Semana de 06 a 12 de maio de
2013
Antonio Carneiro de Almeida
Júnior [i]
A situação da economia mundial continua desanimadora e
vem afetando a economia brasileira.
Com a redução da demanda chinesa, por exemplo, a queda
média dos principais metais na bolsa de Londres, em fevereiro, março e abril,
foi de 2,7%, 4,3% e 5%, respectivamente. Para piorar a situação, a indústria
brasileira, que, no acumulado de 12 meses, amarga uma queda de 2%, segundo o
IBGE, perde competitividade durante a crise. Na argentina, por exemplo, onde
cerca de 90% dos produtos importados do Brasil são de manufaturados, as
importações totais cresceram 5%, no primeiro trimestre, ante o mesmo período do
ano passado, enquanto que as de origem brasileira caíram 10,4% no mesmo
período, segundo dados da OMC. A situação só não é pior porque, conforme apontamos
em análises anteriores, o governo brasileiro vem adotando políticas
anticíclicas para combater a crise.
As crises na economia capitalista são crises de
superprodução. As barreiras econômicas que impedem o consumo das mercadorias excedentes
freiam a expansão da produção, levando, em alguns casos, à queda do produto. No
entanto, recentemente, boa parte do Brasil, em especial a Região Nordeste,
passa por uma seca devastadora, que arruinou colheitas e dizimou rebanhos. Aqui,
portanto, a redução no ritmo da atividade econômica deve-se à escassez e não à
superprodução.
Na década de 1950, o governo da União Soviética, através
de uma política de expansão de terras e da realização de grandiosos projetos de
irrigação, fez com que a produção agrícola dessa república crescesse a uma taxa
média de 7% ao ano, durante cinco anos.
Diferenças geográficas à parte, caso o governo brasileiro
conseguisse, através da realização de projetos de infraestrutura no campo,
eliminar a influência de variações bruscas do nível de precipitação, na produção
agropecuária das regiões afetadas, estaria resolvendo três problemas de uma só
vez.
Em primeiro lugar, impediria que a mesma miséria
ocasionada recentemente pelo fenômeno da seca oprimisse novamente os
brasileiros no futuro. Em segundo lugar, estaria realizando uma política fiscal
anticíclica, mitigando, assim, os efeitos da atual crise. Em 2009, a produção
do Nordeste representava 13,51% da produção nacional, segundo dados do IBGE.
Supondo que este quadro não mudou, acreditamos que, somada à produção de demais
regiões afetadas pela seca, esta participação poderia alcançar 20% do PIB
brasileiro. Isto significa que um crescimento de 5% destas regiões, se puxado
por investimentos, poderia gerar um crescimento superior a 1% do PIB brasileiro,
em função do efeito multiplicador. Este crescimento, além disso, ao contrário
do que é provocado pelas tradicionais políticas anticíclicas, não traria impactos
negativos em um futuro próximo, visto que estaria liquidando um problema de
escassez. Por fim, caso fossem bem sucedidos, os projetos reduziriam
significativamente o número de deformações na dinâmica cíclica do Brasil
causadas pelas alterações climáticas.
Esta medida, todavia, além de esbarrar numa possível
impossibilidade técnica, também esbarra nas relações de produção capitalistas.
Enquanto a URSS era o país do planejamento econômico e das classes não
antagônicas, aqui impera a anarquia da produção e a luta de classes. Pôr em
prática tal plano traria à tona a questão de quem deveria fornecer os recursos
necessários para viabilizar tais projetos: setor público ou privado? Ele
esbarraria também na falta de coordenação entre a atividade pública e a privada
que é atestada dia após dia, quando vemos, por exemplo, a venda de carros
batendo recordes em abril, com uma elevação de 29,4% em relação a abril de
2012, segundo a Fenabrave, enquanto que uma pesquisa da operadora logística JSl
constata uma piora nas condições das estradas brasileiras. Eis as contradições
inerentes ao Modo de Produção Capitalista.
[i] Doutorando
em Desenvolvimento Econômico pelo PPGDE/UFPR e pesquisador do Progeb – Projeto
Globalização e Crise na Economia Brasileira progeb@ccsa.ufpb.br);
(www.progeb.blogspot.com).
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