quinta-feira, 13 de junho de 2013

Guerra Ministerial?

Semana de 03 a 09 de junho de 2013


Lucas Milanez de Lima Almeida[i]




            No fim do mês passado, mais precisamente no dia 29 de maio, muitas notícias oficiais sobre a conjuntura afloraram. Primeiro foi a divulgação do PIB brasileiro do primeiro trimestre do ano, que se elevou apenas 0,6% ante o PIB do 4º trimestre de 2012. Mais tarde veio o consenso (já que a decisão foi unânime) do Copom, que aumentou a dose de juros básicos em 0,5 ponto percentual, trazendo novamente a Selic para as proximidades das dezenas, com 8% ao ano.
Atualmente, estes são os assuntos mais quentes e que mais rodam nos debates e comentários dos economistas brasileiros.
            Para Fernando Cardim de Carvalho, professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro, o resultado do PIB não foi tão ruim, quando comparamos com alguns países desenvolvidos. Porém, como ele mesmo afirmou, o resultado PIB “parece pior em comparação com a retórica insensatamente triunfalista que às vezes o governo parece empregar”.
            É válido registrar que o crescimento do começo deste ano se deu, essencialmente, no setor agrícola (9,7%), que, dentre outras coisas, têm o clima como fator preponderante, ou seja, algo que o homem não controla. O setor de serviços, entretanto, cresceu 0,5%, enquanto a indústria caiu 0,3%. Sob a ótica da demanda, foi o crescimento dos investimentos, de 4,6%, quem puxou tais números. Já o consumo do governo se manteve constante e o consumo das famílias saiu, de um crescimento de 1%, no 4º trimestre de 2012, para um crescimento de 0,1%, nos três primeiros meses de 2013.
Voltando à “retórica insensatamente triunfalista”, o principal falador do governo é, sem dúvidas, o Ministro da Fazenda, Guido Mantega. A taxa prevista no Orçamento Federal de 2013 era de um crescimento do PIB de 3,5%. Com o dado trimestral divulgado pelo IBGE (0,6%), que corresponde a um crescimento anualizado de 2,2%, as estimativas do Ministro mudaram e, em suas palavras, “certamente vamos rever esse número”.
            Sempre com previsões bem pra lá de otimistas, o chefe de grande parte das últimas políticas fiscais terminou por escorregar e mostrar uma opinião sensata. Quando perguntado se o atual nível da taxa de câmbio, que passou dos R$ 2,14 por dólar, na última semana, seria um novo patamar pós-crise mundial, Mantega respondeu: “Não diria que já é o pós-crise. Acho que estamos no final da crise”.
            De fato, a crise ainda não acabou, e o governo sabe disso. Porém, nosso Estado democrático de direito, que, sucessivamente, estimulou os empresários a aumentarem seus lucros por meio de incentivos e desonerações, resolveu frear o bonde. Foi o que disse Guido Mantega: “Já fizemos várias medidas de estímulo. Do ponto de vista da taxa de juros, é a mais baixa dos últimos tempos. Não pretendemos fazer estímulo ao consumo, que tem de se recuperar a partir do dinamismo dos investimentos. Os estímulos ao investimento estão todos em cima da mesa. Não prevemos novos estímulos”.
            Caro leitor, nas entrelinhas desta declaração, especificamente na 1ª e 2ª linhas, apareceu o gancho para o nosso segundo tema quente. A taxa de juros.
            Esta declaração do Ministro não ocorreu à toa. A inflação no mês de maio, medida pelo IPCA, chegou a 0,37%. Nos últimos 12 meses, a variação de preços totalizou 6,5%, que é o limite máximo admitido pelo governo. Por isso o Copom atuou e falou de maneira tão enérgica na sua última reunião: “O Copom destaca que, em momentos como o atual, a política monetária deve se manter especialmente vigilante, de modo a minimizar riscos de que níveis elevados de inflação como o observado nos últimos doze meses persistam no horizonte relevante para a política monetária”. Diante da vigilância, muitos especuladores já apostam que, ao fim do ano, a taxa Selic estará em 9%.
            Para o já referido professor Cardim, o país ainda está longe de uma estagnação econômica aliada a uma inflação elevada, a temida estagflação. De fato, estamos longe dos terríveis anos 1980/1990. Porém, não podemos fechar os olhos para a realidade: a atividade econômica anda tal qual um caranguejo, de lado, enquanto a inflação segue a diante.
            A aparente resolução deste problema (aparentemente contraditório) termina recaindo sobre dois ministros, um de verdade e outro com status de tal: Guido Mantega e Alexandre Tombini.
            É! ... Pelo visto teremos guerra ministerial de novo...



[i] Professor do Departamento de Economia da UFPB e pesquisador do Progeb. (www.progeb.blogspot.com; lucasmilanez@hotmail.com)

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