Semana de 11 a 17 de junho de 2012
Lucas Milanez de Lima
Almeida[i]
No dia 13 de junho do presente ano, iniciou-se a
Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável, que tem como
objetivo “a renovação do compromisso político com o desenvolvimento
sustentável, por meio da avaliação do progresso e das lacunas na implementação
das decisões adotadas pelas principais cúpulas sobre o assunto e do tratamento
de temas novos e emergentes”. Este é o Rio +20. O resultado esperado é um
consenso em torno de um sistema econômico capaz de satisfazer as atuais
necessidades dos cidadãos e que, ao mesmo tempo, garanta esta capacidade às
gerações futuras.
Muitos diriam que isto é impossível, pois, diante dos
recursos escassos e das ilimitadas necessidades humanas, quem estaria disposto
a abdicar de seu bem estar atual para que outra pessoa, no futuro, pudesse desfrutar
de um consumo, no mínimo, razoável? Mas, será que este ponto de vista é
irrefutável?
Começo fazendo a seguinte pergunta ao leitor: você é
insaciável? Você acha que é impossível satisfazer todas as suas necessidades? Talvez,
num primeiro instante, dá até para acreditar que somos plenamente saciáveis.
Mas sempre vem em nossa mente aquele carro, aquela casa, aquela roupa, etc. Logo
passamos a achar que nossas necessidades são ilimitadas. Mas ainda insisto:
você realmente precisa daquele carro, daquela casa ou daquela roupa? Por que
você precisa deles? É uma necessidade sua ou do meio no qual você vive? Sim,
porque, por exemplo, aqui no Brasil, muitas pessoas têm a necessidade de
assistir futebol, já nos EUA, as pessoas têm a necessidade de assistir
Baseball. Ou mesmo, de um ano para outro, as pessoas têm a necessidade de usar
azul, depois verde, depois bege... Quem será o responsável por isso? Para
respondermos esta questão, devemos saber por que os recursos são escassos.
O ser humano, ao trabalhar, cria riqueza sob várias
formas: carros, casas, roupas, etc. Ela, por sua vez, pode ser vista sob um
duplo aspecto: pelo qualitativo, que está ligado à capacidade que o objeto tem
de satisfazer as necessidades do homem; e pelo quantitativo, representado pelo
valor do produto. Pois bem, pergunte ao trabalhador ou empresário, ou pessoa de
sã consciência, qual a finalidade de se criar carros, casas, roupas? Alguém
duvida de que o objetivo é ter lucro? Mas, sem um produto qualquer não haverá
valor, nem riqueza, embora seja indiferente se o produto for alimentos ou
bebidas. Não importa o tipo de mercadoria a ser produzida, desde que se obtenha
lucro. Mas, se é por meio da venda das mercadorias que se obtém este lucro, por
que será que vemos e ouvimos em todos os lugares, que nós precisamos ter uma
casa, um carro ou uma roupa diferente da que temos?
Pois bem, se a riqueza fosse produzida com o objetivo de
dar às pessoas os meios necessários a sua sobrevivência, teríamos um limite:
quando todos estivessem satisfeitos, parava-se de produzir. Porém, qual o
limite para a obtenção de lucro (valor)? Não há limite! Quem está satisfeito
com o valor que tem hoje no bolso? Além do mais, para obter lucro
ilimitadamente é necessário produzir mercadorias ilimitadamente, por isso
“precisamos” ter necessidades ilimitadas, para consumirmos as ilimitadas
mercadorias. Mas, para criar mercadorias é necessário
utilizar os recursos, e a consequência disto é trágica, pois, mais cedo do que
tarde, chegaremos ao esgotamento da Terra.
Até os recursos considerados renováveis estão em xeque,
pois a população já consome 50% a mais do que a terra é capaz de renovar.
Enquanto a população mundial aumentou em 2,2 vezes, entre 1960 e 2010, o
consumo de mercadorias aumentou 6 vezes. O pior é que nem todos os países são
os responsáveis por isso, mas não deixam de pagar. Segundo Hélio Mattar, do
Instituto Akatu e defensor do capitalismo, “Apenas 16% da humanidade são
responsáveis por 78% de todo o consumo. Se todo o mundo gastasse como os
habitantes mais ricos do planeta, seriam necessários quase cinco planetas”. Ou
seja, se 84% dos homens vivem com 22% da riqueza, para quê e por que os outros
têm tanto?
Talvez, existam duas maneiras possíveis de se começar a
evitar o colapso da natureza e do homem: 1) manter o atual, e concentrador,
sistema econômico e, mesmo com todas as mazelas, transformar a preservação do
planeta em mercadoria, e como tal, lucrativa; ou 2) mudar a forma como se
produz e distribui a riqueza, levando em consideração o fato de que nós,
animais, somos parte de um mesmo sistema, onde cada um dos elementos é
respeitado de acordo com as necessidades de manutenção da sua espécie.
[i] Professor
do Departamento de Economia da UFPB e pesquisador do Progeb.
(www.progeb.blogspot.com.)
Um comentário:
http://www.corecon-pb.org.br/new/post.php?id=897
Prof. Lucas, teria como o Sr. fazer uma divulgação do Encontro para os Alunos de Economia! o Presidente do Conselho Regional de Economia Sr. Antonio Cavalcante Fillho ficaria grato!
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