Semana de 11 a 17 de fevereiro de 2013
Rosângela Palhano Ramalho
[i]
Caro leitor, a folia acabou, a quarta-feira de cinzas
chegou, mas o ritmo da economia continua o mesmo. Para quem acha que o ano
começa depois do carnaval, frisamos novamente: ano novo, notícia velha... A
recessão se arrasta na Europa, Estados Unidos e Japão.
Enquanto isso, internamente, o governo ainda digere o
resultado esperado de 1% para o PIB, em 2012, e é obrigado a conviver com o
dedão acusador do “mercado” que continua apontado em sua direção. O resultado
será pífio para o PIB e expressivo para a inflação que, em janeiro, fechou em 0,86%.
No acumulado do ano, o IPCA registra alta de 6,15%. Provavelmente, pelo
terceiro ano consecutivo, o Brasil registrará inflação acima do centro da meta.
O Boletim Focus já prevê uma inflação de 5,71%, em 2013.
Segundo os analistas e “investidores”, o Banco Central, achando
pouco, ainda cometeu o “grande pecado” de divulgar que a variação de preços
convergirá para 4,5% (centro da meta) de forma não linear. Agora sim, é que as
expectativas para o futuro foram liquidadas de vez.
Pecado ainda maior,
continuam os “investidores”, foi o de reduzir os juros e permanecer com a
intenção de mantê-los assim por muito tempo. E agora? Assim não dá! Os
“investidores” estão confusos com os sinais divergentes do governo em relação
ao rumo da política econômica.
Haverá elevação da taxa de juros? O governo intervirá na
taxa de câmbio?
O Banco Central já afirmou que aumentar os juros não
seria a opção da instituição. Considerando a inflação como de oferta, o governo
deve partir para outra linha de frente: deslocar os incentivos do consumo para
os investimentos. Mas se até agora a voracidade dos empresários ainda não
aflorou, o que fazer? O Partido dos Trabalhadores encontrou a solução.
Em comemoração aos 10 anos no poder, a sigla decidiu realizar
uma pesquisa para tentar entender a relação do empresariado com o partido. A intenção,
segundo Rui Falcão, presidente do partido, é verificar quem está a favor e quem
está contra a legenda. E o mais complexo (segundo o PT), é que o estudo vai tentar
detectar por que a classe dominante, mesmo recebendo inúmeros benefícios, ainda
age com desconfiança e acusa Dilma de ser má gestora.
No que diz respeito ao câmbio, o ministro da Fazenda,
Guido Mantega, que tinha declarado que não permitiria a queda do dólar a R$
1,85, afirmou esta semana, que o governo não intervirá no mercado. A taxa atual,
segundo ele, garante a competitividade das exportações e ainda protege a
indústria nacional da entrada de produtos a preços baixos manipulados
artificialmente. O ministro ainda completou que o câmbio não é o instrumento
adequado para o controle da inflação e que este combate deve ser feito através
da política de juros.
Desespero no “mercado”! E se o governo não aumentar os
juros? E se não usar o câmbio para combater a inflação? Se o Banco Central e o
Ministério da Fazenda não entrarem em acordo a respeito dos rumos da política
econômica, o que será do “mercado” e dos seus “investidores”?
Bem, a resposta é muito fácil.
O “mercado” não mais sugará retornos elevados antes
proporcionados pela maior taxa de juros do mundo... Não poderá ganhar com tanta
facilidade com as diferenças entre as taxas de juros dos diversos países,
movimentando elevadas quantias de dinheiro ao redor do mundo...
Diante da “incerteza” o “mercado”
continuará a testar os limites cambiais idealizados pelo governo, esperando a
sua intervenção. Mas não terá garantias de ganhos com as operações cambiais. O
risco será não ganhar com o movimento incessante de compra e venda de moeda
estrangeira ou com os famosos swaps cambiais reversos.
Quero dizer que, o “mercado” e seus “investidores” terão a
sua atividade principal, a especulação, inibida, o que é insuportável e
imperdoável.
No “mercado” é só isto que poderá acontecer, daí o
nervosismo.
[i] Professora
do Departamento de Economia da UFPB e pesquisadora do Progeb – Projeto
Globalização e Crise na Economia Brasileira. (www.progeb.blogspot.com)
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