Semana de 18 a 24 de fevereiro de 2013
Eric Gil Dantas [i]
A Grécia é, hoje, o país
que mais sofre com a grande crise econômica mundial. No dia 20 de fevereiro,
houve a primeira greve geral do ano no país, e os gritos de protesto ainda são
os mesmos: "Que saiam todos: o governo, o FMI e a troika! Com eles não há
futuro para a Grécia". Ao longo desta crise, o desemprego grego disparou, atingindo
atualmente 27% da população economicamente ativa e quase 61% dos jovens com
menos de 25 anos.
Para “salvar” a economia
da Grécia, o Banco Central Europeu (BCE) já liberou pacotes de ajuda, com
compras de títulos públicos no mercado. O custo para o povo grego foi demissões
de servidores públicos, cortes no salário mínimo e na aposentadoria. Mas para o
BCE, qual foi o custo? Segundo a própria entidade, o lucro líquido do banco
cresceu 37% no ano passado, para 998 milhões de euros. A cifra inclui 555
milhões de euros de lucro com juros de títulos “podres” da dívida grega.
Para garantir a
continuidade da política de austeridade na União Europeia (UE), foi fechada uma
negociação entre os governos europeus e os legisladores do Parlamento Europeu.
As novas regras, chamadas de “two-pack”, obrigarão governos da zona do Euro a
avisar Bruxelas sobre os seus planos orçamentários e dão à Comissão Europeia
mais condições de supervisionar os países sob risco de crise financeira.
Já no Brasil a coisa não
é diferente para o lado dos bancos. Mesmo em meio a um crescimento pífio de aproximadamente
1% do PIB em 2012, e queda de 2,68% da produção industrial, os bancos estão em
festa. O Banco do Brasil anunciou que bateu recorde em 2012, com lucro líquido
de 12,2 bilhões de reais, 0,7% maior do que em 2011. Já a Caixa Econômica
Federal teve 6,07 bilhões de reais de lucro líquido, 17% a mais do que no ano
anterior. No anúncio do resultado da Caixa, tivemos como destaque a frase do
seu presidente, Jorge Hereda, que disse: “Tivemos o maior lucro da nossa
história mesmo reduzindo o spread em 47%”. Além dos dois bancos estatais, o
Bradesco teve um lucro 3% maior em 2012, de R$11,38 bilhões, enquanto que o
Itaú atingiu o seu segundo maior lucro da história, 13,59 bilhões de reais. Estes
resultados podem ser explicados, em parte, pela taxa média de juros, número
divulgado pelo BC, que está em ascensão, avançando de 33,9% em dezembro para
34,5% em janeiro.
E 2013 já parece chegar
trazendo boas notícias para o setor bancário. A fala das duas maiores
autoridades econômicas do governo, o ministro da fazenda, Guido Mantega, e o
presidente do BC, Alexandre Tombini, em dois eventos distintos, já alegrou o “mercado”.
No discurso de cada um dos dois, ficou clara a tendência de aumento da SELIC
para 2013, possivelmente já na próxima reunião do COPOM. “O mercado vê alta de
juros como sinônimo de lucro maior para os bancos”, afirmou o chefe de análise
da SLW Corretora, Pedro Galdi.
Isto só não parece ser
uma boa notícia para os endividados, que segundo a Pesquisa Nacional de
Endividamento e Inadimplência do Consumidor (peic Nacional), divulgada pela
Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC), estima-se
que seja de cerca de 61,5% das famílias brasileiras.
Apesar deste outro mundo vivido pelos bancos,
a economia real ainda continua a sofrer. Como viemos acompanhando, o consumo interno
de máquinas continuou estagnado no 4º trimestre, depois de cinco trimestres
seguidos de queda no investimento. Além disto, o que ainda se consome de
máquinas e equipamentos está cada vez mais vindo de fora. Enquanto a produção
interna do setor caiu 2% no quarto trimestre de 2012, as importações aumentaram
10%.
Isto mostra o descompasso
estrutural da economia brasileira. Pra onde caminhamos em um país onde os
bancos ganham cada vez mais e a indústria paulatinamente desaparece? Se o
governo quer contar com o setor de serviços – o que mais emprega, de longe, no
país – o DIEESE acaba de lançar um estudo sobre o setor hoteleiro (que mostra
bem a realidade dos serviços), onde chega a conclusão de que mais da metade do
total dos trabalhadores ganha de 1 a 1,5 salários mínimos e 41,4% do total tem menos
de um ano de trabalho, uma intensa rotatividade de mão-de-obra.
Parece ser o que nos resta!
[i] Economista
e pesquisador do ILAESE (Instituto Latino-americano de Estudos Socioeconômicos)
e do Progeb (Projeto Globalização e Crise na Economia Brasileira) (progeb@ccsa.ufpb.br);
(www.progeb.blogspot.com).
Observação: Por motivos alheios a nossa vontade, essa analise de conjuntura não foi publicada no Jornal Contraponto, edição nº 427 datado de 01 a 07 de março de 2013.
Observação: Por motivos alheios a nossa vontade, essa analise de conjuntura não foi publicada no Jornal Contraponto, edição nº 427 datado de 01 a 07 de março de 2013.
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