações, aumento dos financiamentos através do BNDES, do BB e da CEF,
redução drásticas dos juros nos financiamentos a pessoa física e jurídica, etc.
Só o BNDES receberá um aporte adicional do Tesouro de R$ 45 bilhões o que
elevará a previsão de desembolso do banco para R$ 145 a R$ 150 bilhões.
Segundo os
analistas as medidas adotadas terão um impacto reduzido na inflação, terão
pouco efeito nas contas públicas, mas não contribuirão para o PIB crescer mais
de 3,5%.
Vamos aguardar as
consequências e a reação da FEBRABAN, que dificilmente engolirá a queda dos
juros.
[i] Professor
do departamento de Economia, Coordenador do Progeb – Projeto Globalização e
Crise na Economia Brasileira progeb@ccsa.ufpb.br);
(www.progeb.blogspot.com).
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