Semana de 17 a 23 de junho de 2013
Nelson Rosas Ribeiro[i]
Os gritos dos protestos
continuam a ecoar nas ruas e nas praças. Toda a imprensa, falada e escrita,
repete as notícias e já não sabemos se são manifestações de ontem, de hoje ou
de amanhã. Políticos envergonhados escondem-se em seus gabinetes, de onde dizem
e desdizem o que disseram com total descaramento à medida que crescem os
protestos. A realidade tem obrigado todos a reconhecerem a legitimidade das
manifestações. Mas, de imediato, passam a criticar, denunciar e ameaçar os “baderneiros,
vândalos”, etc., responsáveis pelos atos de violência e depredações do
patrimônio público e privado.
É claro que em
manifestações que envolvem a participação de milhares de pessoas, a
possibilidade de violências estará sempre presente, mais ainda quando a
multidão se confronta com forças de repressão agressivas e despreparadas para
enfrentar tais situações, ou melhor, treinadas para a repressão brutal e
indiscriminada. As violências vão se generalizando diante dos olhos da nação e
dos políticos incapazes de compreender o que se está passando.
Embora muitas conclusões
possam ser tiradas dos acontecimentos e muitos estudos ainda sejam necessários,
gostaríamos de destacar duas grandes lições que daí se derivam.
A primeira é o fato de
que nenhum político, partido, entidade sindical ou associação de qualquer
natureza esteja convocando ou liderando as manifestações. Isto demonstra a
falência da “democracia” tal como a conhecemos no Brasil. A multidão não se
sente representada por nenhuma organização ou instituição das existentes no
país e, nestas circunstâncias, explode em ações de revolta.
A segunda lição é que,
embora deflagradas contra o aumento das passagens de ônibus, as ações mostram o
descontentamento com a ação do estado em relação à saúde, educação, saneamento,
mobilidade, segurança, etc., e com a corrupção e impunidade dos que ocupam
cargos públicos nos poderes legislativo, executivo, judiciário, nacionais ou
locais.
A grande conclusão que
podemos tirar é que a “democracia” em funcionamento no país hoje faliu. É
preciso, com urgência, criar outra antes que seja tarde demais.
Excluindo-se os atos
criminosos, as ações das quadrilhas, que realizam roubos, arrastões, assaltos
diariamente, e com mais facilidade passaram a agir no meio dos protestos, a
maioria dos atos chamados de vandalismo não passaram de formas de manifestação
violenta, da fúria reprimida das pessoas, em desespero e sem conseguir atingir
os responsáveis pelos desmandos, bem protegidos pelas togas, gravatas, carros
blindados, forças armadas, etc.
Na impossibilidade de
atingir os responsáveis, a multidão atira-se contra os símbolos do poder. É só
mostrar onde podem ser encontrados os Renans, Sarneys da vida, e o povo não
mais destruirá assembleias, câmaras, tribunais, palácios, etc.
O pior é que tudo está
ocorrendo em um momento de grande instabilidade da economia mundial, agravado
pela ameaça de mudança da política monetária do Banco Central dos EUA (Fed),
anunciada em um pronunciamento de seu presidente Ben Bernanke. Segundo ele, o
Fed prepara-se para encerrar o afrouxamento quantitativo (QE), ou seja,
reduzirá suas emissões de dólares que tem enchido os cofres dos bancos e
alimentado a especulação. Isto foi o bastante para provocar o desespero dos
especuladores e o deslocamento de vultosas quantias de dólares em busca de
maiores rendimentos, provocando alterações cambiais no mundo inteiro e quedas
nas bolsas.
É claro que esta situação
agrava a instabilidade da economia brasileira que vem desacelerando seus ritmos
de crescimento e revivendo o fantasma da inflação, o que se soma à ameaça da
desaceleração da China, um dos nossos maiores parceiros comerciais.
Incapaz de dar uma solução
satisfatória para os problemas apresentados pelas multidões enfurecidas, entre
os quais destaca-se a corrupção que corrói o seu próprio partido, está ficando
difícil a situação do governo Dilma, em campanha para a reeleição.
[i] Professor
Emérito da UFPB e Coordenador do Progeb – Projeto Globalização e Crise na
Economia Brasileira progeb@ccsa.ufpb.br);
(www.progeb.blogspot.com).
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