Semana de 16 a 22 de dezembro de 2013
Nelson Rosas Ribeiro[i]
Depois do anúncio do Fed
sobre o “tapering”, e com a divulgação de um comunicado “dovish”, o mundo pode
comemorar o Natal e a passagem do ano em paz, pois os “mercados” estão
acalmados.
E nós, humildes mortais,
o que temos com isto?
É assim, caros leitores,
quem não sabe inglês não entende nada de economia.
O Fed é o Federal
Reserve, banco central americano, e o “tapering” é o início do processo de
retirada dos estímulos que este banco vinha promovendo nos EUA.
Desde o estouro de 2008,
quando a crise chamada de “financeira” teve início, o Fed vem interferindo na
economia, abandonando sua posição de aparente neutralidade e despejando descaradamente
trilhões de dólares para salvar bancos e instituições financeiras da falência.
O pretexto foi o de estimular a economia em crise. Já não se sabe quanto foi
derramado, mas as estimativas oficiais apontam números que ultrapassam os US$ 3
trilhões. Nos últimos tempos este derrame passou a obedecer a algumas regras,
sendo a mais importante delas o compromisso do Fed de comprar mensalmente US$
85 bilhões de dois tipos de papeis: US$ 45 bilhões eram destinados aos
treasuries (títulos do tesouro dos EUA) e US$ 40 bilhões para os MBS (títulos
lastreados em hipotecas). A decisão tomada na quarta feira da semana passada
marcou o início da redução destas compras. Em vez de US$ 85 bilhões, o Fed
passará a comprar, a partir de janeiro, apenas US$ 75 bilhões, reduzindo US$ 5
bilhões para cada tipo de papel. É o início do processo que é chamado de
“tapering”.
Os “mercados” estavam
nervosíssimos, pois o Fed já anunciara várias vezes o “tapering”. Finalmente,
ele concretizou-se, mas acompanhado de um comunicado “dovish” (de pombo), ou
seja, moderado. No comunicado, o Fed não se compromete com nenhum
prosseguimento na redução das compras e até admite aumentá-las caso o
comportamento da economia dos EUA se altere. Eles analisam três indicadores: a
queda do desemprego (meta de 6,5%), a inflação alinhando na meta (2,0%) e a
estabilização do crescimento do PIB.
A situação atual dos
ativos do Fed já se tornava constrangedora. Em setembro, estes ativos
registravam US$ 2,22 trilhões de títulos da dívida pública e US$ 1,38 trilhão
em títulos lastreados em hipotecas.
Para aumentar a
tranquilidade, o Fed declarou ainda que as taxas de juros baixas (entre 0,0% e
0,25%) continuarão por um longo período.
Apesar de todas estas
reservas, os especuladores nos países emergentes continuaram nervosos, o que
começa a se refletir no câmbio por estas bandas. O dólar começou a sofrer
pressões de alta o que corresponde à desvalorização das moedas locais e, no
nosso caso, do real.
O BC no Brasil já está
reagindo e prometendo continuar com suas intervenções, mantendo a “flutuação
suja” no mercado de câmbio. Com a desvalorização do real, os exportadores
festejam, os importadores choram e a inflação sofre pressão de alta para a
desgraça geral.
A atitude do Fed pode ter
outra leitura. Pode ser considerada como o sintoma de que, para eles, a
recuperação da economia nos EUA já começou.
Na Europa, a situação
mantém-se estagnada e não são visíveis sinais de mudança de atitude no BCE.
Como a situação, na China e no Japão, também se mantém estável, não há grandes
esperanças na retomada da recuperação da economia mundial em 2014.
Só o otimista Ministro
Mantega prevê o fim do ciclo recessivo no mundo, no próximo ano. Aliás, se
depender de sua vontade, o PIB do Brasil crescerá 4% em 2014, de acordo com a
proposta orçamentária que foi elaborada. Infelizmente ele está mais uma vez só
em sua previsão, pois a própria área econômica do governo trabalha com 3%, o BC
com 2,5%, o FMI com 2,5%, a Cepal com 2,6% e o “mercado” com 2.1%. Nestas
condições podemos desejar a todos um Feliz Natal, mas, o próspero ano novo
dependerá desta loteria de previsões.
Vamos torcer pelo palpite
do Mantega.
[i] Professor
Emérito da UFPB e Coordenador do Progeb – Projeto Globalização e Crise na
Economia Brasileira progeb@ccsa.ufpb.br);
(www.progeb.blogspot.com).
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