Semana de 11 a 17 de novembro de 2013
Rosângela Palhano Ramalho
[i]
A crise continua a arrastar a economia mundial. Os sinais
de recuperação são incertos tanto nos países ricos quanto nos emergentes. Nos
Estados Unidos, diagnosticou-se a falta de fôlego na economia. A inflação
baixa, com taxas mensais que variam entre 0,1% e 0,2%, segundo os analistas,
denota a recuperação modesta da economia, que permanece com desemprego elevado
e salários estagnados. Já na Europa, tudo continua na mesma. Como destacado na
última análise, a novidade foi a redução dos juros pelo Banco Central Europeu,
de 0,5% para 0,25%. Nos emergentes, a esperança de crescimento econômico do
mundo, está se esvaindo. A Rússia, por exemplo, já declarou, em virtude do
decepcionante crescimento de 1,2%, no terceiro trimestre, que a taxa anual não
ultrapassará 1,6%. Este seria o pior desempenho da economia russa desde a crise
de 2008-2009.
Aqui no Brasil, os sinais que vêm das últimas
estatísticas divulgadas, também não são animadores. A indústria, segundo a
Confederação Nacional da Indústria (CNI), deve registrar um melhor desempenho
no terceiro trimestre comparado ao segundo. A instituição ressalta que o
aumento de 0,4% do faturamento real do setor, se deve à venda dos produtos que
estavam estocados. Com a diminuição dos estoques, espera-se que os números do
quarto trimestre melhorem. Mas, a formação bruta de capital fixo, indicador
utilizado para mostrar o nível de investimentos no país, provavelmente fechará
o ano com queda. Já no terceiro trimestre, espera-se uma redução de 1% a 4% no
investimento. Tal projeção põe em xeque o Programa de Sustentação do
Investimento do BNDES. Mesmo oferecendo financiamento a juros reais negativos
para a compra de máquinas, equipamentos e caminhões, o investimento não decola.
Enquanto isso, o setor da construção civil reclama do
governo pelos custos da burocracia. Segundo um levantamento da Câmara
Brasileira da Indústria da Construção (CBIC), cerca de 9% do preço das unidades
habitacionais do país, é composto pelo excesso de burocracia que acompanha todas
as etapas de produção. Os empresários do setor pedem medidas que os incentivem
a produzir. Segundo eles, a garantia da terceira fase do programa “Minha Casa,
Minha Vida”, ajudaria a impulsionar o segmento. Mas isto não basta. Os
construtores querem a reedição do programa, que deve vir com regras claras e
metas definidas. Ou seja, o governo deve “sinalizar” que o lucro será garantido
(e alto) e que o ambiente para os negócios será propício mesmo em ano de
eleição.
Parece que as reivindicações dos empresários chegaram num
mau momento. O governo sofre uma enxurrada de críticas por não ter cumprido a
meta de superávit primário e estuda apressadamente como reduzir o peso, nas
despesas públicas, das inúmeras desonerações realizadas. A pressão, obviamente,
vem das agências de classificação de risco. A Standard & Poor's (S&P),
declarou que para o país manter a nota BBB deve controlar a relação entre
dívida e PIB. A deterioração do quadro fiscal brasileiro, o baixo crescimento e
a limitação do uso de políticas anticíclicas, contribuem para a perspectiva de
queda da nota do Brasil.
Outro ponto crítico é o insucesso do programa de
concessões. Os empresários continuam a exigir taxas de retorno mais elevadas
que aquelas propostas pelo governo. A última novidade foi no preço fixado para
os leilões da energia solar. A Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), já
declarou que o preço máximo da energia definido para o leilão que acontecerá em
13 de dezembro, está muito baixo. Segundo a instituição, provavelmente o valor
de R$ 122 por megawatt/hora (MWh) de energia não atrairá investidores.
O governo está com a corda no pescoço. Se atender as agências
de risco, deve reduzir a sua dívida. Mas, se continuar a combater a inflação, via
aumento da taxa de juros (o que certamente vai acontecer), a dívida aumenta. Se
continuar a salvar o setor produtivo, deve continuar as desonerações, o que
obrigatoriamente também eleva os gastos. Se quiser garantir o sucesso das
concessões, deve afiançar taxas de retorno mais altas, o que também elevaria a
dívida pública. E se resolver ele mesmo, realizar os investimentos em
infraestrutura, então...
Fica bastante difícil agradar a todos. O cenário que se
desenha para 2014, é bastante diferente do de 2010, em que o derrame de
dinheiro garantiu a eleição de Dilma.
[i] Professora
do Departamento de Economia da UFPB e pesquisadora do Progeb – Projeto
Globalização e Crise na Economia Brasileira. (www.progeb.blogspot.com)
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