Semana de 05 a 14 de abril de 2013
Rosângela Palhano Ramalho
[i]
Durante todo o ano de 2012, notícias davam conta da
desaceleração econômica brasileira que acabou se confirmando com o crescimento
de apenas 0,9% do Produto Interno Bruto (PIB). O débil crescimento do ano
passado derrubou o argumento de que a nossa inflação é de demanda. Com isso
ganhou força a tese de que havia espaço para uma queda acentuada dos juros.
Neste ano espera-se um crescimento em torno de 3%. A presidente
Dilma continua sustentando a ideia de que a economia vai bem. Mas, convidou
para um “bate-papo”, os economistas Delfim Netto, Yoshiaki Nakano e Luiz
Gonzaga Beluzzo. Na verdade, os convidados estavam mais preocupados em entender
o aumento da inflação diante de uma atividade econômica tão debilitada. Afinal de contas, esta desaceleração
deveria provocar uma queda dos preços.
Como explicar, então esta inflação persistente? Alguns sustentavam
que seria um choque de oferta e como os choques de oferta são transitórios, não
seria necessária a intervenção do Banco Central, aumentando os juros. Mas,
segundo Nakano, presente na reunião com Dilma, o mercado de trabalho em pleno
emprego, o componente inercial da inflação (que transforma a inflação passada
em futura), e o mecanismo da indexação generalizada, promovida pelo próprio
governo no setor de serviços, têm contribuído para a alta do nível de preços.
Diante deste cenário, o economista aconselha que a melhor saída seria o aumento
da taxa de juros pois, isto combateria o aumento dos preços promovido pelo
setor de serviços.
Já para Delfim Netto, que também estava presente na
reunião, a inflação persistente tem suas causas nas ineficiências da economia
brasileira e a solução estaria, não na política monetária, mas na adoção de uma
política social e econômica que incentivasse a inclusão social, promovendo
mudanças estruturais e estimulando a competição. Por estas razões, a solução
não estaria no aumento dos juros.
Diante desta indefinição, os mais variados conselhos
surgem e volta à tona novamente a questão da independência do Banco Central. Alguns
meses atrás, escrevemos, neste espaço, uma análise intitulada: A quem interessa
a autonomia do Banco Central? Mais uma vez, os economistas que defendem tal
autonomia e os “analistas de mercado” levantam a questão. Segundo eles, o Banco
Central, ao não sinalizar ao “mercado” qual seria a sua verdadeira intenção,
tem provocado frustração nas expectativas e alimentado a alta de preços, ao
deixar implícito, em sua comunicação, que não busca atingir o núcleo da
inflação.
Mas o que é ter um Banco Central independente? Grosso
modo, a independência deve acontecer por duas vias: a de instrumento (a
autoridade monetária deve ter à sua disponibilidade, instrumentos que permitam
a sua tomada de decisão sem vínculo com nenhuma outra autoridade política) e a
de metas (em que o Banco tem a liberdade de definir os objetivos a serem
alcançados). Esta posição prevê,
como único objetivo da autoridade monetária, a busca pela estabilidade de
preços, uma vez que o crescimento econômico não seria influenciado por variáveis
monetárias, mas sim por variáveis reais!
Os economistas estão preocupados em defender
“ideologicamente” a teoria da independência do Banco Central que, segundo eles,
resume-se ao cumprimento das metas inflacionárias e se realiza pelo aumento dos
juros. Portanto, o “dedo” político de Dilma, dos conselheiros por ela convocados
e que não pertencem ao governo e do ministro Mantega, apenas perturbam o
cumprimento das metas, gerando incertezas.
Já os “analistas de mercado” não defendem uma ideia
teórica, mas se dizem “superpreocupados” com a inflação e pressionam para o
aumento dos juros na próxima reunião do Copom. Na semana passada, o “mercado”
já comemorava a provável decisão. Esta semana, com a divulgação pelo IBGE, da
queda de 0,4% das vendas no varejo, em fevereiro, comparadas à janeiro, e da
alta de 0,47% do IPCA, em março, ante 0,60%, em fevereiro, pôs um balde de água
fria nestas expectativas.
Com atividade baixa e inflação desacelerando,
provavelmente o Banco Central vai adiar, para maio, o aumento dos juros, para
revolta dos que defendem a independência da autoridade monetária e desalento
daqueles que sobrevivem à custa dos altos juros garantidos pelo governo
brasileiro.
[i] Professora
do Departamento de Economia da UFPB e pesquisadora do Progeb – Projeto
Globalização e Crise na Economia Brasileira. (www.progeb.blogspot.com)
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