Semana de 14 a 20 de maio de 2012
Nelson Rosas Ribeiro[i]
Duas notícias no campo político ocuparam completamente
todas as manchetes da semana: a instalação da Comissão da Verdade e a CPI do
Carlinhos Cachoeira.
A Comissão da Verdade assanhou o vespeiro dos velhos
torturadores entocados nos clubes do exército, marinha e aeronáutica. Em tom de
ameaça, com saudade dos velhos tempos, vociferaram contra a Comissão e
pretendem instalar outras comissões para “fiscalizar” as apurações que serão
feitas. Sem postos de comando, procuram matreiramente envolver os novos
oficiais e comprometê-los com a defesa dos crimes que cometeram, invocando uma
solidariedade corporativa. Por outro lado, várias forças sociais
manifestaram-se em apoio às investigações, na busca do restabelecimento da
verdade histórica, que aponte as responsabilidades, para o conhecimento da
sociedade. Entre estas forças destacou-se o “Levante popular da juventude”, organização
de jovens surgida no Rio Grande do Sul que vem promovendo o que chamam de
“esculacho”, manifestações em frente às residências de torturadores, que são
localizados e têm seus endereços divulgados pela internet.
A CPI do Cachoeira tem promovido a divulgação do tamanho
da corrupção nos meios políticos e na administração pública. Pelo andar da
carruagem, não escapará nenhum dos poderes da nação e nenhum dos partidos
políticos. Os escândalos, que aparecem a cada dia, envolvem empresas,
licitações, contratos em andamento com os governos estaduais, etc. O pânico
está mobilizando as lideranças políticas do país para uma gigantesca operação
abafa. É de se temer uma solução do tipo PC Farias (nos tempos de Collor), com
a queima de arquivo, ou uma monumental pizza.
Com todas estas novidades, quase não sobrou espaço para
as notícias econômicas. Aliás, pouco se tem a dizer senão acrescentar fatos
negativos à frágil situação mundial e nacional, que vão como a cantiga da
perua: pió, pió, pió, pió.
A economia americana andando de lado, nem ata nem desata,
e a dívida pública do país ameaça novamente bater no teto máximo permitido, até
o final de 2012, deixando o presidente Obama refém do congresso. A economia da
China surpreende pela negativa. A desaceleração está sendo maior do que se
esperava, com fortes repercussões no preço das commodities, que apresentam uma
tendência para a queda, provocando a fuga dos fundos especulativos das aplicações
em papeis ligados a estes bens. Receando a queda dos preços, procuram aumentar
as posições vendidas.
A situação da economia europeia é cada vez mais
complicada. Se não fosse a Alemanha, com seus 0,5% de crescimento, o PIB da
zona do euro teria sido negativo no primeiro trimestre, e, como já o foi
(-0,3%) no último trimestre de 2011, a zona estaria tecnicamente em recessão. A
situação torna-se mais delicada com a eleição do socialista Hollande, na
França, segunda economia da zona.
Aguarda-se com ansiedade o resultado do encontro que o novo dirigente
terá com a toda poderosa Angela Merkel, da Alemanha, com seu prestígio abalado
pela última derrota eleitoral. A
situação da Grécia é cada vez mais caótica, e o que se discute é se o calote
será ordenado ou desordenado. A hipótese da saída da zona do euro torna-se cada
vez mais considerada e já é admitida pelo Banco Central Europeu (BCE). Teme-se a corrida aos bancos e o processo de
contágio para o resto da Europa. A situação do sistema bancário mundial já é
delicada, e estima-se que os 29 maiores bancos do mundo necessitariam de uma
ajuda imediata de US$ 566 bilhões para se adequarem às resoluções de Basiléia
3.
Neste ambiente, no Brasil, apesar das medidas tomadas
pelo governo para salvar a indústria nacional, que já provocaram a
desvalorização do real frente ao dólar; apesar da queda dos juros e do aumento
da oferta de crédito; apesar da redução dos impostos, a situação continua a se agravar,
e não há sinais de recuperação da economia. As medidas tomadas contra o capital
financeiro espantaram os parasitas da especulação internacional, e a enxurrada
de dólares parece ter sido contida. No entanto, subestimando a integração do
Brasil na economia mundial, a presidente Dilma e o ministro Mantega continuam
confiantes no arsenal de que dispõem para a recuperação. A presidente Dilma
afirma que estamos 100%, 200%, 300% preparados, e o belicoso ministro Mantega
orgulha-se de ter “bala na agulha” para o combate.
Coitados dos economistas! Pensam que mandam na economia e
enganam os capitalistas!
Esquecem que estamos vivendo a dura realidade da
globalização do mundo capitalista em crise. E dela ninguém vai escapar.
[i] Professor
do departamento de Economia, Coordenador do Progeb – Projeto Globalização e
Crise na Economia Brasileira progeb@ccsa.ufpb.br);
(www.progeb.blogspot.com).
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