Semana de 02 a 08 de julho de 2012
Nelson Rosas Ribeiro[i]
As notícias são abundantes e todas confirmam a tendência
que vimos apontando em nossas análises de agravamento da crise mundial. A desaceleração
da produção industrial se generaliza nos EUA, na União Européia (UE), na China,
e até em países como a Alemanha, a Coréia do Sul, Taiwan, etc. A situação é tal
que provocou a ação simultânea de quatro dos maiores bancos centrais do mundo, reduzindo
suas taxas de juros: o Banco Central Europeu (BCE), o Banco da Inglaterra
(BoE), o Banco do Povo da China (BPoC) e o Banco da Dinamarca.
Nos EUA, mesmo com as medidas tomadas pelo governo Obama,
desesperado para ganhar as eleições, a situação não melhora. O FMI reviu para
baixo as suas previsões para o crescimento da economia. Espera-se que as taxas
de crescimento do PIB não ultrapassem os 2%. Lembramos que as taxas de juros do
Banco Central Americano, o Federal Reserve (Fed), já estão próximas a zero,
entre 0% e 0,25%.
Na China, diante do agravamento da situação, o Banco
Central tomou medidas cortando os juros e injetando, em um só dia, 143 bilhões
de yuans (US$ 22,6 bilhões) na economia, depois de já ter lançado outros 143
bilhões na semana passada.
A União Européia e particularmente a zona do euro,
continuaram sendo o epicentro da crise. O BCE, além de reduzir sua taxa básica
de juros de 1% para 0,75% (queda de 0,25%), reduziu também outras taxas como a
de depósitos, de 0,5% para 0%, e a de longo prazo, de 1,75% para 1,5%.
Justificando a medida, o presidente do BCE, Mario Draghi afirmou que a crise da
dívida levou a uma desaceleração generalizada atingindo mesmo os países mais
fortes. Com efeito, ao ritmo em que a indústria se contrai, o desemprego nos 17
países da zona do euro atingiu o nível recorde com a taxa de 11,1% e 17,561
milhões de desempregados. Seguindo o exemplo, o Banco da Dinamarca reduziu sua
taxa para 0,2%.
Na Itália, o déficit fiscal, no primeiro trimestre, foi
de 8% do PIB, superior aos 7% do mesmo período do ano passado. Com as mesmas
referências o gasto público cresceu 1,3% e a arrecadação caiu 1%. O primeiro
ministro Mário Monti, comprometido a reduzir o rombo até 2013, já prometeu
demitir 10% dos funcionários públicos e, logicamente, os sindicatos ameaçam com
greves gerais. Por seu lado, a França, para cumprir suas metas de equilíbrio
orçamentário terá de fazer cortes violentos o que se contrapõe às promessas
eleitorais do seu novo presidente Hollande.
Mas, o que isto tudo tem
a ver como o peru de Natal?
A questão é que estamos integrados em um mundo
globalizado e, como temos dito, estamos metidos igualmente nesta crise
globalizada, para o bem e para o mal. A economia brasileira é uma parceira
ativa neste processo e, por mais que o desejem, nem o ministro Mantega, nem o
governo, nem administradores e economistas juntos podem evitá-la. O máximo que
se consegue é amenizar e minorar os efeitos. No entanto, em vez de se procurar
defender os interesses dos trabalhadores, se tem protegido os interesses de uma
parcela ínfima dos capitalistas que dominam o setor financeiro.
Os dados mostram que a economia do país está se
degradando. A indústria desacelera (a utilização da capacidade instalada caiu
para 80,7%, o menor nível desde 2009) as exportações diminuem, a balança
comercial reduz os seus saldos, os estrangeiros retiram os capitais do país e os
saldos da balança de pagamentos estão comprometidos. O tsunami financeiro
acabou e o país deixou de ser o paraíso desejado pelos especuladores
travestidos de “investidores”. As ratazanas abandonam o navio quando o “peru de
Natal” é retirado da mesa. Segundo o ex-ministro Delfim Netto, o peru era o
Brasil com as taxas de juros mais altas do mundo e as facilidades oferecidas ao
capital estrangeiro. Com a redução delas e a política de repressão à
especulação a farra acabou.
Em declaração feita durante a semana, o ministro Mantega
reconheceu a gravidade da crise e, lembrando a expressão de Delfim, concluiu
enfático: “Aqui era ganhar dinheiro sem risco. Aí, de repente tiramos o peru.”
Só não explicou por que permitiu que o país servisse de
repasto para o capital financeiro durante tanto tempo e só agora lhe ocorreu
interromper o festim roubando-lhes o peru.
[i] Professor
do departamento de Economia, Coordenador do Progeb – Projeto Globalização e
Crise na Economia Brasileira progeb@ccsa.ufpb.br);
(www.progeb.blogspot.com).
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