Semana de 10 a 16 de setembro de 2012
Nelson Rosas Ribeiro[i]
A piora da situação
internacional, finalmente, está provocando a ação drástica das autoridades
responsáveis pelas políticas monetárias e fiscais dos governos de todo o mundo.
Nos EUA, o Federal Reserve
(Fed), banco central americano, decidiu intervir novamente, no mercado, sob a
forma de um novo “afrouxamento monetário” (quantitative easing), o QE3. Isto
significa que vão imprimir mais dólares para “aumentar a liquidez do mercado”.
O Fed pretende retomar a compra de títulos podres até um montante de US$ 40
bilhões, por mês, sem prazo definido para terminar, ou melhor, até que o
“mercado” se recupere.
E não ficou só. O Banco
Central Europeu (BCE), vencendo a resistência dos conservadores alemães, também
passará a intervir no mercado comprando títulos das dívidas soberanas dos
países mais necessitados, os pigs, em primeiro lugar. Com isto pretende dar
credibilidade aos títulos e assim reduzir os juros pagos pelo financiamento
dessas dívidas, no “mercado”, é claro. O grande empurrão para isto foi a
decisão da Corte Constitucional da Alemanha, que aprovou a criação do European
Stability Mechanism (ESM), fundo de emergência temporário destinado ao socorro
aos mais necessitados. Este fundo disporá de €$ 500 bilhões para cumprir sua
missão. Mas o problema europeu não está resolvido com isto. Comenta-se que,
destes 500, €$100 bilhões estão comprometidos com o socorro aos espanhóis,
restando apenas €$400 bilhões para todo o resto, incluindo a Itália. A pior
notícia, porém, vem das previsões sobre o crescimento do Produto Interno Bruto
(PIB), feitas pelo BCE. Segundo estas, o “crescimento”, para 2012, será
negativo, entre 0,2% e 0,3%. Para 2013, o BCE prevê entre, 0,3 negativos e 1,4%
positivos. Os leitores sabem que o “crescimento negativo”, para os economistas,
é mesmo DECRESCIMENTO. O desespero atinge todos os BCs do mundo e o lamento é
geral: os manuais de economia não estão fornecendo as respostas para superar a
crise. Apesar de não haver declaração explícita, nas entrelinhas, torna-se
evidente que todos admitem que ela é de superprodução, e o que se pretende é
provocar o aumento da demanda, quer das empresas, dos governos ou das famílias.
Já há quem defenda que, para obter este resultado, todas as soluções são
válidas, mesmo as mais radicais simbolizadas no “jogar dinheiro de
helicóptero”.
Apesar dos esforços do
governo Dilma, esta situação está tendo fortes repercussões, no Brasil. Mesmo
aparentando haver certa tranqüilidade, no mercado de trabalho, a produção
industrial está estagnada, alguns setores demitem, o crédito é limitado, etc.
As preocupações do governo cresceram ao ponto de conduzir o teimoso ministro
Mantega a rever as suas previsões para o crescimento do PIB, deste ano. No
final do ano passado, o ministro afirmava que o crescimento deveria chegar
perto dos 5%. Já em janeiro, quando o mercado calculava em 2,9%, Mantega
reduziu suas previsões para algo entre 4,0% e 4,5%. A partir de junho, o BC já
calculava o número em 2,5%, sob as críticas do ministro de que os cálculos
estavam mal feitos e ele acreditava que superaríamos os 2,7%, de 2010. E quando
o Banco Credit Suisse estimou em 1,5% a taxa, Mantega considerou-a “uma piada”.
Logo depois o ministro passou a fixar seu número mágico em 3%. Finalmente
Mantega caiu do cavalo, ou melhor, caiu na real. Reduziu sua previsão, de 3%,
para 2%, quando o mercado já as estima rigorosamente em 1,62%. Onde está a
piada?
A solução, agora, é
correr contra o prejuízo. Está justificado assim, o pacote de bondades com que
o governo presenteia o setor empresarial: prorrogação das reduções de impostos,
desoneração das folhas de pagamento, mesmo a custa do “rombo da previdência”,
(que ninguém fala), redução dos juros, liberação de linhas de financiamento,
redução das tarifas de eletricidade, etc. Justifica-se a irritação da
presidente Dilma, com as críticas do “mercado” e de algumas empresas do setor
elétrico, que reagiram mal ao novo plano de redução das tarifas que,
convenhamos, beneficia a todos.
Haja ingratidão!
[i] Professor
do departamento de Economia, Coordenador do Progeb – Projeto Globalização e
Crise na Economia Brasileira progeb@ccsa.ufpb.br);
(www.progeb.blogspot.com).
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