Semana de 11 a 17 de março de 2013
Eric Gil Dantas [i]
O debate dos últimos dias
gira em torno da conturbada ata da última reunião do Comitê de Política
Monetária (COPOM), divulgada no dia 14. Em seu parágrafo 28, a ata afirma “que
a política monetária deva ser administrada com cautela”. Isto, claro, inquietou
todo o sistema financeiro, que berrou por emergência no aumento da taxa de
juros para combater a inflação, que se aproxima perigosamente do extremo da
meta.
A inflação acumulada nos
últimos 12 meses atingiu 6,15%, em janeiro, abaixo dos 6,22%, registrado no ano
anterior. No entanto, isto foi o suficiente para a criminalização do discurso
do Banco Central (BC) por parte de diversos economistas ligados aos grandes
bancos, que veem na taxa de juros o único mecanismo de controle. O
economista-chefe do BNP Paribas, Marcelo Carvalho, denominou a ata de “velha”, por
ela ter sido escrita antes da divulgação do Índice Nacional de Preços ao
Consumidor – Amplo (IPCA), de fevereiro, que veio acima do esperado pelo
mercado e pelo BC (que estimava em 0,6%). As especulações dos economistas, já
para a reunião de abril, ou maio, variam entre aumentos da SELIC, de 0,25% a
0,5%. O BC parece estar em uma situação bastante delicada. Apesar de a inflação
estar acima do centro da meta, a economia não cresce. Como já dito em análises
anteriores, o Brasil teve um crescimento do seu PIB de apenas 0,9%, em 2012, e
em termos per capita, de 0,1%. Mas, como a fase atual ainda não parece ser de
recuperação, a atuação do Banco Central, na aplicação de sua receita ortodoxa,
torna-se difícil.
Para tentar salvar a
economia, o governo expandiu mais uma vez seu pacote de isenções fiscais,
esperando, assim, diminuir a inflação, estimular o consumo, e consequentemente,
despertar o instinto dos empresários para os investimentos.
A medida provisória
publicada na semana passada fez um corte geral de tributos dos seguintes
produtos: carnes, peixes, café, açúcar, óleo de soja, manteiga, margarina,
sabonete, pasta de dente e papel higiênico. Ao todo, o governo deverá abrir mão
de R$ 5,5 bilhões em arrecadações, em 2013. Mas, como em casos anteriores, o
repasse da isenção aos consumidores será apenas parcial. Para o Bradesco, a
média deste repasse, para o preço comercial, deverá ficar próxima dos repasses
das isenções de IPI de carros (84%) e da linha branca (40%).
Mas, vivemos em uma
economia globalizada e, por isso, o Brasil apenas poderá livrar-se da crise em
um movimento global. A retomada do crescimento internacional será assim, o
porta-voz do final da crise econômica brasileira.
A China – principal
parceira comercial do Brasil –, infelizmente, demonstra que a retomada ainda
não é pra já. Sua produção industrial cresceu 9,9% entre janeiro e fevereiro,
na comparação com o mesmo período de 2012. Apesar de parecer um resultado bastante
positivo, isto representa uma desaceleração, ante o crescimento anualizado de
10,3%, em dezembro, e das previsões feitas por economistas, que eram de 10,5%.
No varejo, o crescimento foi de 12,3%, no primeiro bimestre, em relação a um
ano atrás, contra uma alta de 15,2%, em dezembro.
No Reino Unido, a queda da
produção industrial foi de 1,2%, entre janeiro e dezembro, e de 2,9%, se
comparado ao mesmo período de 2012. Já na zona do euro, esta queda foi de 1,3%,
se comparada ao ano passado, e de 1,7%, se considerarmos os resultados de toda
a União Europeia.
Para termos uma ideia, da
precariedade da situação, lembramos que o PIB da zona do euro, hoje, está 3%
abaixo do seu nível de antes da crise. Na Itália, a queda chega a 10%.
Nos EUA, os problemas dos
próximos meses serão agravados pelos cortes automáticos de U$85,3 bilhões de
gastos públicos, que entraram em vigor, em março, e pelo aumento de impostos
definido na virada do ano, nas negociações que evitaram o chamado “abismo
fiscal”. A tímida aceleração da economia estadunidense poderá ser prejudicada
pelos cortes dos gastos públicos, que certamente serão sentidos.
A ainda frágil economia
mundial impede a retomada do crescimento brasileiro. No entanto, as pressões do
capital financeiro, pelo aumento da SELIC, também devem prejudicar esta
retomada, tendo em vista que o aumento da taxa de juros pune os consumidores e onera
os investimentos produtivos no país.
[i] Economista
e mestrando no Programa de Pós-graduação em Ciência Política da UFPR; é pesquisador
do ILAESE (Instituto Latino-americano de Estudos Socioeconômicos) e do Progeb (Projeto
Globalização e Crise na Economia Brasileira) (progeb@ccsa.ufpb.br);
(www.progeb.blogspot.com).
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