Semana de 15 a 24 de julho de 2013
Nelson Rosas Ribeiro[i]
A economia mundial
arrasta-se pelos mesmos caminhos que temos apontado em nossas análises. Os
dados da semana apenas confirmam as tendências. O ciclo econômico continua sua
marcha mantendo-se na passagem das fases crise-depressão por um tempo
anormalmente prolongado. Poucos são os sinais que indicariam a transição para a
fase de reanimação. Este prolongamento é uma característica particular do ciclo
atual.
O núcleo mais crítico da
crise estacionou sobre a União Europeia (UE) e particularmente sobre a zona do
euro. A situação de impasse nos países conhecidos como PIIGS (Portugal,
Islândia, Itália Grécia e Espanha) se mantem. Os gigantes Alemanha e França
enfrentam dificuldades. A notícia que marcou a semana foi o pedido de
concordata da gigante multinacional Pescanova S.A., empresa de pesca com sede
na Espanha, que emprega mais de 10.000 pessoas em 26 países e que acumulou uma
dívida de 3,28 bilhões de euros. É considerada a terceira maior concordata da
história da Espanha.
As dificuldades de
crédito fizeram o Banco Central Europeu (BCE) mudar os seus critérios de
aceitação de garantias para a concessão de empréstimos ao setor bancário. O BCE
decidiu aceitar títulos de dívidas de pequenas empresas, recebíveis de cartões
de crédito, financiamentos de automóveis, etc. São títulos chamados de ABS
(Asset Backed Securities) de má reputação e que eram recusados anteriormente,
após a crise de 2008.
Da China também não
chegam boas novas. Continuam as notícias sobre desaceleração e é previsto o
mais fraco crescimento do PIB desde 1990. As estimativas variam em torno de
7,5%, com tendência para baixa. No segundo trimestre, todos os setores
apresentaram fraco crescimento. O Fundo Monetário Internacional (FMI)
demonstrou preocupação com a situação e sugeriu medidas de reformas estruturais
nos setores financeiro e fiscal. Previu ainda a possibilidade do crescimento da
China cair para 4% com possibilidades de falências e perdas financeiras.
Dos EUA, sopram melhores
ventos. O Federal Reserve (Fed), Banco Central Americano, prevê uma taxa de
crescimento moderada e as estimativas estão em torno de 2%, embora o ritmo de
1,8%, obtido no primeiro trimestre, tenha caído para 1%, no segundo. O sistema
bancário, porém, encontra-se no melhor dos mundos e as preocupação são como
esconder os lucros elevados que estão esperando receber. O J. P. Morgan, por
exemplo, espera receber US$ 25 bilhões ou mais este ano. O Goldman Sachs dobrou
seu lucro líquido no segundo trimestre atingindo o valor de US$ 1,93 bilhão,
ultrapassando os US$ 962 milhões obtidos em 2012. Elevados lucros também foram
reportados pelo Citigroup, Bank of America e Wells Fargo. Fala-se em uma “nova
e menos controversa era em Wall Street”.
No Brasil as notícias não
são boas. A tendência para a queda no preço das commodities, o fortalecimento
do dólar, as mudanças na política monetária dos EUA, a resistência da inflação,
a ameaça de fuga de capitais, o endividamento das famílias, etc., agravam os
baixos ritmos de crescimento do PIB, cuja estimativa giram em torno de 2%. Para
piorar a situação, a arrecadação da Receita Federal, em junho, ficou 5 bilhões
abaixo do previsto, comprometendo a meta de 2,3% do PIB para o superávit
primário que, de acordo com o BC, terá uma alteração na metodologia dos cálculos,
passando agora a ser um “superávit primário estrutural”. O objetivo é corrigir
e impedir os trambiques do governo na contabilidade com os “truques contábeis e
outras artimanhas”.
O pessimismo dos agentes
econômicos aumenta, agravado pela onda de protestos que assolou o país.
Em boa hora chegou o Papa
Francisco para desviar as atenções do povo das nossas desgraças
e semear as esperanças na sua intermediação junto a Deus que, como ele mesmo
disse, é brasileiro.
Vamos aguardar para ver.
[i] Professor
Emérito da UFPB e Coordenador do Progeb – Projeto Globalização e Crise na
Economia Brasileira progeb@ccsa.ufpb.br);
(www.progeb.blogspot.com).
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