Semana de 09 a 15 de julho
de 2012
Lucas Milanez de Lima
Almeida[i]
Inspirada pela 9ª Conferência Nacional dos Direitos da
Criança e do Adolescente, a presidente Dilma soltou a infeliz frase: “Uma
grande nação deve ser medida por aquilo que faz com as suas crianças e
adolescentes. Não é o Produto Interno Bruto, é a capacidade do país, do governo
e da sociedade de proteger o que é o seu presente e o seu futuro, que são suas
crianças e adolescentes. Nós temos de ter um país com jovens, adultos e
crianças com grande nível de escolaridade porque nós vamos disputar o que é a
economia moderna, que é a economia do conhecimento”.
Poderíamos aqui dizer que o tamanho do Brasil, segundo o
critério da presidente, está tão comprometido quanto os bicheiros e mensaleiros
de Brasília: quem é que ainda não ouviu falar da greve dos professores
federais? Greve esta que precisou de 57 dias para ser notada pelo governo. Apenas
no dia 13 de julho foi apresentada uma proposta arbitrária de aumento nominal
dos salários (que varia, de 24,4%, a 45%), deixando de lado todas as outras reivindicações
da pauta dos professores. Além disto, quem não ouviu falar do veto presidencial
à proposta do Congresso Nacional, que obrigaria a presidência, nos próximos 10
anos, a destinar o equivalente a 10% do PIB para a educação?
Poderíamos falar disto, mas não vamos. Diante das
palavras de Dilma, vamos explicar o porquê deste novo discurso.
A mudança veio para demonstrar que a queda de braço do
governo com a realidade econômica foi perdida, apesar do Ministério da Fazenda
manter em 4% a previsão oficial da taxa de crescimento do PIB brasileiro para
2012. Fontes do próprio executivo dão conta de que os 2,7% do ano passado já
não podem ser alcançados. Por sua vez, o Banco Central e o FMI estimam um crescimento
de 2,5%, enquanto a CNI prevê um valor de 2,1% e o “mercado” já fala em 1,9%.
A produção brasileira perdeu o fôlego já no início do
ano: comparando os quatro primeiros meses do ano de 2012 com o mesmo período de
2011; apenas os setores da agropecuária e do comércio e serviços aumentaram
seus empréstimos frente ao BNDES, enquanto os setores da infraestrutura e,
principalmente, da indústria recuaram. Na série livre de efeitos sazonais, a utilização
da capacidade instalada na indústria vem caindo, mês a mês, desde janeiro de
2012, atingindo seu menor patamar desde outubro de 2009.
Não é para menos. Os indicadores da atividade econômica
estão cada vez piores. As vendas do comércio varejista, por exemplo, recuaram
0,8%, de maio para abril deste ano.
Por outro lado, o déficit
da balança comercial da indústria cresceu 20% até maio, chegando a US$ 30,4 bilhões.
Já o emprego na indústria nos dá um quadro pior: entre janeiro e maio de 2012,
das 14 regiões pesquisadas, nove registraram saldo negativo na criação de
vagas. No Brasil, a quantidade de empregos já é 1,1% menor do que no início do
ano. A Fiesp estima que, em 2012, a indústria de transformação paulista irá perder
100 mil postos de trabalho.
Segundo Octavio de Barros, economista-chefe do Bradesco,
“a crise na indústria é absolutamente global e generalizada, marcada pela sobre
oferta de produtos manufaturados”, o que é verdade. O FMI e a OCDE já admitem
uma retração maior do que a anteriormente prevista na atividade mundial. A
China, por sua vez, terá que enfrentar seu “pibinho” de, no máximo, 7,5%. Este
será o menor patamar desde 2008, quando estourou a Bolha do Subprime. O Reino
Unido, por sua vez, apresentou sua terceira queda consecutiva no PIB
trimestral, que caiu 0,2% em relação ao primeiro trimestre de 2012.
Não bastassem os 28 milhões de empregos eliminados, os
US$ 4 trilhões perdidos na produção desde a quebra do Lehman Brothers e os 48
milhões de desempregados nos países ricos em maio deste ano, a Organização
Internacional do Trabalho (OIT) estima que, se os governos mantiverem suas
políticas de austeridade, 4,5 milhões de empregos serão perdidos na Zona do
Euro.
Diante de um cenário devastador, tanto interno como
externo, o Índice de Atividade Econômica do BC (IBC-Br), que é um indicador
mensal calculado pelo governo para o PIB, teve uma retração, entre abril e maio,
de 0,02%. Isto nos mostra que, seja pelo tamanho do PIB, seja pelo tamanho do
comprometimento do governo com a “economia do conhecimento”, o tamanho do
Brasil continua caminhando para um patamar insignificante.
[i] Professor
do Departamento de Economia da UFPB e pesquisador do Progeb.
(www.progeb.blogspot.com.)
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