Semana de 07 a 13 de abril de 2014
Nelson Rosas Ribeiro[i]
Estas são as palavras do
economista-chefe do Fundo Monetário Internacional (FMI), Olivier Blanchard ao
apresentar o relatório divulgado pela instituição, no dia 8 passado. Ele
acrescentou ainda que a recuperação mundial continua frágil e persistem riscos
de piora. No relatório, o FMI ainda apresenta a estimativa de crescimento de
3,6% do Produto Interno Bruto (PIB) mundial, em 2014. Outras estimativas também
foram apresentadas: 2,2% de crescimento para os países avançados; 2,8% para os
EUA; 1,2% para a zona do euro; 1,8% para o Brasil; 5,4% para a Índia; 7,5% para
a China e 4,9% para os mercados emergentes.
Como temos mostrado em
nossas análises, das quatro fases do ciclo econômico (crise, depressão,
reanimação, auge) já atravessamos duas delas, a partir de 2007, e estamos
entrando na terceira fase, a reanimação. O que caracteriza o ciclo atual é
precisamente a violência da queda e o lento movimento de recuperação. As fases
de crise-depressão estenderam-se por longos seis anos e agora, há quase dois
anos, nos arrastamos nesta escalada cheia de tropeços e descompassos. E há
sempre um “mas”.
A Organização Mundial do
Comércio (OMC), por exemplo, reconhece um crescimento de 2% no comércio
mundial, em 2013, e deve reduzir sua estimativa de 4,5% de crescimento para
2014, afirmando que este ano “não será um bom ano para o comércio” e isto, sem
levar em conta os riscos geopolíticos (crises da Rússia, Síria, etc.). Os EUA,
apesar do “tapering” do Federal Reserve (Fed) estão criando novo alento na
procura de títulos do tesouro e no retorno dos capitais ao país, porém, há
sinais de alarme na queda do consumo e em relação à situação financeira dos
bancos, mesmo os grandes, que ainda conservam em seus ativos elevadas
quantidades de títulos podres. Com a China as preocupações também aumentam. O
país pressiona para utilizar sua moeda (Yuan) nas suas relações comerciais
(atualmente representam 17% delas) enquanto a burocracia interna dificulta a
implantação de uma reforma capaz de reduzir os riscos no setor financeiro. No
país já é fato consumado a desaceleração do consumo e o primeiro-ministro Li
Keqlang afirmou que a meta de crescimento de 7,5% do PIB pode não ser atingida.
O ministro das finanças já havia declarado que 7,2% ou 7,3% poderiam ser
considerados valores satisfatórios.
Se a economia mundial
causa preocupações, a economia brasileira anda muito pior. É claro que, num
mundo globalizado, estamos todos juntos, mas, no presente caso, ainda não
estamos sendo arrastados pela marolinha da recuperação. Há duas notícias preocupantes
em relação à produção industrial que já vinha se arrastando. No primeiro
bimestre a indústria de São Paulo caiu 2,4%, a maior retração entre as 14
regiões analisadas pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas
(IBGE), na Pesquisa Industrial Mensal. Já, segundo a Fundação Getúlio Vargas
(FGV) a Sondagem Conjuntural da Indústria de Transformação mostrou que, em
março, nove dos 14 setores pesquisados possuíam estoques em excesso. Segundo Aluisio
Campelo, superintendente adjunto de ciclos econômicos da FGV, “A indústria
continua a fase de desaceleração que começou no terceiro trimestre de 2013”.
Ele afirmou ainda que há um desequilíbrio entre produção e demanda efetiva o
que resulta em acumulação de estoques e que isto não será revertido facilmente.
Em tais circunstâncias,
surpreendeu a todos o estouro da inflação, observado em março, com a divulgação
do IPCA de 0,92%, e o acumulado em 12 meses de 6,15%, perigosamente próximo do
teto da meta (6,5%). Desta vez os vilões voltaram a ser os produtos
alimentícios, cujos preços foram elevados pela escassez provocada pelos fatores
climáticos que atingiram o país. E para piorar a situação, pesa sobre as
cabeças a inadiável elevação dos preços dos combustíveis e da eletricidade. Os
problemas decorrentes da desaceleração da economia, da acumulação de estoques, da
situação internacional desfavorável e dos acidentes climáticos são enfrentados
pelo Banco Central com um único remédio: aumento de taxas de juros. O “mercado”
já comenta que novo aumento virá na próxima reunião do Copom. Há mesmo os que
advogam um “choque” de juros como única solução.
Eis o resultado da soma
dos interesses do capital financeiro com o fundamentalismo da ideologia
econômica oficial.
[i] Professor
Emérito da UFPB e Coordenador do Progeb – Projeto Globalização e Crise na
Economia Brasileira progeb@ccsa.ufpb.br);
(www.progeb.blogspot.com).
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