Semana de 22 a 28 de julho
de 2013
Lucas Milanez de Lima
Almeida[i]
Esta semana que passou foi marcada pela visita do Papa
Francisco ao Brasil, durante a Jornada Mundial da Juventude, fato que dominou
todo o noticiário dos principais jornais do país. Teólogos, padres e ex-padres
já veem o novo líder da igreja católica como sinal da mudança. O professor
Leonardo Boff, que já foi da Ordem Franciscana, afirmou que “Francisco mudará
muita coisa. Ele não está reformando somente a Cúria, está reformando o papado”.
Já para o padre José Oscar Beozzo, “O papa tem dito que a igreja tem que sair
da sacristia e ir para a periferia, para onde o povo está precisando. Não quer
uma igreja burguesa, acomodada”. Mas, por mais que o sumo pontífice tenha
abordado temas muito relevantes, nesta coluna somos obrigados a voltar para a
economia e dedicaremos nossa atenção ao estouro da economia da China, país que
já se auto denominou de socialista. Como esta afirmação pode parecer exagero, vamos
aos fatos.
Em toda a história da humanidade o homem precisou
produzir e, consequentemente, distribuir boa parte dos elementos que servem a
sua sobrevivência. Para isto, foi necessário criar e manusear os instrumentos e
meios que são usados durante o processo produtivo (máquinas, equipamentos,
matérias-primas, etc.). Ou seja, os meios de produção que servem para a criação
de outros meios de produção e, principalmente, dos meios de consumo (alimento,
vestuário, etc.).
Pois bem, estamos vendo há décadas a República Popular da
China transformar-se rapidamente numa economia capitalista. O principal agente
que trouxe esta mudança foi o partido “comunista” chinês. Não se sabe ao certo
o porquê, mas o Estado chinês mais parece com os antigos estados despóticos
orientais característicos do modo de produção asiático. O processo de
realização dos investimentos no país, em muito se assemelha à organização das
grandes obras dos sistemas de irrigação, nas chamadas sociedades hidráulicas e
das pirâmides, na civilização egípcia.
Segundo um artigo publicado no The Wall Street Journal,
“o governo faz planos de investimento e as empresas devem segui-los, quaisquer
que sejam as condições de mercado”. Ao desagregarmos a riqueza produzida, a
cada ano, na China podemos mensurar o que isto significa. Desde a década de
1990, para cada US$ 100 contabilizados no Produto Interno Bruto (PIB), pelo
menos US$ 35 correspondiam a novos investimentos. Em 2012 este valor chegou a
US$ 48,1. No mesmo período, o máximo que o Brasil conseguiu foi uma proporção
de US$ 21 de investimento para cada US$ 100 de PIB. Porém, os números do país
asiático escondem um grande problema. Segundo os autores do texto, Dinny
McMahon e Bob Davis, “Ao comprimir em poucos anos o que normalmente seria uma
década de investimentos, a China apressou o fim da sua fase de crescimento
rápido. Muitos projetos [fábricas] foram duplicados, acabando por criar excesso
de oferta em todos os setores, da habitação ao aço, do cimento aos equipamentos
de energia solar”.
Para o economista americano Michael Pettis, professor da
Universidade de Pequim desde 2002, o governo precisa reequilibrar a economia. O
que ocorre atualmente é que “Com tanto investimento liderado pelo governo
central e pelos governos locais, e com a garantia desses governos de pagamento,
isso criou um déficit fiscal muito maior do que se vê nas estatísticas
oficiais”. Segundo ele, o déficit fiscal “real” da China está entre 10% e 25%
do PIB. Os suspeitos dados oficiais relatam um valor em torno de 2%.
A grande crítica feita pelos economistas ao modelo chinês
é a de que os investimentos por si só não garantem longos anos de bonança. Para
que o PIB siga uma trajetória de crescimento sustentável, sem haver um excesso
de capacidade produtiva, seria necessário reduzir os estímulos ao investimento
e fomentar o consumo das famílias.
Sem querer entrar na questão da desigualdade de renda,
que também contribui para a fraca demanda, digo que não há saída para o país.
Aquilo que é inevitável no capitalismo, e que, em algum momento, iria chegar à
China, a crise de superprodução de capitais, teve sua primeira manifestação
paradoxalmente antecipada pelo partido “comunista”.
O que aparenta ser apenas um desequilíbrio entre oferta e
demanda é muito mais do que um mau uso das políticas econômicas. Até porque, no
capitalismo, por se buscar apenas a expansão da riqueza com o objetivo de
produzir mais lucros, pouca importância se dá às necessidades sociais. Neste
sistema, a satisfação dos interesses individuais, quer seja dos empresários, quer
seja dos seus representantes, é o que dá a dinâmica à economia.
A China que o diga...
[i] Professor
do Departamento de Economia da UFPB e pesquisador do Progeb. (www.progeb.blogspot.com;
lucasmilanez@hotmail.com)
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