Semana de 21 a 27 de maio de 2012
Lucas Milanez de Lima
Almeida[i]
Há algumas semanas que estamos batendo no mesmo ponto: o
circo está pegando fogo. Os artistas são: PIIGS adestrados, que, revoltados
contra seus adestradores, vão parar na corda bamba; Tigres Asiáticos, que se
parecem cada vez mais com gatinhos de madame; malabaristas se transformando em
“desequilibristas”; mágicos que não conseguem tirar coelhos da cartola; contorcionistas
que não podem se virar. Uma tragédia! O pior é que a situação desta semana que
passou não melhorou nada. Pelo contrário, tudo se agravou.
A Grécia está com apenas um dedinho na corda bamba do
Euro. Analistas de todo o mundo garantem que é apenas uma questão de tempo para
que o país abandone a moeda. Questão de tempo mesmo, pois se espera que ela
saia nas 46 horas que separam o fechamento da última bolsa no ocidente, numa
sexta-feira, e a abertura da primeira bolsa no oriente, na segunda-feira
seguinte. O objetivo é aproveitar o fim de semana para não haver uma propagação
dos problemas gregos para o “mercado”, pelo menos por alguns dias...
Mas, a União Europeia já sinalizou que não quer a saída
da Grécia do espetáculo. O problema é no mínimo curioso: se, por um lado, for
muito dolorosa a saída, a moeda única pode perder sua credibilidade e força;
por outro lado, se for muito fácil abandonar o Euro, existe o temor de que
outros países, seguindo o exemplo, façam a mesma coisa e a união monetária se
enfraqueça. De qualquer maneira, há uma perda para a moeda.
E a solução dos problemas parece um globo da morte, onde
cada um vai para um lado, se arriscando a bater no outro. A indignação do povo,
que inventou de reagir aos planos de socorro que se apoiam nos ombros dos
trabalhadores, resultou na eleição de vários políticos que defendem o estímulo
da demanda, ao invés da supressão, como saída da crise. Por sua vez, a
Alemanha, que já quis dominar a Europa através das guerras e agora quer
dominá-la através do Euro, não admite qualquer tipo de política econômica que
não seja de austeridade. Apesar da OCDE pedir o uso de “bazucas” aos
policymakers europeus para resolver os problemas por lá, novas medidas
financeiras estão sendo dificultadas. Semana passada, tentou-se organizar uma
forma de financiamento dos países europeus por meio do chamado Eurobônus, um
título de dívida que ficaria sob a responsabilidade dos países do grupo. O
problema é que, além da Alemanha, Holanda, Suécia e Finlândia não aceitaram o
rebaixamento ao nível de países com alto risco de calote, como Itália, França e
Grécia. Por exemplo, enquanto a Espanha captou recursos a 6%, a Alemanha
conseguiu vender títulos a uma taxa de juros de 0,07% ao ano.
A situação é tão ruim que até os asiáticos estão
sofrendo. Na China, já é dada c’omo certa a redução da taxa de crescimento do
PIB em 2012, de 8,4%, para “apenas” 8,2%. Diante desta expectativa, o governo
chinês já admite “adotar de maneira pró-ativa políticas e medidas para expandir
a demanda”. No Japão, a agência de classificação de risco Fitch rebaixou a nota
da divida pública para A+, e com perspectivas futuras negativas.
Andando um pouquinho mais para a direita no mapa,
chegamos às Américas. Lá (quer dizer, aqui) a situação não é muito diferente.
Nos EUA, como em qualquer lugar do mundo, a economia é a principal preocupação.
Em pesquisa realizada pelo Washington Post e ABC News, os estadunidenses
colocaram a atividade econômica como sua maior preocupação para as eleições de
novembro. Não é para menos. A taxa de desemprego está em 8,1%, três pontos
acima do nível registrado no início da crise, em 2008.
Descendo até o Brasil, vemos que nossa economia parece um
trapezista, que sobe, desce, cai, mas não cai: os estoques da indústria estão subindo, as empresas demitindo e concedendo férias
coletivas, as exportações caindo, o consumo diminuindo, etc., ou seja, a crise
está novamente se manifestando. Diante disto o pistoleiro Guido Mantega diz ter
“bala na agulha” para encarar o momento adverso. A presidente Dilma, por sua
vez, garantiu que o país está 300% preparado. O tiroteio, que já havia começado
com a redução dos spreads, se intensificou com as já criticadas medidas de
estímulo ao setor automobilístico, que, neste final de semana, bateu recordes
de vendas.
O circo está armado. O problema é que ele ainda está
pegando fogo. A diferença é que agora, alheios a toda esta tormenta, estão os
palhaços, que deveriam dar alegria ao público, mas estão em Brasília, trabalhando
como pizzaiolos nas investigações que ocorrem por lá.
[i] Professor
do Departamento de Economia da UFPB e pesquisador do Progeb.
(www.progeb.blogspot.com.)
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