Semana de 19 a 25 de maio de 2014
Nelson Rosas Ribeiro[i]
As notícias da semana
continuam a confirmar as tendências que temos acompanhado em nossas análises. A
economia dos EUA arrasta-se mantendo os temores do Federal Reserve (Fed), Banco
Central americano, que não eleva as taxas de juros, embora mantenha o
“tapering” (compra de títulos podres ao ritmo de US$ 10 bilhões ao mês). A
situação na União Europeia (UE) piora obrigando a adoção de um afrouxamento
monetário (Quantitative Easing – QE) pelo Banco Central Europeu (BCE), o que é
esperado a qualquer momento. A crise da Ucrânia, que está longe de encontrar
uma solução, apesar da recente eleição do novo presidente, o “rei do chocolate”,
continua a ser um agravante. Acrescente-se ainda o acordo Rússia – China que
criou uma boa saída para o gás russo e estreitou os laços sino-russos, para
infelicidade dos EUA e de sua política no pacífico.
Sem grandes esperanças de
uma forte retomada da economia mundial, a situação do Brasil se agrava. A
desaceleração do setor automotivo continua. No primeiro quadrimestre do ano a produção
caiu 12% e as vendas 5%. A capacidade ociosa chegou aos 30% e os estoques estão
no maior nível desde 2008. O mercado doméstico está saturado e o mercado
externo oferece poucas possibilidades. As exportações para a Argentina, que
representam 80% do total, caíram 26,2%. Para o México, a queda foi de 66% e
para a Venezuela foi ainda pior.
A desaceleração
estende-se a outros setores. De acordo com a “Sondagem Industrial” divulgada
pela Confederação Nacional da Indústria (CNI), o Índice de produção industrial
ficou em 47,3 pontos, em abril, ante 48,8 pontos em março. Neste índice, que
vai de zero a 100, valores abaixo de 50 representam queda na produção em
relação ao mês anterior. Em maio, a utilização da capacidade instalada foi 71%
e, mesmo assim, os estoques cresceram. Em relação aos trabalhadores empregados,
segundo dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Cagede), pela
primeira, vez desde 2001, a indústria demitiu empregados em abril tendo
reduzido 3,4 mil vagas de empregos formais.
Esta situação reflete-se
no índice de confiança dos empresários. Segundo a CNI, o Índice de Confiança do
Empresário Industrial (ICEI) caiu 1,2% em relação a abril, atingindo 48 pontos,
o segundo menor da série histórica iniciada em 1999. Isto foi observado em
todos os segmentos e tamanhos das empresas. Segundo o Instituto Brasileiro de
Economia da Fundação Getúlio Vargas (Ibre – FGV), em seu Boletim Macro que publica
o Índice de Confiança Empresarial, este índice recuou 2,7%, em relação a março.
É a maior queda desde 2008. Todos os setores encontram-se na pior situação dos
últimos quatro anos. Entre os 72 segmentos estudados a perda de confiança
atingiu 77% deles. Segundo Silvia Matos, coordenadora técnica do boletim, isto
é consequência do cenário de baixo crescimento, desaceleração do mercado de
trabalho, aumento da inflação e da possibilidade de racionamento de energia. Para
o Índice de Confiança de Investimento, também calculado pela FGV, que inclui os
setores ligados a Formação Bruta de Capital Fixo (FBCF), a queda foi de 6,7%,
entre março e abril.
É com este pano de fundo
que vai ser realizada na quarta-feira 28, a reunião do Copom, órgão do BC.
Quando este artigo chegar às mãos dos leitores a reunião já terá sido realizada
e, o que é esperado, decidido: o Copom manterá a atual taxa Selic que é de 11%,
assunto que comentaremos em nossa próxima análise.
Como vemos, tanto do
ponto de vista objetivo, quanto subjetivo, a situação não é das mais
animadoras. Em tal ambiente adverso se vem desenvolvendo a campanha política
para as próximas eleições. O que não tem faltado é combustível para a batalha.
Desde os escândalos e casos de corrupção que se sucedem e, que o governo tenta
toscamente abafar, até os problemas de má gestão de alguns setores. É o caso,
por exemplo, do PAC–2, menina dos olhos do governo. Além do atraso de todas as
obras, de dezembro de 2010 para cá o orçamento previsto sofreu aumento de
R$42,7 bilhões (32,4%).
Este ambiente tumultuado tem
sido o caldo de cultura para a gestação das lutas sociais que explodem a cada
dia e esta é a realidade que a presidente Dilma terá de enfrentar em sua
campanha para a reeleição.
[i] Professor
Emérito da UFPB e Coordenador do Progeb – Projeto Globalização e Crise na
Economia Brasileira progeb@ccsa.ufpb.br);
(www.progeb.blogspot.com).
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