Semana de 17 a 23 de setembro de 2012
Eric Gil Dantas [i]
Em 2010, assistimos o
primeiro capítulo da saga da “guerra cambial”, quando o Federal Reserve (FED),
banco central estadunidense, injetou US$1,725 trilhão na economia dos EUA. Agora,
no retorno desta guerra, o FED não está sozinho.Na artilharia de frente temos o
reforço da terceira maior economia do mundo. O Banco do Japão (BoJ) se tornou o
mais recente BC a afrouxar a política monetária, com um programa de compra de
ativos que deverá adquirir 80 trilhões de ienes (US$1 trilhão), para ajudar a
moribunda economia nipônica.
Além destes dois BCs, outros
dois são aguardados para compor a frente de combate: o Banco Central Europeu
(BCE) e o Banco da Inglaterra. O BCE disse, no início do mês, estar preparado
para comprar títulos dos países da zona do euro que precisem de ajuda para
controlar seus custos de captação. O anuncio das medidas de estímulo a serem
tomadas pelo BC britânico é também aguardado para breve.
Aqui, o contra-ataque já
foi armado. O governo brasileiro tomou medidas para evitar que as possíveis
ondas resultantes do afrouxamento do FED contribuam com a valorização do real,
promovendo os chamados swaps cambiais reversos. Além disto, Mantega já voltou a
atacar o QE3 em entrevista ao Financial Times. No Peru, já foram acionadas
estratégias para também desvalorizar sua moeda, o sol peruano. Já a Turquia
anunciou corte maior do que o esperado, nos juros.
Este novo capítulo
demonstra que a crise global ainda está forte. O economista estadunidense
Joseph Stiglitz, prêmio Nobel em 2001, declarou em entrevista que a crise está
longe de acabar. Ele lembrou que parte da população americana ainda tem
dificuldades para encontrar emprego em tempo integral, ocupando-se apenas com
empregos periódicos, o que esconde uma situação ainda pior do que os 8% de taxa
oficial de desemprego. A isto somamos a queda da produção mensal na indústria dos
EUA de 1,2% em agosto, a maior queda desde março de 2009, e a queda de 1% na
utilização da capacidade instalada da indústria.
Na zona do euro, o Índice
dos Gerentes de Compras (PMI) Composto – que agrega dados do setor industrial e
de serviços – caiu para 45,9 em setembro, ante os 46,3 pontos de agosto,
segundo a Markit Economics, indicando contração (por ser menos que 50 pontos).
É o ritmo mais acelerado de declínio desde junho de 2009.
A China e o Japão também
mostraram enfraquecimento. O indicador antecedente da atividade industrial do
HSBC sugere que o setor deve se contrair, aumentando os sinais de que a
economia chinesa está desacelerando pelo sétimo trimestre consecutivo. No
Japão, as vendas externas recuaram 5,8%, o terceiro declínio seguido, o que fez
o país ter mais um déficit comercial. Além disto, os embarques para a Europa
caíram mais de 20% e para a China cederam quase 10%.
No Brasil, as incontáveis
desonerações feitas pelo governo parecem aliviar um pouco os estoques da
indústria, fazendo-os recuar 0,5% em agosto, ante julho. Bráulio Borges,
economista-chefe da LCA, já prevê alta entre 1,5% e 2% para a indústria em
agosto. Esta declaração encorpa as projeções do Ministério da Fazenda, que já estima
uma aceleração do PIB nos dois últimos trimestres de 2012, com o crescimento de
1% e 1,3% no terceiro e quarto trimestres, respectivamente, o que faria o PIB
de 2012 fechar com um crescimento de 2%.
Mas, o que ocorrerá
quando se esgotarem os estoques que estavam empilhados em seus armazéns? Com
esta conjuntura internacional adversa, será que os capitalistas irão investir?
Em uma economia globalizada, como a do século XXI, nenhum país sairá da crise isoladamente
sem a companhia dos demais.
O único efeito que talvez
seja permanente, com esta política de isenções fiscais, seja a precarização,
ainda maior, da Previdência Social. A partir de 2013, cerca de 40 setores
deixarão de pagar contribuição previdenciária de 20% sobre a folha de
pagamento.
Agora é só esperar o discurso de que o aposentado é o
problema do Brasil.
[i] Economista
e pesquisador do Progeb – Projeto Globalização e Crise na Economia Brasileira (progeb@ccsa.ufpb.br);
(www.progeb.blogspot.com).
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