Semana de 08
a 14 de outubro de 2012
Nelson Rosas Ribeiro[i]
A afirmação é do Fundo
Monetário Internacional (FMI), que divulgou o seu relatório “Panorama Econômico
Mundial”. Neste relatório o FMI alerta para o “risco crescente e alarmante de
uma desaceleração mais forte da atividade global” e passa a revisar para baixo
as estimativas das taxas de crescimento da economia mundial, de 3,9%, para
3,6%. Para o Brasil, esta revisão foi, de 2,5%, para 1,5%. Além disso, o Fundo
teme que os países da União Europeia (UE) não consigam superar o que chama de
“abismo fiscal”.
O Banco Mundial (BM)
também divulgou sua visão igualmente pessimista. Para a Ásia e Pacífico, as
taxas de crescimento do PIB para este ano foram reduzidas, de 7,6%, para 7,2%.
Para a China, de 8,2%, para 7,7%. O BM confirma a desaceleração das economias
da área e teme uma “freada mais profunda da China”.
A terceira organização
internacional a divulgar suas estimativas para os 34 países membros foi a
Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico (OCDE), através de
seu Índice de indicadores antecedentes. Entre julho e agosto, o índice, para
todos os países, caiu, de 100,2, para 100,1 e, para a zona do euro, de 99,5,
para 99,4.
Mas, não apenas as
grandes instituições internacionais divulgaram perspectivas negativas. O índice
de acompanhamento Brookings Institution-Financial Times mostrou uma séria
ameaça de recaída em recessão global. O índice Tiger (Traking Indices for the
Global Economic Recovery) mostrou uma queda no ritmo da economia global.
Segundo o Professor Eswar Prasad, do Brookings Institution, “a economia mundial
pode em breve ir à lona”.
Neste clima, ocorreu, no
fim de semana passada, em Tóquio, a reunião anual do FMI e do BM, sem a
presença dos representantes das instituições financeiras da China. A ausência
foi um protesto dos chineses por causa da disputa territorial que envolve os
dois países. Aliás, este boicote já atingiu as importações do Japão, o que
causou grandes prejuízos às empresas montadoras japoneses. Em outubro, comparado
a setembro, as vendas despencaram em 48,9% na Toyota, 35,3% na Nissan, 63% na
Mitsubishi e 36% na Mazda. O JP Morgan calcula que, entre outubro e dezembro,
as exportações japonesas para a China cairão 70%. O FMI já demonstra
preocupação com as consequências para o comércio mundial e alertou os dois
países da necessidade urgente de encontrar uma solução para o conflito.
Mas, há quem continue a
apostar na deterioração geral das economias: o “Mercado financeiro”. Agora a
moda é tratar a especulação com uma linguagem gourmet. Fala-se no banquete, no
apetite para degustar iguarias com mais ou menos pimenta e temperos e no
apetite por títulos de alto risco, mas que prometem altos rendimentos ou “high
yields”, como fica mais elegante dizer. Excitados com o apetite do mercado,
instituições como o BB Securities, Bradesco BBI, SBTG Pactual, Deustche Bank,
HSBC e Itaú BBA afiam as garras para intermediar o lançamento dos títulos de
alto risco que a construtora brasileira OAS pretende fazer (US$ 300 a US$ 500
milhões) e que oferecem rendimentos de 9% ao ano. Estima-se que os lançamentos
deste tipo, na América Latina, já atingem os US$ 3,34 bilhões. Esquecidos dos
estouros dos últimos anos ou convencidos que, nos casos negativos, os solícitos
BCs vêm imediatamente em socorro dos acidentados, os “investidores” atiram-se
vorazmente também aos títulos das dívidas soberanas dos países falidos,
seguindo os mesmos critérios. E ficam na torcida que uma agência de
classificação de riscos qualquer baixe as classificações dos países como é o
caso atual da Espanha, que foi rebaixada pela Standard & Poor’s, de BBB+
para BBB-, o último degrau antes do nível “junk” (lixo). O resultado é que,
enquanto a Alemanha paga por seus títulos um yield de 0,61%, os espanhóis terão
de pagar 5,81% de yield, ganhando dos italianos, que
pagam 5,10% por papeis semelhantes.
Enquanto isso, por cá, o BC continua a luta para impedir
a valorização do real, intervindo no mercado de câmbio e baixando a taxa Selic,
de 7,5%, para 7,25%. A recuperação da indústria se arrasta, e o volume das
contratações não aumenta. E o pior de tudo é que, além disso, é preciso
controlar a inflação e forçar a retomada do crescimento.
[i] Professor
do departamento de Economia, Coordenador do Progeb – Projeto Globalização e
Crise na Economia Brasileira progeb@ccsa.ufpb.br);
(www.progeb.blogspot.com).
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