Semana de 01 a 07 de julho de 2013
Eric Gil Dantas [i]
O governo ainda tateia
respostas às grandes manifestações que varreram o Brasil no último mês. Em três
semanas, segundo pesquisa da Datafolha, a popularidade da presidente Dilma –
somando os que avaliam o seu governo entre ótimo e bom – caiu 27 pontos, saindo
de 57%, na primeira semana de junho, para 30%, depois dos grandes protestos.
Entre as insatisfações
apontadas, não concentradas em uma só bandeira, apesar da diminuição da tarifa
ter sido a sua principal, está também uma economia que não para de escorregar. Os
números da indústria brasileira divulgados na última semana, pelo IBGE, mais
uma vez, preocupam. A queda da produção física, em maio, foi de 2%, ante o mês
de abril. A Confederação Nacional da Indústria (CNI) já diminuiu a previsão de
crescimento do PIB industrial do ano de 2013, de 2,6%, para 1%. Para o PIB
geral a queda da previsão da instituição foi de 3,2%, para 2%.
O outro dado preocupante,
divulgado também pelo IBGE, foi o da inflação do mês de junho. No acumulado dos
últimos 12 meses ela estourou o teto da meta (de 6,5%) ficando em 6,7%. Entre
os componentes principais apontados para este aumento da inflação está o
aumento do dólar, cuja cotação se aproximava dos R$2,28, um dos maiores valores
dos últimos anos. Com isto, como a eterna receita do Banco Central manda, na
reunião desta semana do Comitê de Política Monetária (COPOM) a taxa básica de
juros (a SELIC) deverá ser novamente elevada, como política anti-inflacionária.
A SELIC, que hoje está em 8,75%, deverá ter um aumento igual ao do mês de maio,
quando subiu 0,5%. Segundo a pesquisa Focus, pesquisa semanal feita pelo Banco
Central, esta taxa deverá terminar o ano de 2013 em 9,25%.
Em meio a todas estas
dificuldades, o ministro da fazenda, Guido Mantega, deverá ainda anunciar um
corte de gastos públicos da ordem de 15 bilhões de reais, para garantir o
superávit primário (economia feita pelo governo para pagamento de juros da
dívida pública) cuja meta foi estabelecida em 2,3% do PIB brasileiro, o que
equivaleria a cerca de R$63,1 bilhões. O corte não deverá agradar muito os
parlamentares, já que a previsão da maior parte dos cortes é de emendas
parlamentares ao orçamento federal de 2013, que está em cerca de R$7 bilhões.
Para completar o quadro
da complicada economia brasileira, temos uma queda dos preços das principais
commodities de exportação brasileiras, o que tem sustentado parte do
crescimento do país, na última década. Nas três primeiras semanas de junho, das
23 principais commodities mais importantes na exportação, relacionadas pelo
Ministério do Desenvolvimento, 16 tiveram queda em relação ao preço médio do
mesmo mês do ano anterior. O café caiu 24,7%, o minério de ferro 19%, e a soja
1,5%, para apenas citar alguns exemplos.
Este movimento está
ligado à desaceleração da economia global, principalmente de países emergentes,
como a China, que ajudaram a compensar a queda dos EUA e da Europa, nos últimos
anos. O índice dos gerentes de compras do setor manufatureiro chinês, medido
pelo HSBC, recuou para 48,2 em junho, comparado a 49,2, em maio (abaixo de 50
quer dizer contração da produção manufatureira). E isto impactou diretamente o
Brasil, que tem a China como seu principal parceiro comercial desde 2009, já
que houve um menor crescimento na produção de equipamentos de mineração e de
matérias-primeiras.
Além do Brasil, isto tem
impacto em todos os nossos vizinhos sul-americanos. O Chile que, neste ano, já
sente a queda de 13% do cobre, seu principal produto de exportação, deverá
crescer abaixo dos 5% pela primeira vez em quatro anos. Já o Peru, que havia
crescido 6,3% no ano passado, já tem perspectiva de queda, com a diminuição dos
preços do ouro e do cobre.
A conclusão que podemos tirar é que, cada vez mais,
caminhamos para uma situação onde não há dinheiro fácil. Os fluxos de capital
privado para os mercados emergentes, que entre 2009 e 2012, chegaram a US$4,2
trilhões, começam a cessar, e o fluxo monetário retoma a direção dos EUA, para compra de títulos, que apesar da baixa
rentabilidade, ainda são o porto seguro do capitalismo.
[i] Economista
e mestrando no Programa de Pós-graduação em Ciência Política da Universidade Federal
do Paraná; é pesquisador do ILAESE (Instituto Latino-americano de Estudos
Socioeconômicos) e do Progeb (Projeto Globalização e Crise na Economia
Brasileira) (progeb@ccsa.ufpb.br);
(www.progeb.blogspot.com).
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