quarta-feira, 5 de junho de 2013

E a Infraestrutura, como vai?

Semana de 03 a 09 de junho de 2013


Antonio Carneiro de Almeida Júnior [i]


Após a recente divulgação, pelo IBGE, do crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro no 1º trimestre de 2013, que foi de 0,53% em relação ao 4º trimestre de 2012, o jornalismo econômico não para de discutir as causas deste fraco desempenho. Vários economistas apontam uma série de problemas estruturais que devem ser solucionados. Parece consenso que um dos principais é a debilidade infraestrutural.
Para José Márcio Camargo, economista da Opus Investimentos e professor da PUC-Rio, da série de gargalos existentes na economia brasileira, o principal é a baixa qualidade da infraestrutura. Juntando-se ao coro, Gray Newman, economista-chefe para a América Latina do Morgan Stanley, destaca que, dos três desafios que o Brasil deveria vencer para melhorar a produtividade, “O primeiro deles é a infraestrutura física. É muito importante o que as autoridades farão para melhorar estradas, portos, ferrovias e aeroportos”. Então, que está sendo ou será feito?
No que tange à logística, a coisa não vai bem. Diante da difícil situação da malha rodoviária, principal sistema logístico do país, a privatização foi adotada como solução. Atualmente, há sete trechos em processo de privatização. Já foi anunciado pelo governo, no entanto, que os pedágios destes trechos poderão ficar até 62,33% mais caros do que o previsto. Ao que parece, o frete médio brasileiro, que, de acordo com estudo da Fiesp (dados de 2010), é de US$51,75 por cada mil toneladas por quilômetro, valor 270% maior do que o padrão de excelência internacional, não será reduzido tão cedo.
Em relação aos portos, apesar de ter prometido realizar, ainda este ano, as primeiras concorrências que serão abertas, nos próximos meses, com a publicação dos editais de licitação de 159 terminais, duvida-se que o governo tenha capacidade de fazê-lo. Isso porque, de acordo com Sérgio Aquino, sócio da Soluções Portuárias Aplicadas, após implementação, nos anos 2000, de medidas contra a corrupção, os processos licitatórios, que antes duravam de seis a oito meses, passaram a durar de dois a três anos. Isto se traduz numa média de 0,58 novos terminais por ano, número que, segundo os usuários, está abaixo da demanda por nova capacidade.
Na área de telecomunicações, privatizada há alguns anos, o nível de oligopolização da telefonia móvel retarda constantemente a implementação de novas tecnologias. Não há muito tempo que operadoras foram proibidas de vender novas linhas em virtude da qualidade dos seus serviços. A Tim, por exemplo, assim como outras operadoras, foi obrigada a fazer grandes investimentos em melhoria dos serviços para que esta decisão fosse revogada. Adotou recentemente uma tecnologia, a VDS-TC, que reduzirá seus custos operacionais de 20% a 30%. Ou seja, a lucratividade do setor é tão alta que bloqueia os avanços tecnológicos prejudicando os consumidores. Só com imposições legais conseguem melhorar os seus serviços e ganhar mais dinheiro.
Para completar nosso quadro, no campo, a tão falada transposição do rio São Francisco, que se arrasta há nove anos e custará mais da metade do previsto, é de fazer rir. Dos vários problemas da obra, um dos mais cômicos é a falta de saneamento básico na cidade de Monteiro (PB), fim da rota do projeto. O problema é que, como a água será despejada no Rio Paraíba para então seguir para vários açudes, caso não seja feito o saneamento, distribuir-se-á água poluída pelas populações a serem beneficiadas.
Tudo que aqui dissemos foi certificado por profissionais, pesquisadores e institutos de pesquisa públicos e privados de reconhecimento nacional e internacional.
 Cabe então a pergunta: seria esta uma posição pessimista ou a pura realidade?
 Nos parece que o personagem com resposta mais apurada à pergunta que fizemos no título da presente análise é o protagonista do vídeo “Tava ruim, tava bom, mas parece que piorou”, viral com mais de 800 mil acessos na internet. Nele, o indivíduo não identificado afirma: “‘Dá’ pra melhor, com certeza. Quer dizer que ia ‘mudar melhor’, que... Já ‘tava bão’. Disse que ia mudar ainda pra melhor. ‘Num tava muito bão’. ‘Tá mei’ ruim também, ‘tava’ ruim. Agora parece que piorou...”



[i] Doutorando em Desenvolvimento Econômico pelo PPGDE/UFPR e pesquisador do Progeb – Projeto Globalização e Crise na Economia Brasileira progeb@ccsa.ufpb.br); (www.progeb.blogspot.com).

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