Semana de 04 a 10 de novembro de 2013
Nelson Rosas Ribeiro[i]
As notícias mais
importantes da semana vêm da China onde, entre os dias 9 e 12, realizou-se o
18º Congresso do Partido “Comunista”. Ainda não conhecemos as conclusões mas,
são anunciadas reformas “sem precedentes” com impacto “profundo” na sociedade,
segundo palavras do n° 4 do Comitê Permanente do Bureau Político do PCC. Os
dirigentes admitem que o crescimento baseado nas exportações e investimentos do
setor público criou enormes distorções e está esgotado. É preciso criar um novo
modelo baseado no consumo interno, liberalização e inovação financeira. Para
isto estão sendo esperadas medidas de desregulamentação das barreiras aos
investimentos estrangeiros que serão admitidos mesmo nas empresas estatais e
bancos. Deve-se ainda liberalizar o sistema financeiro, orientando-o para o
mercado e realizar uma reforma agrária com a transferência da atual propriedade
estatal da terra para 200 milhões de famílias na zona rural. Parece que o
capitalismo chinês passou a exigir, com mais força, a liquidação das relações
de produção características do modo de produção asiático ainda existentes no
país. Adeus comunas rurais!
No entanto, ainda não são
conhecidos os impactos que estas mudanças provocarão na economia mas há
unanimidade no reconhecimento que as taxas de crescimento desacelerarão.
Esta é também a
expectativa para a economia dos EUA. Espera-se que as taxas de crescimento do
Produto Interno Bruto (PIB) se mantenham abaixo da média de 3,5% que marcou o
período, desde a segunda guerra mundial, até os anos 2008/2009. Na tentativa de
tirar o país do fundo do poço o Federal Reserve (Fed), banco central americano,
não tem medido esforços. Pretende manter a taxa de juros básica abaixo de 0,25%
pelo tempo que for necessário, e o afrouxamento monetário (Q.E) que vem
praticando com o lançamento de US$ 85 bilhões por mês, para a compra de
títulos, o que tem como resultado transferir “títulos podres” dos bancos
privados para os cofres do Fed. Apesar desta ajuda, a economia se arrasta e o
investimento público está no pior nível desde a segunda guerra mundial.
Outro fato que
surpreendeu os analistas foi a redução dos juros básicos feito pelo Banco
Central Europeu (BCE), de 0,5% para 0,25%. Além disso, Mário Draghi, presidente
do Banco, declarou que não vai ficar por aí. O BCE usará todas as armas de que
dispõe para recuperar a economia da União Europeia (UE). Com isto o BCE
juntou-se aos principais BCs do mundo que adotaram taxas de juros próximas de
zero.
Neste ambiente de
incertezas a situação dos emergentes também preocupa. Suas economias estão em
processo de desaceleração e já não se espera que eles possam desempenhar
qualquer papel em um processo de recuperação, agravando o quadro geral e com
consequências para o comércio mundial. Aliás, a Organização Mundial do Comércio
(OMC) já reduziu para 2,5% sua previsão de crescimento do comércio mundial no
ano de 2013.
No Brasil, as coisas
também andam mal. O Boletim Focus do BC reduziu as estimativas para o
crescimento da produção industrial, de 1,8%, para 1,77%, em 2013. Para o PIB
estas estimativas estão em 2,5%. O déficit fiscal continua a causar
preocupações e, em setembro ele atingiu R$ 9 bilhões. A inflação também preocupa,
os empresários perderam a confiança no governo, o câmbio voltou a sofrer fortes
pressões de alta, que tendem a se agravar, e as agências de avaliação de risco
ameaçam rebaixar a nota do país. O diretor de risco soberano da Standard &
Poor’s afirmou que o Brasil se encontra em desvantagem para enfrentar as
dificuldades que se avizinham, pelo esgotamento de sua política fiscal (diante
da elevada dívida pública), pelas limitações da política monetária (por causa
da alta inflação) e pelo baixo crescimento.
Mesmo diante deste quadro
pouco animador, o nosso BC continua implacável na elevação da taxa de juros
Selic, fiel ao seu culto à ideologia do saci macroeconômico. Já está no ar a
opinião de que, na próxima reunião do Copom, esta taxa subirá dos 9,5% atuais
para 10%, atingindo a barreira dos dois dígitos, sob os aplausos dos bancos, de
todo o setor financeiro e dos especuladores e para a tristeza da presidente
Dilma, em vésperas de eleições.
Viva a autonomia do BC
dos banqueiros!
[i] Professor
Emérito da UFPB e Coordenador do Progeb – Projeto Globalização e Crise na
Economia Brasileira progeb@ccsa.ufpb.br);
(www.progeb.blogspot.com).
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