Semana de 23 a 29 de dezembro de 2013
Rosângela Palhano Ramalho
[i]
Caro leitor, em pleno segundo dia do ano, ainda estamos
naquela atmosfera de feliz ano novo, mas as notícias são velhas. Para o ano que
se inicia, já expusemos neste espaço alguns dos prováveis acontecimentos: o
“tapering” do Banco Central americano e a concretização do “pibinho” brasileiro
de 2013. Assim, perdura a velha crise, no novo ano.
A retirada dos estímulos econômicos do Fed provocará uma
redução gradual no montante de dinheiro injetado na economia americana. Ao
contrário do Banco Central brasileiro, dizem os críticos, o Fed representa o
modelo ideal de autoridade monetária, pois deixa claro para o “público” quais efetivamente
serão suas ações. Ele avisa aos bancos: preparem-se, pois a partir de janeiro
vocês terão uma redução do montante de compras dos títulos que têm em mãos. E
avisa aos especuladores: podem voltar ao nosso mercado, pois a economia está
dando sinais de recuperação. Com isto, o mercado fica calminho, calminho, e “adapta”,
“ancora”, suas expectativas para um futuro garantido.
No Brasil, a divulgação do Relatório de Inflação de
dezembro causou “frenesi”. Assim como se tornou tradição analisar as entrelinhas
da ata do Copom, os “analistas, leitores e peritos de documentos econômicos”
tentam entender qual a mensagem subliminar do Relatório. A conclusão a que se
chegou é que o Banco Central não ficou satisfeito com o superávit primário (criticando
as suas próprias ações!) e provavelmente vai tentar aumentá-lo em 2014. Por
quê?
Ora, antes o governo dizia que os superávits primários
deveriam se situar “em patamares próximos aos que têm sido gerados recentemente”,
mas agora a frase foi substituída por esta: “em patamares próximos à média dos
gerados em anos mais recentes”. A média dos anos recentes, considerando 2012 e
2013, está entre 2,1% e 2,2% do PIB. Esta meta é maior do que o resultado
previsto para 2013, que fechará em 1,8% ou 1,9%.
Se o Banco Central do Brasil fosse mais preciso em suas
comunicações, questionam os críticos, seria desnecessário todo este malabarismo
para entender a sua linguagem: o “bancocentralês”. Obviamente, todos já sabem
que a meta de 4,5% de inflação jamais será alcançada este ano, mas, a
autoridade monetária deveria deixar claro que perseguirá o centro da meta. No
atual Relatório de Inflação, o abandono da meta fica claro, dizem os
“analistas”. Mas isto não basta. Na década passada, o Banco Central sempre
procurava trazer a inflação para o centro da meta, no “horizonte de transmissão
da política monetária”, estimado em cerca de um ano. Naquela época sim, era
possível que o “mercado” “ajustasse” suas expectativas, pois se tinha a certeza
de que a única forma de combate à inflação (o aumento dos juros) perduraria
neste período de tempo. E, pelo menos por um ano, os ganhos altos estariam
garantidos.
As metas, agora não formais, do Banco Central só tornam
indefinidos os ganhos futuros dos especuladores que vivem de sugar as economias
emergentes via juros altos. Capital de curto prazo que não gera riqueza e que
vive de aproveitar os momentos mais propícios para aumentar seus ganhos. No
entanto, as medidas anticíclicas adotadas pelo governo brasileiro foram
defensivas e tentaram minimizar os efeitos da crise sobre a economia
brasileira. Se isto desagrada os especuladores, paciência...
A discussão sobre a falta de compromisso do Banco Central
em cumprir as metas de inflação e a sua imprecisão na comunicação perdura e
atende os interesses de uma classe específica. Claro que neste jogo vale tudo.
Vale até dizer que o aumento de preços corrói a renda dos mais pobres e provoca
a perda de competitividade das exportações. Mas, sabemos que o centro do
discurso está na desconfiança dos investidores com os rumos da política monetária.
O fato é que, num mundo dominado pelo mercado financeiro,
o anúncio do tapering do Fed, deve ter deixado os “investidores” bastante
satisfeitos. Com isto, as economias emergentes terão que se ajustar à nova
realidade provocada pela fuga provável dos capitais de volta aos EUA.
Certamente, os espaços para a especulação continuarão a existir através de
mecanismos como a arbitragem com as taxas de câmbio, os juros e as inúmeras
mercadorias financeiras já existentes e as novas que podem ser criadas.
Adeus ano velho, feliz ano novo...
[i] Professora
do Departamento de Economia da UFPB e pesquisadora do Progeb – Projeto Globalização
e Crise na Economia Brasileira. (www.progeb.blogspot.com)
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