Semana de 23 a 29 de agosto de 2012
Nelson Rosas Ribeiro[i]
Entra dia, sai dia; entra
semana, sai semana e tudo continua na mesma. Isto é o espelho da economia
mundial. Nada temos a mudar nas nossas análises. Apenas acrescentar fatos. Para
não aborrecer os leitores, referiremos apenas as manchetes.
A Grécia piora e pede mais
prazos e redução da penitência que lhe foi imposta: o país afunda na recessão.
A Espanha, com o sistema financeiro abalado e problemas sociais insolúveis,
adia o pedido formal de ajuda que implicaria em mais restrições. A Itália
aumenta o coro dos endividados que apelam ao Banco Central Europeu (BCE). O PIB
da zona do euro, que já havia caído 0,2% entre abril e junho, ameaça continuar
em queda no terceiro trimestre, configurando uma recessão. O PIB alemão cresceu
apenas 0,3% no segundo trimestre, e o Banco Central (BC) do país espera uma
piora na situação no segundo semestre. Apesar disso, diante do pânico geral, a
Alemanha conseguiu vender €4,083 bilhões em títulos com juros zero. A busca
pela segurança empurra os especuladores desesperados a aceitarem esta
remuneração. Os EUA continuam indefinidos. A única coisa que continua a crescer
entre os analistas é a preocupação com a desaceleração da China. Já se fala na
possibilidade de um “pouso forçado” de sua economia e, para complicar, o
déficit da previdência social do país contribui para ampliar as tensões
sociais.
Algumas esperanças, porém,
surgem no horizonte com as promessas do BCE de comprar os títulos dos países
europeus endividados e os rumores de mais um “afrouxamento monetário” do
Federal Reserve (Fed), banco central estadunidense. Isto foi o bastante para os
mega especuladores afiarem suas garras. Fala-se na existência de €60 bilhões de
euros já disponíveis para “aplicação” em créditos podres. A roda da ciranda
financeira não pode parar. Se algo sair errado, recorre-se aos BCs amigos.
A situação mundial tem
repercussões no panorama nacional. A economia rasteja no lamaçal das
dificuldades. No entanto, as eleições se aproximam, e urge mostrar ao
eleitorado um quadro econômico positivo, uma vez que a onda de greves dos
servidores públicos ameaça o prestígio do governo e o ambiente político está
tumultuado pelo julgamento do mensalão e pelas mancadas do ex-presidente Lula,
que deu para ameaçar ministros dos tribunais superiores de justiça e interferir
nas eleições locais do PT (veja-se São Paulo com o caso do Haddad).
A pretendida recuperação
da economia encontra dificuldades e os sinais de recuperação são tímidos,
apesar dos esforços da equipe econômica do governo. A luta pela redução dos
juros continua enfrentando a sabotagem dos bancos. A batalha pela estabilização
do câmbio está sendo renhida, mas tem conseguido manter o dólar dentro da faixa
de variação desejada ($R1,90 a $R2,10 reais). Novas desonerações fiscais estão
sendo preparadas e prometidas, juntamente com outras medidas de estímulo.
Para variar, algumas
nuvens negras da inflação pairam no horizonte, o que se reflete no movimento
dos especuladores, que tentam se livrar dos títulos indexados à Selic e
preferem papéis indexados à inflação.
Na semana, o governo
obteve duas grandes vitórias. A sua política econômica recebeu aplausos quase
unânimes dos empresários reunidos na cerimônia promovida pelo Valor Econômico,
para o lançamento do anuário “Valor 1000” em São Paulo. Boa parte deles
prometeu manter seus programas de novos investimentos para 2013, confiantes nos
resultados do governo Dilma.
A segunda veio do apoio
dos economistas reunidos na Fundação Getúlio Vargas (FGV), no 5º Encontro
Internacional da Associação Keynesiana Brasileira (AKB), em São Paulo. Várias
vozes se levantaram elogiando as políticas de contenção dos juros e controle do
câmbio praticadas pelo governo e alertando para o meio envolvente mundial
hostil ao projeto brasileiro de crescimento.
E a realidade tem comprovado esta situação. No mundo
globalizado, todas as economias estão interligadas e não haverá saída isolada
para ninguém. Estamos todos no mesmo barco. Ou nos salvamos juntos ou seremos
solidários no naufrágio.
[i] Professor
do departamento de Economia, Coordenador do Progeb – Projeto Globalização e
Crise na Economia Brasileira progeb@ccsa.ufpb.br);
(www.progeb.blogspot.com).
Nenhum comentário:
Postar um comentário