Semana de 27 de agosto a 02 de setembro de 2012
Eric Gil Dantas [i]
Há três meses, o ministro
da Fazenda, Guido Mantega, dizia ser uma piada a previsão de crescimento de
1,5% para o PIB brasileiro em 2012, feita pelo Credit Suisse. No entanto, nesta
última sexta-feira, o IBGE divulgou o resultado do crescimento desta variável
no segundo trimestre, em relação aos três meses anteriores: 0,4%. Em relação ao
mesmo período do ano passado, a taxa foi de 0,6%. Já a indústria teve queda de
2,4%, se comparado ao mesmo período de 2011, sendo o pior desempenho, o da
indústria de transformação: um retrocesso de 5,3%.
Depois da divulgação
destes números, Mantega ainda não quis fazer suas grandes previsões. A
realidade novamente colocou em xeque qualquer tentativa de mistificação da
conjuntura econômica feita pelo governo.
A lucratividade das
empresas está sendo afetada por este desaquecimento na economia. No conjunto
das 245 principais empresas listadas na bolsa, houve uma queda de 70% nos seus
lucros, constituindo o pior segundo trimestre desde 2002, segundo um levantamento
feito pelo Valor Econômico.
Já os estoques chegaram a
patamares recordes. Eles são os maiores desde 2008, pico da crise financeira
mundial. Em levantamento feito com dados de 200 companhias de capital aberto,
os estoques chegaram a R$141,58 bilhões no fim de junho, 8% a mais que o volume
de doze meses antes. No setor de transporte, que envolve empresas como a Gol e
a ALL, os números são mais preocupantes. Registrou-se um avanço de 79% dos estoques
em relação ao mesmo período de 2011.
Outra má notícia é que a
Vale deverá cortar cerca de 20% dos seus investimentos para 2013. Desanimada
com o preço do minério em queda até agora, o investimento da empresa deverá ser
R$4 bilhões a menos do que neste ano de 2012.
Tentando reverter a
situação na economia nacional, o governo continua com a aplicação de políticas
anticíclicas. Agora o BC, mais uma vez, cortou a SELIC em 0,5%, reduzindo-a
para 7,5% a.a. Mas, o COPOM avisa que poderá ser a última queda no ciclo de
afrouxamento monetário iniciado em agosto de 2011. Existe apenas espaço para
mais um corte de no máximo 0,25%, caso seja extremamente necessário.
O cenário internacional,
por sua vez, continua a não animar em nada nossas perspectivas futuras. A
China, principal parceira comercial do Brasil desde 2009, continua a
desacelerar. O PIB chinês cresceu apenas 7,6% no segundo trimestre, menor
avanço em três anos. Com isto, pelo quarto mês seguido, o lucro no setor
industrial caiu.
Ainda na Ásia, o Japão já
rebaixa suas projeções para o crescimento deste ano, quando provavelmente terá
uma recessão. O JPMorgan Securities prevê uma retração anualizada de 0,3% no
PIB japonês para o próximo trimestre. Já o BNP Paribas estima queda de 0,9%. Na
Coréia do Sul, os ventos contrários que afetam as economias asiáticas
derrubaram, em 6%, as importações dos sul-coreanos, demonstrando a perda de
impulso da demanda interna do país.
Na Europa, a Fiat anuncia
cortes da produção na planta italiana, devido à queda da demanda, colocando 2,5
mil empregados de licença. A Volvo, na Suécia, reduzirá a produção, de 57, para
52 veículos por hora. Estas duas seguiram a GM e a Ford, que também anunciaram
cortes de produção na Europa recentemente.
Já os problemas fiscais
ainda continuam os mesmos no velho mundo. A Catalunha pede socorro ao governo
central da Espanha para evitar calote, anunciando que necessitará de uma ajuda
de €5 bilhões. Em
Portugal, as coisas também não melhoraram. Os mais recentes dados orçamentários
mostram que a receita governamental está abaixo da meta, com queda de 3,5%, o
que alimenta temores da necessidade de um segundo socorro aos lusitanos por
parte da União Europeia. A coisa está tão feia que a temporada de caça à
sonegação fiscal, prática responsável pela evasão de €2 trilhões de euros por
ano aos cofres públicos, finalmente começou.
Mas
a caça a um Al Capone qualquer não será a salvação. Estamos mesmo condenados a
aguentar estas crises cíclicas enquanto vivermos no sistema
capitalista.
[i] Economista
e pesquisador do Progeb – Projeto Globalização e Crise na Economia Brasileira (progeb@ccsa.ufpb.br);
(www.progeb.blogspot.com).
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