Semana de 10 a 16 de junho de 2013
Rosângela Palhano Ramalho
[i]
Caro leitor, bastou o Federal Reserve (Fed), Banco
Central dos Estados Unidos, sinalizar o recuo do seu afrouxamento monetário,
para que o movimento de volta dos “investidores” ao país ganhasse força. O
apetite dos tais “investidores” pelo dólar e títulos americanos novamente
despertou, em virtude da elevação dos juros das notas do Tesouro dos EUA.
Outros eventos estariam contribuindo: a percepção de que
a economia americana está se saindo melhor que as demais, a desaceleração dos
países em desenvolvimento, a redução dos estímulos à economia japonesa e a
desaceleração do comércio mundial. Mas, observando os últimos acontecimentos, a
mudança na política do Fed é que tem realmente pesado para este retorno.
Enquanto o “tsunami monetário” faz o caminho de volta, as
moedas dos emergentes desmoronam. México, Chile, África do Sul, Índia, Turquia,
Indonésia e Brasil registraram intensa desvalorização de suas moedas e foram
obrigados a adotar medidas para protegê-las. O Banco Central da Turquia adotou
medidas para atrair capital. A Indonésia aumentou sua taxa sobre depósitos para
4,25% ao ano, visando resguardar o nível de reservas internacionais. A Índia
também interviu para proteger a rúpia.
No Brasil, o Banco Central eliminou o IOF sobre as posições
vendidas no mercado de câmbio futuro. Na semana passada, a instituição já havia
abolido o imposto de 6% das aplicações de renda fixa.
A migração constante de recursos pelo mundo nos faz
voltar os olhos para o mercado cambial. As moedas nacionais que se
transformaram em ativos financeiros são compradas e vendidas em infinitas operações
que duram menos de um segundo. Os “investidores” auferem ganhos exorbitantes
especulando com as pequenas diferenças existentes entre as taxas de câmbio dos países.
Este mercado que movimenta volumes monetários gigantescos
(estimado em US$ 4 trilhões), quase não é regulamentado, já que seus negócios
ocorrem fora das bolsas de valores. Daí, caro leitor, pode-se ter ideia da
transparência que está por trás das operações cambiais. Autoridades reguladoras
do Reino Unido, que há pouco tempo descobriram as manipulações da taxa Libor
pelo mercado financeiro, agora começam a investigar o mercado de moedas. A
suspeita é a de que os operadores deste mercado, ao estabelecerem preços
diferentes para diferentes clientes, porque gozam de informações privilegiadas,
acabam se beneficiando das melhores taxas. Os fundos de hedge seriam os grandes
beneficiados neste mercado, em virtude da frequência com que realizam as
operações.
A volatilidade e a desonestidade que alimentam este
mercado justificam as intervenções dos emergentes, mas engordam as críticas, que
parecem eternas, sobre o “ativismo” econômico destes países. Embasados na
teoria das vantagens comparativas do comércio internacional, os defensores do
livre comércio e da livre mobilidade de capitais tentam justificar teoricamente
que, se deixados livres, os mercados gerariam uma perfeita alocação dos
recursos, e todos ganhariam, principalmente os emergentes.
Há mais de 60 anos, a teoria do comércio foi contestada
pelos diagnósticos da Cepal para a realidade latino-americana, que demonstraram
que a região não colhera os benefícios prometidos pela teoria tão bem
logicamente demonstrada. Mas, surpreendentemente (ou não!), o debate perdura, e,
nos anos 90, ganha força a argumentação sobre a livre movimentação de capitais.
O economista Delfim Netto reforça alguns dos problemas gerados por este excesso
de liberdade: além de o país que recebe os capitais sofrer influência na formação
de seu câmbio real, se a taxa de juros real interna é superior a externa, o câmbio
não mais determina o equilíbrio entre a entrada e saída da moeda estrangeira. A
diferença de juros entre os países e de taxas cambiais tornam-se então o
principal atrativo.
Já que as argumentações teóricas não podem ser
sustentadas pela observação da realidade, o que torna os posicionamentos do
mercado e de seus defensores claramente ideológicos, parece legítimo que os
emergentes encontrem, na política econômica interna, um sistema de proteção a
esta nova onda do sistema financeiro.
[i] Professora
do Departamento de Economia da UFPB e pesquisadora do Progeb – Projeto
Globalização e Crise na Econ omia
Brasileira. (www.progeb.blogspot.com)
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