Semana de 04 a 10 de
fevereiro de 2013
Lucas Milanez de Lima
Almeida[i]
Estamos na semana do carnaval. Os ritmos que embalam o
Brasil são muitos e variam de acordo com a localidade: no Rio de Janeiro e em
São Paulo, o samba domina, na Bahia, é o axé, em Pernambuco, são o frevo e o
maracatu, sem falar do Maranhão, com suas misturas e cadências exclusivas. Com
esta verdadeira salada rítmica, sempre fica a questão: qual o melhor carnaval?
Qual ritmo embala melhor mais foliões?
Tertúlias à parte, parece que o compasso seguido pela
economia brasileira permanece “paralelo ao ritmo”. Isto é o que diz a comissão
julgadora, também conhecida como “mercado”. Não bastassem os problemas que
atingem o mercado financeiro global desde 2007, o “mercado” reclama da falta de
clareza e orientação dos pronunciamentos dos membros do governo. Para eles, as
comunicações não mostram quais as reais intenções da atual política econômica.
O ministro Mantega, que, segundo alguns, está com seus instrumentos
desafinados, tenta convencer os avaliadores de que a política atual é
anticíclica, que a Selic não está engessada e que a taxa de câmbio não é
ferramenta para conter a inflação. Já convenceu Delfim Netto, mas...
Por outro lado, carente de uma taxa de juros elevada e
por não acreditar no discurso oficial, o “mercado” iniciou, há duas semanas,
uma série de testes contra o Banco Central e o governo brasileiro. O alvo da
vez foi a taxa de câmbio. O objetivo era saber até onde a referida taxa poderia
oscilar. Para tanto, o “mercado” provocou uma queda especulativa no preço de
compra do dólar a tal ponto que o governo interviu para segurá-la. Após as
ações, o próprio Mantega saiu em defesa do que está sendo chamado de piso informal.
O valor mínimo para se comprar a moeda americana, segundo ele, será de R$ 1,85.
O “mercado”, porém, prevê uma variação entre R$ 1,95 e R$ 2,00 e trabalha com
esta cotação. Veja que a esta comissão está difícil de satisfazer. Tanto que
foi preciso até uma reunião entre o ministro da Fazenda, o presidente do BC,
Alexandre Tombini, e os banqueiros do BB, Caixa, Bradesco, HSBC, Itaú,
Santander, Citi e Safra, para acalmar os nervos.
Problema também é convencer os empresários do setor
industrial de que o ritmo da atividade econômica está acelerado e aquecido como
um bom frevo de rua. As condições para os negócios estão sendo melhoradas, pelo
menos é o que dizem as fontes oficiais: o conjunto de desonerações e incentivos
aos setores considerados chaves estão fluindo. As parcerias com o setor privado
estariam engrenadas; os projetos de concessões e obras de infraestrutura
estariam prontos; ou seja, os instrumentos estariam afinados para começar, em
bom ritmo, a fase de crescimento.
No entanto, como falamos na análise passada, a economia
se desenvolve por meio de ciclos. Apesar das condições serem consideradas, por
alguns, boas (mas nem tanto), o momento não é este. É como contratar uma escola
de samba para um velório. O ritmo é outro. A venda de veículos em janeiro de
2013 teve uma redução de 13,3% ante dezembro do ano passado. Já as exportações
de máquinas agrícolas diminuíram 46,4% no mesmo período. A indústria como um
todo caiu 2,7% entre 2011 e 2012, com destaque para a queda de 11,8% do setor
de bens de capital. As expectativas para 2013 seguem este mesmo obituário:
cenário externo desfavorável e incertezas sobre as condições internas de
investimento.
A China, maior parceira comercial do Brasil, está com uma
dívida corporativa estimada em 128% do seu PIB. Isto quer dizer que, somadas
todas as contas a pagar de todas as empresas chinesas, ainda estaria faltando
28% de um PIB de US$ 8,28 trilhões para quitar as contas.
A situação internacional é tão incomum que dois fatos
devem ser registrados: o primeiro é o reconhecimento de que os regimes de metas
para a inflação não são os ideais para uma condução de política econômica (há
quem diga até que a forma da crise atual foi causada justamente por este
regime) e o segundo fato é o elogio do FMI à condução da política econômica
brasileira, com suas inovações e medidas macroprudenciais (pelo menos alguém
foi atrás do trio elétrico da presidenta).
Como podemos ver, ainda não temos uma batida bem
cadenciada e determinada. No carnaval da economia, não podemos dizer se vai dar
samba, frevo, axé ou qualquer outra coisa. O que podemos fazer é esperar a
quarta-feira de cinzas chegar para ver no que vai dar.
[i] Professor
do Departamento de Economia da UFPB e pesquisador do Progeb.
(www.progeb.blogspot.com.)
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