Semana de 09 a 15 de abril de 2012
Lucas Milanez de Lima
Almeida[i]
Caros leitores, esta última semana não foi de paz no
nosso país. Por todos os lados, vimos cães ladrando contra a caravana oficial.
E não foram cães quaisquer, foram os até então intocáveis banqueiros, que se
estranharam com um de seus melhores amigos, o governo. E a causadora desta “desordem”
pública foi a própria presidente Dilma Rousseff, que, diferentemente dos
antecessores, Lula e FHC, mexeu no rendimento dos bancos. Vamos entender o que
aconteceu.
Como o Banco Central
mesmo diz: “A principal atividade dos bancos é a intermediação financeira – ou
seja, a rotina de tomar dinheiro de uma fonte e emprestar a outra. Os ganhos
dos bancos vêm da diferença entre a taxa que estas instituições pagam e aquela
que elas cobram dos seus clientes. Essa diferença é que é chamada de spread”.
Este percentual é dividido em três partes: uma parte vai para o pagamento de
despesas administrativas (como os impostos), outra vai para a cobertura da
inadimplência e o restante é lucro.
Não é de hoje que o Brasil é um paraíso para os bancos.
Desde 1994, com início o do Plano Real, estas instituições de crédito têm visto
seus cofres se encherem de dinheiro. Segundo dados do BC, entre 1994 e 1995, o
spread médio das operações de crédito para pessoa física e jurídica era
superior a 100%. A partir daí esta taxa começou a declinar, ficando abaixo dos
80%, já em 1996. Com exceção dos anos de crise (1997-1999, 2001-2003,
2007-2008, 2010-2011), a trajetória segue uma tendência de redução. Boa
notícia? Não! Numa lista de 137 nações, o Brasil ocupa atualmente o segundo
lugar no ranking dos maiores spreads, com uma taxa em torno de 30%. Perdemos
apenas para o Zimbábue, com 75%. É velha história: a grama do vizinho é mais
verde e mais bonita que o nosso capim seco.
Diante disto a presidente afirmou: “É muito importante a
gente perceber o que está em questão, hoje, no Brasil. Temos de desmontar
alguns entraves ao nosso crescimento sustentável e continuado. Esses entraves
podem ser assim resumidos na necessidade de colocarmos os nossos juros e
spreads incluídos nos padrões internacionais de custo de capital”. O que estará
em questão no Brasil hoje? E por que só agora? Além do mais, a exploração do
povo pelos bancos é o único problema da economia?
Os momentos de crise econômica sempre foram fundamentais
para as mudanças na condução das políticas econômicas. A FIESP registrou, em março
de 2012, 4,5 mil demissões, o pior resultado para o mês desde 2006. Com isso, o
emprego caiu 0,18% em São Paulo. No país, o consumo de máquinas recuou 13,7% no
primeiro bimestre de 2012, em comparações com 2011, consequência da elevada capacidade
ociosa da indústria, que não estimula o investimento. Somam-se a isso as
prévias dos empresários do setor industrial, que esperam um desempenho pífio no
primeiro trimestre. Para a Abimaq: “Se terminarmos o ano no empate com 2011,
teremos uma vitória”. Neste cenário, as projeções não poderiam ser diferentes:
a CNI reduziu a expectativa de crescimento da indústria para 2%. E este é
apenas um problema conjuntural, ou seja, momentâneo. Existe outro pior, o
estrutural.
Em 2011, a participação da indústria no PIB foi de 14,6%,
patamar semelhante à década de 1950. Yoshiaki Nakano, professor da FGV-SP,
chamou a causa deste retrocesso de “Trio Mortal”: uma das maiores taxas de
juros e cargas tributárias do mundo nas últimas duas décadas e a moeda mais
apreciada dos últimos 10 anos. Isto levou o economista Fernando Monteiro à
conclusão de que o problema da competitividade da indústria brasileira não é de
eficiência, mas de custos, o famigerado “Custo Brasil”.
Diante disto, o governo
resolveu mudar o rumo da caravana que, desde o início da década de 1990, carregou
a economia brasileira para 60 anos atrás. E esta é a “questão, hoje, no
Brasil”, que, com certeza, não se resume aos spreads bancários, mas passa por eles:
além das medidas de cunho fiscal, já tomadas, o governo reduziu o custo do
crédito ao consumidor nos bancos oficias (BB e Caixa Econômica). Bancos, como o
estadual Banrisul e o privado HSBC, já aderiram a esta ideia.
A questão agora é saber se, diante de problemas
conjunturais e estruturais, o caminho percorrido pelo país, hoje, é apenas um
atalho para o crescimento momentâneo da indústria ou o início de uma nova
jornada e se os cães ferozes, que ladram por meio dos mais variados tipos de
mídia, vão deixar a caravana do governo passar.
[i] Professor
do Departamento de Economia da UFPB e pesquisador do Progeb.
(www.progeb.blogspot.com.)
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