Semana de 23 a 29 de julho de 2012
Rosângela Palhano Ramalho
[i]
Discutir a conjuntura econômica atual é como chover no
molhado. A situação econômica européia piorou na última semana. A Espanha teve
sua “saúde financeira” agravada, e os “investidores” ficaram um pouco mais
felizes diante do aumento da remuneração dos títulos do
país, de 7%, para 7,57%. Cidadãos espanhóis bateram panelas em frente à sede do
Partido Popular em protesto contra os novos aumentos de impostos e cortes de
gastos públicos. E os mesmos cidadãos só agora perceberam que os papéis adquiridos,
com nomes bastante atrativos, como as “participaciones
preferentes”, as “clausulas suelo”
e o “swap hipotecario”, rendem coisa
nenhuma, já que não podem ser resgatados ou remunerados com as taxas prometidas
pelas instituições.
A Grécia, que rolou sua dívida até agosto, como era mais
do que óbvio, será incapaz de honrar os compromissos e precisará receber a segunda
parcela do pacote de ajuda internacional já em setembro. A economia da China
provavelmente pousará no terceiro trimestre do ano com queda da taxa de
crescimento do PIB para 7,4%. Os EUA, por sua vez, estão em recessão segundo
alguns analistas, e não há perspectiva para sua recuperação.
As estatísticas só comprovam a imensa dificuldade da economia
internacional em avançar para a nova fase do ciclo econômico. A intervenção
econômica provocou um soluço e animou a economia por um curto período de tempo.
Agora, endividados, os países não são capazes de injetar mais recursos, e já se
fala em um arrastamento, por anos, de um ritmo lento de atividade econômica, o
que caracterizaria uma saída da crise em formato de L.
O Brasil continua a ser afetado pela situação mundial. Um
estudo da Associação de Comércio Exterior do Brasil mostrou que, em 2012, o
saldo comercial será de US$ 8 bilhões, o que representa uma queda de 76% em
relação aos resultados de 2011. O minério de ferro, principal produto da pauta
de exportação, apresentará queda de 22% no preço e de 5% na quantidade
exportada. Sem grandes novidades, o estudo aponta que nove dos 10 produtos mais
exportados pelo Brasil são commodities.
E, de uma lista dos 20 produtos, elas são 18. O nosso principal produto “manufaturado”
exportado é o óleo combustível, que não deixa de ser uma commodity. Estamos completamente conectados à crise internacional
via comércio.
Mas, é tarefa do governo tentar minimizar os efeitos da
crise, inclusive com discursos na mídia. Afinal, o mercado deveria reagir aos
bons discursos. Otimista, o presidente do Banco Central, Alexandre Tombini, declarou
que a economia brasileira já começa a dar sinais de reanimação e que, até o fim
do ano, o crescimento será acelerado. A taxa anualizada será de 4%, e a taxa de
inflação convergirá para a meta.
Bem, a realidade está um pouco distante do otimismo de
Tombini. A redução do IPI para o setor automobilístico, por exemplo, provocou
um aumento nas vendas, mas, apesar da queda dos estoques gerais por conta deste
aumento, a CNI já declarou que o primeiro semestre do ano está perdido. O
desconto no imposto só vigorará até 31 de agosto, e os fabricantes já pedem a
prorrogação da medida. Enquanto o governo cogitava a prorrogação em mais dois
meses, surgiram rumores de que a GM planeja demitir 1,5 mil trabalhadores da
unidade de São José dos Campos. A presidente Dilma Roussef, ao saber da notícia,
disse que os incentivos fiscais concedidos deveriam garantir a manutenção do emprego
dos brasileiros, o que, aliás, foi um compromisso assumido pelas empresas. O
Ministério do Planejamento convocou a Anfavea e exigiu explicações, dizendo que
os empregos devem ser mantidos não nesta ou naquela fábrica, mas que, no geral,
eles devem ser mantidos. Quem será que ganhará esta queda de braço?
O Caged (Cadastro geral de Empregados e Desempregados)
detectou uma desaceleração no mercado de trabalho. No primeiro trimestre deste
ano, o número de empregos criados caiu 24% em relação ao mesmo período do ano
passado. No semestre, a queda foi de 25,9%. Pelo visto, esta briga está
perdida.
Outra briga perdida parece ser a da redução dos spreads
bancários. Três meses após o governo anunciar a redução dos juros, uma simples observação
dos balanços bancários permite detectar a farsa. No Bradesco, de março para
junho, o spread caiu, de 11%, para 10,9% e, no Itaú, no mesmo período, a
redução foi, de 13,5%, para 13,4%. Queda bastante significativa em três meses,
não?
Sem alternativa, o governo continua tentando. A dúvida é
quanto aos resultados.
[i] Professora
do Departamento de Economia da UFPB e pesquisadora do Progeb – Projeto
Globalização e Crise na Economia Brasileira. (www.progeb.blogspot.com)
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