Semana de 15 a 21 de abril de 2013
Nelson Rosas Ribeiro[i]
Desde que os dados sobre
a aceleração da inflação foram divulgados que o assunto passou a ser a elevação
da taxa de juros. Tudo o que a teoria econômica oficial consegue tirar do seu
mofado baú de soluções contra a inflação é isto. Ou seja, a política monetária,
tão falada, reduz-se a um único instrumento: a manipulação da taxa de juros. O
guardião da moeda, encarregado desta função, é o Conselho de Política Monetária
Copom, órgão do Banco Central (BC), composto por oito diretores, incluindo
entre eles o presidente do BC, Tombini.
Toda a especulação sobre
a esperada reunião, encerrada quarta feira 17, variou entre o sobe, mantém ou
desce a taxa, dependendo das frases, adjetivos, suspiros, espirros das
autoridades do país (Dilma, Mantega, Tombini, etc.), e dos humores do
“mercado”.
A batalha foi ganha pelos
especuladores financeiros: a taxa Selic subiu 0,25%, passando a 7,5%.
Quais foram os
argumentos?
A inflação, nos últimos
12 meses, ultrapassou o teto da meta, que é 6,5%, o que exige a elevação dos
juros, de acordo com o “manual” da inflação.
Em sentido contrário
operaram outros fatos. A economia do país está em desaceleração, acompanhando a
tendência mundial. O governo reduziu as estimativas de crescimento do Produto
Interno Bruto (PIB), de 4,5%, para 3,5%, e o Fundo Monetário Internacional
(FMI), de 3,5%, para 3%, concordando com o “mercado” e o próprio BC. A situação
da economia mundial também não é boa. Os EUA patinam sem direção definida e a
zona do euro desacelera com a ameaça de ruptura das economias dos dois grandes,
França e Alemanha. Até os Brics encontram-se em situação difícil e mesmo o
gigante chinês reconhece seu desaquecimento e admite que as taxas de
crescimento do PIB, que caíram para 7,7%, tendem a continuar em queda, para
valores próximos de 6%. Por seu lado, o FMI já reajustou para baixo a taxa de
crescimento da economia mundial, de 3,5%, para 3,3%.
Segundo o “manual”, a
solução para este quadro é a redução dos juros.
E agora BC? A taxa sobe,
desce ou se mantém?
Embora não se queira
reconhecer, nos encontramos diante de um fenômeno que já ficou conhecido como
estagflação, o que significa estagnação com inflação. Este fenômeno apareceu no
Brasil na crise do início dos anos 60 e depois, a nível mundial, na crise dos
anos 70. A teoria econômica oficial não encontrou explicação e, felizmente, ele
saiu da cena.
Mas, não se trata apenas
de uma questão de teoria ou ideologia. É também uma questão de política e
interesses econômicos. E o BC, com o seu atual complexo de autonomia (qual
adolescente problemático), resolveu mostrar que é crescidinho e... tome juros.
Assim, lá vamos nós,
juros acima, tentando combater uma inflação que ninguém sabe o que é. Talvez
seja provocada por São Pedro (que não manda ou manda chuvas), pelos chineses
(que resolveram consumir, o que aumentou os preços das commodities), pelos
americanos (que resolveram tomar mais café), pelos agricultores brasileiros
(que não tem mais tomates) ou pelo dragão (que anda solto por aí sem ter mais
nada a fazer a não ser amedrontar o PT, Dilma, Mantega, etc). Isto para não
falar dos trabalhadores que teimam em pedir aumentos de salários absurdos muito
maiores que “os ganhos de produtividade”, segundo Delfim Neto. É curioso que
ninguém se lembra dos preços administrados pelo governo, dos serviços de
eletricidade, água, gás, transporte público, telefone, planos de saúde, etc.,
que, através das tais agências reguladoras, garantem gorda lucratividade aos
concessionários. O pior é que sobre todos estes “causadores” da inflação, a
taxa de juros não tem nenhuma influência.
Mas, ainda falta. Ninguém
se lembra dos preços de monopólio praticados pelos
grandes grupos monopolistas que atuam no país, nem dos impostos e das taxas de
juros mais elevadas do mundo, cobradas nos financiamentos ao consumo, e que são
embutidas nos preços dos produtos.
Diante da pobreza teórica
dos economistas oficiais e dos poderosos interesses dos especuladores
financeiros, o BC, mais uma vez, mostrou a quem deve servir. E é para isto que
ele precisa ser “independente”.
[i] Professor
Emérito da UFPB e Coordenador do Progeb – Projeto Globalização e Crise na
Economia Brasileira progeb@ccsa.ufpb.br);
(www.progeb.blogspot.com).
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