Semana de 29 de julho a 04 de agosto de 2013
Rosângela Palhano Ramalho
[i]
Não dá mais para negar. Os países emergentes, este ano, deixarão
de ser “a menina dos olhos” do mundo. Se havia esperanças de que eles iriam salvar
o planeta da crise, estas, definitivamente acabaram de morrer. As projeções de
crescimento para a economia mundial estão caindo vertiginosamente. Com um
título bem sugestivo, o documento “Dores do crescimento” do FMI, registrou a
revisão para baixo, em sua maioria, das estimativas de crescimento dos países.
O crescimento mundial também foi revisado de 3,3% para 3,1% e o dos emergentes
caiu de 5,3% para 5%.
Segundo o economista-chefe do FMI, Olivier Blanchard, se o
resultado for 2% menor do que o projetado pela instituição, isto geraria, por
exemplo, uma queda da economia americana em 0,5%.
A previsão do FMI para os Estados Unidos foi rebaixada de
1,9% para 1,7% e nem mesmo algumas boas notícias vindas de lá animaram o
cenário econômico. Os americanos esperam, no segundo trimestre, crescer a uma
taxa anualizada de 1,7% do PIB. Mas a revisão da série histórica tem fechado os
números em valores bem abaixo daqueles esperados. O que pode contribuir para a
queda dessa taxa é o mau desempenho da economia, entre abril e junho, que ficou
abaixo da média trimestral de 2,2%. Embora a geração de empregos tenha atingido
200 mil, em julho, e os preços dos imóveis tenham subido, ainda não há sinais sólidos
da retomada econômica americana, daí a cautela do Federal Reserv (Fed), Banco
Central dos EUA, em reduzir os estímulos monetários.
Na Europa, como era de se esperar, as previsões são
piores. O FMI rebaixou a previsão de encolhimento do PIB da União Europeia, que
era de -0,4% e passou para -0,6%.
Caberia então, aos emergentes, a salvação da economia
mundial. Mas, os Brics (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul), estão
com o crescimento comprometido em 2013. A revisão para baixo feita pelo FMI,
foi de 3,4% para 2,5% para a Rússia, de 5,8% para 5,6% para a Índia, de 8,1%
para 7,8% para a China e de 3% para 2,5% para o Brasil.
Aqui, no Brasil, alguns órgãos já haviam revisto suas
previsões. A Confederação Nacional da Indústria (CNI) já havia reduzido a
estimativa para 2%. No fim de junho, o Banco Central cortou sua previsão de 3,1%
para 2,7% e a projeção atual do mercado, segundo o Boletim Focus, já caiu para 2,24%.
Na tentativa de salvar o crescimento econômico e, por
consequência, garantir a reeleição de Dilma, o governo, e principalmente os
petistas, responsabilizam o “exagerado pessimismo” que foi instaurado pelos
problemas econômicos.
Para “driblar” este “pessimismo”, o governo, acompanhado
por alguns economistas a seu soldo, procura enaltecer alguns números
recém-divulgados. A produção industrial, por exemplo, que havia apresentado
queda de 2%, entre abril e maio, voltou a crescer em junho. Se comparado a maio,
o aumento foi de 1,9%. O segundo trimestre do ano fechará provavelmente com um
crescimento de 1,7%, resultado melhor que o do primeiro trimestre de 0,6%. O
setor de bens de capital cresceu 6,3% no mês, comparado a maio, e acumula alta
de 13,8% no semestre. Este é o número mais favorável.
Mas o que dizer desta estatística isolada? Embora os
números reacendam a discussão de que a “retomada gradual” da nossa economia é
visível, não se pode afirmar que estamos na fase de reanimação. O bom
desempenho do setor de bens de capital, que deveria, em tese, garantir a
retomada dos investimentos industriais, esconde em suas estatísticas dois
subsetores que acabam por inflar os dados: o de caminhões e máquinas agrícolas.
Devido à boa safra agrícola, principalmente, esses dois subsetores contribuíram
para a alta dos bens de capital, mas em nada estão contribuindo para o aumento
da capacidade produtiva industrial.
Será então que o Brasil está recuperando o vigor
econômico? Segundo o ministro da Fazendo, Guido Mantega, sim. Ao comentar as
estatísticas, declarou que a produção industrial vai “muito bem, obrigado”.
Ainda, segundo ele, se em seis meses de observação, quatro apresentam crescimento
e dois têm resultado negativo, prevalece o crescimento. É uma forma bem
particular de ver os números.
[i] Professora
do Departamento de Economia da UFPB e pesquisadora do Progeb – Projeto
Globalização e Crise na Economia Brasileira. (www.progeb.blogspot.com)
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