Semana de 18 a 24 de junho de 2012
Eric Gil Dantas [i]
O banco suíço Credit Suisse, em sua última projeção,
diminuiu sua estimativa para crescimento do PIB brasileiro em 2012, de 2,0%,
para 1,5%. Tal notícia irritou bastante o ministro da Fazenda, Guido Mantega,
que considerou “uma piada” e ainda acrescentou que “vai ser muito mais do que
isso”. Será?
A “nova classe
média”, que o governo tanto proclama como o motor do crescimento brasileiro,
parece dar sinais de problemas na engrenagem. A inadimplência do consumidor no
país, de abril a maio, voltou a subir com força, o que mostra um grande
comprometimento da renda das famílias brasileiras com dívidas. Segundo dados da
Serasa Experian, o índice de inadimplência saltou 6,2%, chegando ao maior
patamar da série iniciada em 1999. Em São Paulo, o nível de endividamento
também chegou ao seu recorde. Em maio, o número das famílias que assumiram ter
contas em atraso saltou, dos 14,4% obtidos no mesmo mês do ano passado, para
21,5%. Apesar disto, a demanda por crédito aumentou em 14%, com o maior aumento
entre os que recebem até R$500,00 mensais. Isso evidencia que o endividamento é
o meio que estes novos consumidores têm para acessar o mercado.
Na indústria, as coisas ainda estão piorando. Apesar do
pacote de estímulos dado pelo governo, nas últimas semanas, os empresários
avaliam que não foi o bastante, o que se expressa na queda dos índices de
confiança da CNI e da FGV. Por essa razão, a Associação Nacional de Fabricantes
de Produtos Eletroeletrônicos (Eletros), como medida de estímulo ao setor,
pediu ao ministério da Fazenda a prorrogação do corte do Imposto sobre Produtos
Industrializados (IPI), em vigor deste dezembro do ano passado e que vencerá no
final do mês de junho. No entanto, como o próprio presidente da Eletros, Lourival
Kiçula, reconhece, a antecipação das compras, provocada por aquele estímulo,
agora, está provocando a desaceleração das vendas.
Outro setor da indústria que vem sofrendo é o de
caminhões. A Mercedes já iniciou o seu regime de “layoff”. Pela primeira vez em
50 anos de história no Brasil, a sua fábrica de São José dos Campos suspendeu
os contratos de aproximadamente 1,5 mil operários por um prazo que pode chegar
a cinco meses. Os dados da Anfavea, entidade que representa as montadoras,
mostram recuo de 12,5% nas vendas e de 32,8% na produção de caminhões até maio.
Além da Mercedes, a MAN (com a marca Volkswagen), a Volvo e a GM também
adotaram suas medidas de contenção, com demissões voluntárias, férias coletivas
e paradas programadas.
Apesar disto, mais otimista do que a Credit Suisse, o
ex-ministro Delfim Netto ainda acredita em um crescimento de 2%, se a economia
brasileira acelerar com força, nestes próximos trimestres.
Nas economias centrais, as perspectivas também não estão
otimistas. Segundo o secretário-geral da OCDE, Angel Curría, o crescimento será
fraco nos próximos 5 a 10 anos, com alto desemprego, desigualdade, déficit e
endividamento público.
Na Europa, a Espanha vem se consolidando como a bola da
vez, depois da Grécia. O Financial Times disse que o acordo dos governos da
zona do euro, para custear a recapitalização dos bancos espanhóis, ainda não
afastou os temores sobre a quarta maior economia da zona. O pacto envolvia uma
linha de crédito de € 100 bilhões ao país. Mas, para uma operação integral, o
número seria algo próximo a € 500 bilhões. Com esta expectativa, os espanhóis
têm cada vez mais dificuldades para refinanciar sua dívida pública, pagando
quase duas vezes mais juros do que no mês de maio. O problema é tamanho que o
economista-chefe do banco holandês Rabobank Internacional diz que a “ruptura na
zona do euro é questão de semanas”.
Nos EUA, o emprego ainda continua frágil, o orçamento
público duvidoso e a possibilidade do contágio da crise da zona do euro,
latente, o que obrigou o FED (o BC dos EUA) a garantir que está pronto para
agir e adotar as medidas necessárias.
Diante desta conjuntura é que devemos fazer a pergunta:
onde está a piada sobre o PIB? Nos 1,5% do Credit Suisse ou nos 4% do ministro
Mantega?
[i] Economista
e pesquisador do Progeb – Projeto Globalização e Crise na Economia Brasileira (progeb@ccsa.ufpb.br);
(www.progeb.blogspot.com).
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