Semana de 14 a 21 de abril de 2014
Rosângela Palhano Ramalho
[i]
Não adianta lamentar, o PIB brasileiro deste ano será
menor que 2%. As mais recentes estimativas dão conta de que, assim como a
economia mundial, a nossa reanimação também é bastante duvidosa. Tanto o Instituto
Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas (Ibre) quanto o Fundo
Monetário Internacional (FMI), lançaram igual previsão: a de que o PIB de 2014
não ultrapassará 1,8%.
As previsões do desempenho econômico dos primeiros meses
de 2014 acabam reforçando esta baixa para o final do ano. O Banco Central
divulgou o Índice de Atividade Econômica (IBC-Br) que avançou apenas 0,24% em
fevereiro. Ressalte-se que em janeiro a expansão do índice foi de 2,35%. Como
este indicador é uma prévia do PIB, a presidente Dilma provavelmente terá que
engolir mais um PIBinho.
Segundo analistas entrevistados pelo jornal Valor
Econômico, o fraco desempenho do setor industrial e os baixos investimentos, produzirão
um PIB trimestral de no máximo 0,5%, número menor que os 0,7% alcançados no quarto
trimestre de 2013. Uma forte queda do setor industrial será verificada em março
e, no levantamento da maioria dos economistas ouvidos, o declínio da atividade
ficará em torno de 2,7%.
A indústria brasileira não decola porque, entre altos e
baixos, foi o setor automobilístico que ancorou seu desempenho. Mas, com a
retirada de parte dos incentivos fiscais concedidos pelo governo, a produção de
veículos caiu, no primeiro trimestre, por causa da queda das vendas que foi de
2,1%, incluindo ônibus e caminhões.
A situação está tão tensa que a presidente Dilma receberá, em reunião no
Palácio do Planalto, a ANFAVEA
(Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores) que chorará
suas mágoas. O prognóstico do setor continua ruim. Nos primeiros quinze dias de
abril, as vendas de
veículos caíram 7%, comparando-se ao mesmo período do ano passado. Os
representantes das montadoras, além de discutirem o retorno dos benefícios fiscais,
deverão estudar com a presidente uma solução que restabeleça as exportações do
setor para a Argentina.
Segundo o economista Delfim Netto, todos os males atuais da
nossa economia resumem-se na incerteza econômica e, para agravar a situação, novos
cenários de incertezas continuam a se desenhar. A persistente alta da inflação
e a queda da atividade trimestral são as novidades. O grande problema, segundo Delfim,
é que o governo não estaria comprometido o suficiente com os ajustamentos das
expectativas, dando sinais dúbios em suas comunicações com o “mercado”. O mesmo
acontece na comunicação (ou na falta dela) com o setor privado, fato que gera
desconfianças dos dois lados. O governo carece, então, de uma “comunicação
inteligente”. O pior é que este lamentável discurso, apesar de absurdo, é reproduzido
amplamente e aceito como verdadeiro. A conclusão a que se chega é que a equipe
econômica, os economistas, a presidente, o Tombini, o Mantega, ou seja, os que têm
em suas mãos o domínio do destino econômico da nação são todos eles os
responsáveis pelo caos.
É bem verdade, que as medidas de política econômica, apenas
contribuem para afetar a trajetória da atividade, mas podem dar até um empurrãozinho
no que já está ruim. Veja-se, por exemplo, a última novidade: o BNDES (Banco
Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social), numa iniciativa de aproximação
com o mercado de capitais, lançou um “programa de investimentos” da ordem de R$
3 bilhões para estimular os fundos que compram participações em empresas. O
dinheiro servirá também para financiar as ofertas iniciais de ações de
companhias de médio porte. Não bastavam os juros altos. Aí vai mais um prêmio
ao mercado financeiro. Em vez do governo definir sua política industrial e
destinar os recursos disponíveis para isto, entrega o dinheiro nas mãos dos
especuladores que os aplicarão segundo seus interesses e critérios que,
certamente não são os da nação.
Enquanto isso, os produtores de caminhões declaram que grande
parte da indústria sofre com a lentidão na liberação dos créditos pelo BNDES que
financia a aquisição de bens de capital.
Para um país que carece
de uma política industrial, esta nem de longe é uma decisão acertada. É desta
forma que o principal banco de fomento decide destinar os recursos que deveriam
servir ao desenvolvimento econômico.
[i] Professora
do Departamento de Economia da UFPB e pesquisadora do Progeb – Projeto
Globalização e Crise na Economia Brasileira. (www.progeb.blogspot.com)
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