Semana de 7 a 13 de maio de 2012
Rosângela Palhano Ramalho
[i]
Há algum tempo, caro leitor, esta coluna relata as
incertezas quanto à prometida retomada do crescimento brasileiro. Os resultados
para o terceiro trimestre não são dos melhores. Embora a Confederação Nacional
da Indústria (CNI) tenha divulgado um aumento do faturamento real na indústria
de transformação de 0,9% entre fevereiro e março, elevação de 0,4% nas horas
trabalhadas na produção e de 0,3% no nível de emprego, as perspectivas para a
indústria este ano são muito ruins. O Boletim Focus, relatório de mercado do
Banco Central, por exemplo, já revela uma queda da projeção de crescimento da
indústria, de 2%, para 1,92%, em 2012. A Quest Investimentos já é mais pessimista:
reduziu a sua expectativa, de 1,5%, para 1%. Tal pessimismo é motivado pelos
últimos números da indústria apresentados pelo IBGE. O levantamento da Pesquisa
Industrial Mensal (PIM) revelou, em março, queda da produção industrial em 18
das 27 atividades pesquisadas. No acumulado do ano, a retração chega a 3%. O
emprego na indústria também caiu. O índice recuou 0,3% em janeiro, em fevereiro,
cresceu apenas 0,1% e caiu 0,4% em março, número que contrasta com o da CNI.
Para a indústria do
Sudeste, que representa 60% da produção nacional, o IBGE registrou, no primeiro
trimestre do ano, queda de 6,2%, em São Paulo, 6,8%, no Rio de Janeiro, 2,4%,
no Espírito Santo e 1,4%, em Minas Gerais. Observando os dados por setores
industriais, confirma-se que, na região, a indústria automobilística deu a
maior contribuição para esta queda, seguida pela indústria extrativa e pela
siderurgia.
É fato que, desde o segundo semestre do ano passado, a
indústria automobilística passa por dificuldades. A produção de veículos caiu
15,5% em abril. Segundo a Anfavea, o giro dos veículos no pátio das montadoras e
concessionárias é de 43 dias. No quadrimestre, as vendas caíram 3,4%,
principalmente, segundo os fabricantes, em virtude do aumento da inadimplência.
A taxa de inadimplência acima de 90 dias, pelos dados do Banco Central, está em
5,7%, a maior da série produzida pela instituição. O mau pagador, então, é apontado
como o inibidor da concessão de crédito neste setor.
Finalizados os balanços
trimestrais, especula-se sobre os resultados a serem apresentados. Cogita-se
que a Petrobras, neste período, apresente queda de 27% no lucro líquido. Já a
CSN (Companhia Siderúrgica Nacional) divulgou uma queda do lucro líquido de
82,1% no primeiro trimestre, devido à fraca demanda interna e aos baixos preços
do minério de ferro.
Diante desta realidade,
não restou alternativa ao Ministério do Desenvolvimento, Comércio e Indústria senão
lamentar. O secretário executivo do órgão, Alessandro Teixeira, declarou que o
primeiro semestre deste ano será, para a indústria, um dos piores da história.
O setor industrial,
embora venha perdendo peso na determinação do PIB, é o setor mais dinâmico da
economia, por produzir um efeito de arrastamento muito grande nos serviços e na
agropecuária. Em meio à desaceleração, a indústria clama por soluções e chama
de paliativas as medidas tomadas pelo governo em relação ao câmbio e ao Programa
Brasil Maior.
Por outro lado, analistas
concordam que a política industrial está equivocada, pois não ataca o problema
principal do setor, que é a perda de competitividade. Ou seja, segundo eles, a
questão é estrutural, típica de uma sociedade que escolheu consumir a poupar!
Divergências à parte, o fato
é que as previsões de crescimento do PIB vêm sendo revisadas. O Credit Suisse
aposta em um crescimento de 2,5%. O governo, através do Ministério da Fazenda,
que estimava uma taxa de 4,5%, e do Banco Central, que projetava uma taxa de
3,5%, vem reduzindo as previsões para abaixo de 3%. Provavelmente os 2,7% do
ano passado se repetirão.
Os últimos números do
IPCA, indicador da inflação, mostraram, entre março e abril, um aumento de
0,21% para 0,64%. Seis dos nove grupos levantados pelo IBGE apresentaram alta.
Com isto, volta-se a especular a respeito da próxima decisão do Copom. A
presidente agora terá que lidar com dois incômodos: o provável resultado pífio
do PIB este ano e o retorno das discussões acerca da autonomia do Banco
Central, em virtude da divulgação dos últimos números da inflação.
[i] Professora
do Departamento de Economia da UFPB e pesquisadora do Progeb – Projeto
Globalização e Crise na Economia Brasileira. (www.progeb.blogspot.com)
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