Semana de 19 a 25 de agosto de 2013
Rosângela Palhano Ramalho
[i]
Caro leitor. Ao iniciar esta análise, repetiremos o
discurso de que tudo se mantém como está. A recuperação das maiores economias,
Europa e Estados Unidos, continuam rastejantes, enquanto que as economias
emergentes preocupam. A indecisão do Federal Reserve (Fed), BC americano, em
conter o afrouxamento monetário, continua causando estragos. A migração de
retorno chamada de “tsunami monetário” acabou por acentuar os problemas dos
emergentes.
Índia e Brasil, por exemplo, têm sofrido com as saídas de
capital. A rúpia, moeda indiana, em agosto desvalorizou-se 4,21%. Mesmo assim,
o país descartou o uso de mais medidas para conter a saída de recursos e
afirmou que as reservas de US$ 279 bilhões serão suficientes para impedir a
desvalorização. Entre os emergentes, o nosso real, foi a moeda que mais se
desvalorizou, em agosto, 5,97%. O governo, que já admite uma alta da inflação,
teme que os resultados do câmbio contribuam para o aumento dos preços.
O diretor de Política Econômica do Banco Central, Carlos
Hamilton, ao comentar o índice de inflação de julho, em que o IPCA fechou com
uma pequena alta de 0,03%, o menor valor mensal desde 2010, apressou-se em
declarar que um valor tão pequeno não se repetirá até o fim do ano. Ou seja, a
queda de preços dos transportes e dos alimentos, verificadas mês passado, não
mais contribuirá para a redução do índice geral. Em sentido contrário, o
mercado cambial poderá contribuir para as próximas altas. Com efeito, já está
sendo registrada uma série de declarações da indústria confirmando o aumento de
preços no setor, justificado pela elevação dos preços dos insumos que afetam os
custos de produção.
Boas notícias só para aqueles que sugam e vivem dos
recursos oriundos do mercado financeiro e que acabam ditando os rumos da
política econômica. Com a alta do dólar, as perspectivas de inflação sobem,
consequentemente os juros futuros também se elevam e o pessimismo que é exagerado,
segundo Delfim Netto, se concretiza.
Alexandre Tombini, presidente do Banco Central, também
concorda que há um exagero de pessimismo em relação aos mercados de juros e
câmbio, mas tratou de fazer as vontades do “mercado” declarando que a “adequada
condução da política monetária contribui para mitigar riscos para a inflação, a
exemplo dos oriundos da depreciação cambial”. Isto significa que a atual
política de elevação dos juros será mantida. A declaração deve ter soado como
música para os ouvidos do sistema financeiro!
Resta então, à equipe econômica, render-se ao “mercado” e
lançar seu arsenal para tentar conter a desvalorização do real. O Banco Central
já fez intensas intervenções no câmbio, vendendo dólares no mercado futuro para
“acalmar” os “investidores”. Guido Mantega já admitiu que, se for preciso, o
Banco Central injetará um valor maior que os US$ 60 bilhões já lançados no
mercado.
Enquanto finalizo esta análise leio um discurso de
Mantega que classifica o momento atual como uma “minicrise”. Uma “minicrise”, uma
pequena “turbulência” que não pode ser comparada aos momentos vividos em 2011 e
2012. O fato é que o voo da economia brasileira há alguns anos, está muito
baixo e as turbulências cada vez mais frequentes. Enfrentar a “turbulência”
atual está saindo muito custoso para o governo. De um lado, há a pressão do
sistema financeiro por juros altos; do outro, a apatia dos empresários em
relação a retomada dos investimentos. E agora, o que fazer?
Se por um lado, o governo garante os rendimentos do
sistema financeiro, por outro, tem que admitir que a economia real não crescerá
tanto este ano. O Ministério da Fazenda, “repensou” sua estimativa de crescimento
para o PIB de 2013. A revisão derrubará o PIB de 3% para 2,5%, enquanto que a
previsão do Boletim Focus já se encontra em 2,2%.
Se dependermos, para crescer, das obras rodoviárias do
PAC (Programa de Aceleração do Crescimento), teremos que esperar mais sete
anos. As nove principais obras já apresentam atrasos que variam de dois a sete
anos, se for considerado o tempo decorrente entre a previsão da conclusão no
PAC I e o atual.
Mas a eleição acontecerá no próximo ano, e o governo não
pode esperar. Vamos aguardar o próximo arsenal, se ainda existir...
[i] Professora
do Departamento de Economia da UFPB e pesquisadora do Progeb – Projeto
Globalização e Crise na Economia Brasileira. (www.progeb.blogspot.com)
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