Semana de 01 a 07 de outubro de 2012
Rosângela Palhano Ramalho
[i]
Caro leitor, é de conhecimento comum que a crise
econômica produz vencedores e perdedores. Enquanto a grande maioria da
população torce para que a saída da crise aconteça o mais rápido possível, “investidores”
do mundo inteiro torcem pelo afundamento da economia espanhola. O possível rebaixamento
pela Moody´s dos papéis da Espanha para o conceito junk, que os classificaria como de alto risco e, por isso, de alto
rendimento, gera grande expectativa no “mercado”. Todos (os que ganham com a
desgraça alheia) estão torcendo para que o “mercado”, que movimenta € 250
bilhões na Europa, seja impulsionando e se torne semelhante ao dos Estados
Unidos, que gira US$ 1,2 trilhão.
Por outro lado, economistas e governos continuam na expectativa
de como e quando se dará a recuperação econômica. Será em U, V, W, L? O fato é
que alarmes falsos soam a todo o momento. Os EUA já anunciaram várias vezes a
sua recuperação considerando a melhora das estatísticas e várias vezes tiveram
que desmenti-la.
Aqui no Brasil, desde a
semana passada, chovem informações afirmando que a nossa recuperação começou. Esta,
pelo menos, é a visão da maioria, inclusive a do governo. O avanço de 1,5% da
produção industrial, de julho para agosto, é o melhor resultado, desde maio do
ano passado, segundo o IBGE. Vinte dos vinte e sete segmentos industriais pesquisados
aumentaram suas atividades no período. Conforme André Luiz Macedo, gerente da
coordenação da indústria do IBGE, há setores com estoques elevados, outros com exportações
em queda e com dificuldades diante da competição com os importados.
Outro fato deve ser levado em consideração: a melhor performance aconteceu no setor
automotivo que cresceu 3,3%, com a perspectiva do fim da redução do IPI, em
agosto. Mas a informação mais atual que temos do setor dá conta de que as
vendas de carros despencaram, em setembro, caindo 31,5%, comparadas a agosto.
As vendas de caminhões, segundo a Fenabrave, continuaram caindo. Na comparação
com agosto, a queda foi de 25,5%. Já as vendas de ônibus, caíram 36,8%, na
mesma comparação.
Outro dado (já de setembro), que não reforça o cenário de
recuperação propagado por muitos, vem da Fundação Getúlio Vargas (FGV). Segundo
o órgão, o nível de estoques da indústria, em setembro, ficou praticamente
estável, em relação a agosto, ou seja, o nível de estoques permanece alto. Mesmo
assim, os empresários estão mais “confiantes”. O Índice de Confiança da
Indústria, também apurado pela FGV, cresceu 0,9%, entre agosto e setembro.
Mas, para nós, a informação mais relevante vem do setor
de bens de capital que cresceu apenas 0,3%, em agosto. Este é um sinal de que
os investimentos não estão se recuperando. De fato, a produção de máquinas e
equipamentos encolheu 2,6% no período. Mesmo assim, o ministro da Fazenda,
Guido Mantega, acredita na “recuperação gradual”. Segundo ele, “Deixamos para
trás o período de crescimento fraco, agora o crescimento começa a acelerar e
vai nessa direção até o fim do ano.” O ministro também afirmou que os analistas
que esperavam um crescimento maior, entre 1,6% e 2,6%, projetaram “mal”.
Sinalizando insegurança em relação às estatísticas
publicadas, o governo planeja aumentar a taxa de investimento da economia em
10%, no próximo ano, o que elevaria o estoque para próximo de 20% do PIB. A taxa
de investimento real vem caindo, desde o segundo trimestre de 2010. Até o
início de 2013, novas medidas serão anunciadas, para a redução dos custos de
produção através da unificação da Cofins e do PIS e da unificação, em 4%, da
alíquota interestadual do ICMS - Imposto sobre Circulação de Mercadorias e
Serviços As desonerações de impostos continuarão e se tornarão permanentes para
o setor de bens de capital. A depreciação acelerada desses bens poderá ser
estendida até 2013.
Como vimos, a passagem da crise para a fase de
recuperação não é tão simples assim. Muito se comemora, mas o crescimento de
apenas 0,2% e 0,4%, no primeiro e segundo trimestre deste ano, nos pede
cautela. E mais cautela ainda quando olhamos para a queda da indústria, de 2,5%,
no segundo trimestre. É óbvio que, como economistas e brasileiros que somos,
torcemos por uma recuperação rápida e breve. Mas o 1,5% do crescimento
industrial de agosto não permite que afirmemos que já estamos na fase de
reanimação do ciclo econômico. Por esta razão termino esta análise com uma dúvida.
Recuperação?
[i] Professora
do Departamento de Economia da UFPB e pesquisadora do Progeb – Projeto
Globalização e Crise na Economia Brasileira. (www.progeb.blogspot.com)
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