Semana de 07 a 13 de janeiro de 2013
Eric Gil Dantas [i]
Como já não é mais
novidade para ninguém, observamos, semana após semana, a queda da previsão de
crescimento do Brasil no Boletim Focus (pesquisa feita pelo Banco Central do
Brasil). A última previsão para 2012 foi de 0,98%. Esperemos o número oficial
do IBGE. Já para 2013, mesmo estando ainda em janeiro, uma nova queda de estimativa
do crescimento já ocorreu: de 3,4% para 3,2%.
Isto nos mostra que a
economia ainda está no “mais do mesmo”, em constante queda e prolongamento da
crise, processo já constatado nesta coluna há algum tempo. No entanto, um setor
em particular deve ser levado em consideração. No nosso país, este setor já
agoniza há décadas, mas sua deterioração se acentua em meio a grande crise
econômica. Estamos nos referindo ao setor industrial.
A queda das previsões do
crescimento do PIB, para valores inferiores a 1%, neste ano de 2012, tem como principal
fator a ser considerado, o tombo da produção industrial. Até outubro, o último
dado coletado pela Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e
Equipamentos (Abimaq) dizia que o faturamento bruto dos fabricantes nacionais
havia recuado 2,3% em relação ao mesmo período de 2011. Esta foi a primeira
queda observada nesta série desde o tombo provocado pela crise em 2009. Já o
nível de utilização da capacidade instalada da indústria de máquinas e
equipamentos alcançou o patamar mais baixo em 40 anos, e nove mil empregos
foram cortados em 12 meses. Na pesquisa do IBGE sobre a produção física
industrial referente a novembro, os bens de capital despontaram como a
categoria com maior retração: 1,1% abaixo do mês anterior. No acumulado dos 11
primeiros meses, a queda foi de 11,6%.
Em São José dos Campos, a
GM continua com a decisão de fechar sua linha de produção para transferi-la
para o interior do Paraná, onde os custos trabalhistas seriam amenizados. Se a
demissão for efetivada, 1500 operários perderão seus empregos, segundo o
Sindicato dos Metalúrgicos de São José dos Campos, o que se somará às outras
nove mil demissões já citadas na indústria de máquinas e equipamentos.
As atuais políticas
governamentais de incentivo econômico estão sendo aplicadas com o intuito de
recuperar, principalmente, este setor. O Programa de Sustentação do
Investimento (PSI), por exemplo, empresta, via BNDES, a taxas de juros anuais
de 3% (até o final do ano passado a taxa era de 2,5%), ou seja, paga para os
capitalistas investirem, já que a inflação é maior do que a taxa de juros. Além
disto, foi feita a redução do IPI, imposto cobrado para produtos
industrializados, que contempla vários setores entre os quais estão os veículos
e a linha branca. Os efeitos ainda são marginais. Hoje, a nossa indústria tem o
mesmo peso na produção de riquezas do país que tinha em 1947.
Mas, não é só no Brasil
que a crise está afetando o setor industrial. Na Europa, segundo o Deutsche
Bank, a União Europeia (UE) está com excesso de capacidade de pelo menos 30% na
produção de carros e parece inevitável mais fechamentos de fábricas na região.
A Ford fechou, em 2012,
uma fábrica na cidade industrial belga de Genk, que funcionava há 26 anos,
demitindo 4300 funcionários. A GM, por sua vez, cinco meses antes, fechou uma
fábrica da Opel aberta há 50 anos em Bochum, na Alemanha, eliminando três mil
empregos. Já a GE está concentrando a maior parte de seus cortes de US$2
bilhões, anunciados em maio, em suas operações na UE.
Com os investimentos
diretos, na UE, caindo 10% anualmente desde 2008, o quadro preocupa e coloca em
xeque o ritmo de recuperação do continente. Entre 2007 e 2011, os investimentos
anuais, nos 27 países da UE, caíram € 350 bilhões. Segundo estudo da
consultoria estadunidense McKinsey, esta perda de investimentos deixou de gerar
€ 543 bilhões em receita para as empresas europeias, entre o ano de 2009 e
2010.
Uma nova conjuntura
mundial está criando profundas alterações na divisão social do trabalho, com a
indústria saindo dos países onde eram pagos salários razoáveis, para locais com
baixos salários, como China, Vietnã e outros países do sudeste asiático.
Nestas circunstâncias, o
pós-crise promete ser tão penoso para as populações quanto a própria crise.
[i] Economista
e pesquisador do ILAESE (Instituto Latino-americano de Estudos Socioeconômicos)
e do Progeb (Projeto Globalização e Crise na Economia Brasileira) (progeb@ccsa.ufpb.br);
(www.progeb.blogspot.com).
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