Semana de 03 a 09 de junho
de 2013
Lucas Milanez de Lima
Almeida[i]
No fim do mês passado, mais precisamente no dia 29 de
maio, muitas notícias oficiais sobre a conjuntura afloraram. Primeiro foi a divulgação
do PIB brasileiro do primeiro trimestre do ano, que se elevou apenas 0,6% ante
o PIB do 4º trimestre de 2012. Mais tarde veio o consenso (já que a decisão foi
unânime) do Copom, que aumentou a dose de juros básicos em 0,5 ponto
percentual, trazendo novamente a Selic para as proximidades das dezenas, com 8%
ao ano.
Atualmente, estes são os
assuntos mais quentes e que mais rodam nos debates e comentários dos economistas
brasileiros.
Para Fernando Cardim de Carvalho, professor da
Universidade Federal do Rio de Janeiro, o resultado do PIB não foi tão ruim,
quando comparamos com alguns países desenvolvidos. Porém, como ele mesmo
afirmou, o resultado PIB “parece pior em comparação com a retórica
insensatamente triunfalista que às vezes o governo parece empregar”.
É válido registrar que o crescimento do começo deste ano
se deu, essencialmente, no setor agrícola (9,7%), que, dentre outras coisas,
têm o clima como fator preponderante, ou seja, algo que o homem não controla. O
setor de serviços, entretanto, cresceu 0,5%, enquanto a indústria caiu 0,3%.
Sob a ótica da demanda, foi o crescimento dos investimentos, de 4,6%, quem
puxou tais números. Já o consumo do governo se manteve constante e o consumo
das famílias saiu, de um crescimento de 1%, no 4º trimestre de 2012, para um
crescimento de 0,1%, nos três primeiros meses de 2013.
Voltando à “retórica
insensatamente triunfalista”, o principal falador do governo é, sem dúvidas, o
Ministro da Fazenda, Guido Mantega. A taxa prevista no Orçamento Federal de
2013 era de um crescimento do PIB de 3,5%. Com o dado trimestral divulgado pelo
IBGE (0,6%), que corresponde a um crescimento anualizado de 2,2%, as
estimativas do Ministro mudaram e, em suas palavras, “certamente vamos rever
esse número”.
Sempre com previsões bem pra lá de otimistas, o chefe de
grande parte das últimas políticas fiscais terminou por escorregar e mostrar uma
opinião sensata. Quando perguntado se o atual nível da taxa de câmbio, que
passou dos R$ 2,14 por dólar, na última semana, seria um novo patamar pós-crise
mundial, Mantega respondeu: “Não diria que já é o pós-crise. Acho que estamos
no final da crise”.
De fato, a crise ainda não acabou, e o governo sabe
disso. Porém, nosso Estado democrático de direito, que, sucessivamente, estimulou
os empresários a aumentarem seus lucros por meio de incentivos e desonerações,
resolveu frear o bonde. Foi o que disse Guido Mantega: “Já fizemos várias
medidas de estímulo. Do ponto de vista da taxa de juros, é a mais baixa dos
últimos tempos. Não pretendemos fazer estímulo ao consumo, que tem de se
recuperar a partir do dinamismo dos investimentos. Os estímulos ao investimento
estão todos em cima da mesa. Não prevemos novos estímulos”.
Caro leitor, nas entrelinhas desta declaração,
especificamente na 1ª e 2ª linhas, apareceu o gancho para o nosso segundo tema
quente. A taxa de juros.
Esta declaração do Ministro não ocorreu à toa. A inflação
no mês de maio, medida pelo IPCA, chegou a 0,37%. Nos últimos 12 meses, a
variação de preços totalizou 6,5%, que é o limite máximo admitido pelo governo.
Por isso o Copom atuou e falou de maneira tão enérgica na sua última reunião: “O
Copom destaca que, em momentos como o atual, a política monetária deve se
manter especialmente vigilante, de modo a minimizar riscos de que níveis
elevados de inflação como o observado nos últimos doze meses persistam no
horizonte relevante para a política monetária”. Diante da vigilância, muitos
especuladores já apostam que, ao fim do ano, a taxa Selic estará em 9%.
Para o já referido professor Cardim, o país ainda está
longe de uma estagnação econômica aliada a uma inflação elevada, a temida
estagflação. De fato, estamos longe dos terríveis anos 1980/1990. Porém, não
podemos fechar os olhos para a realidade: a atividade econômica anda tal qual
um caranguejo, de lado, enquanto a inflação segue a diante.
A aparente resolução deste problema (aparentemente
contraditório) termina recaindo sobre dois ministros, um de verdade e outro com
status de tal: Guido Mantega e Alexandre Tombini.
É! ... Pelo visto teremos guerra ministerial de novo...
[i] Professor
do Departamento de Economia da UFPB e pesquisador do Progeb.
(www.progeb.blogspot.com; lucasmilanez@hotmail.com)
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