Semana de 28 de abril a 04 de maio de 2014
Rosângela Palhano Ramalho
[i]
Caro leitor. É incrível o posicionamento contraditório do
governo em relação às questões econômicas. Enquanto o mundo se recupera
lentamente, os indícios de que teremos um ano ruim, com crescimento baixo, aumentam.
Mesmo assim, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, continua a sustentar que a
inflação ficará na meta, quer dizer, no teto da meta. Enquanto isso, o Boletim
Focus, elaborado pelo Banco Central, antes mesmo da finalização do primeiro
semestre, já prospecta uma taxa no limite máximo da meta, indicativo de que no
final do ano o teto será ultrapassado.
Mas isto não é o mais surpreendente. Esta semana, Mantega
detonou mais uma pérola. Afirmou que o Brasil está frente a um novo ciclo de
expansão econômica. E mais: este novo ciclo, que começará este ano, se
estenderá até 2022 e contará com crescimento de 7% ao ano nos investimentos e de
3,6% no consumo. Segundo Mantega, o Produto Interno Bruto (PIB) crescerá a um
ritmo médio de 4% ao ano, no referido período.
Está cada vez mais difícil acreditar nas palavras do ministro.
O ciclo econômico, assim definido, teria oito anos de expansão! Seria o tal
crescimento sustentado? A nossa última análise frisou que o crescimento médio do
PIB dos últimos cinco anos foi de 1,8%. Para sustentar uma taxa média de 4%
teríamos que crescer, a cada ano, até 2022, 2% a mais em relação aos índices
apresentados nos últimos anos.
A desaceleração da indústria, no primeiro trimestre, e em
especial, do setor automobilístico, é um problema que vem se agravando com o
passar do tempo. No primeiro trimestre, a indústria automotiva apresentou uma
queda nas vendas de 2,1% e, contando com o mês de abril, esta queda já chega a
4%.
No setor de veículos pesados, a situação é crítica. Este
ano, segundo estimativas das maiores montadoras, as vendas de caminhões cairão
entre 5% a 12%. Esta projeção parece bastante otimista, já que no primeiro
trimestre, o setor acumula queda de 11% e, considerando o quadrimestre, as
vendas recuaram 22%.
Os fornecedores da indústria automotiva também estão desacelerando.
As vendas de aço, por exemplo, irão declinar 7,5%, em abril, segundo
estimativas das empresas.
Os impactos negativos, como frisado na análise anterior,
também se estendem sobre o emprego. A MAN, que é líder no setor de caminhões no
Brasil, interrompeu a partir de abril, durante cinco meses, os contratos de
trabalho de 200 trabalhadores. Desde o final do ano passado que a empresa concede
férias coletivas, reduz a jornada de trabalho, além de usar o banco de horas. A
fábrica da Mercedes-Benz em São Bernardo do Campo está realizando modificações
em sua linha de produção e irá reduzir o pessoal empregado. O presidente da
empresa, seguindo os passos dos seus concorrentes, lançou um programa de
demissão voluntária e a meta é dispensar até 2.000 trabalhadores. 700
trabalhadores já aderiram ao programa.
O governo, a pedido da Associação Nacional dos
Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea) e da Federação Nacional da
Distribuição de Veículos Automotores (Fenabrave), estuda medidas para melhorar
o acesso ao crédito. Segundo o ministro Mantega, a situação deste ramo
industrial pode ser resolvida por meio do aumento do crédito ao consumo, pois
os bancos, apesar da queda da inadimplência, estão mais rigorosos na concessão
de empréstimos. O ministro se queixa que antes “... era possível financiar um
carro com 10% ou 20% de entrada. Mas hoje exigem entrada de 50%.” Será que são
só estas as dificuldades que entravam as vendas do setor automobilístico?
Com grande preocupação, analistas já sugerem a existência
de uma “bolha automobilística” que estourará a qualquer momento. O setor
cresceu bastante nos últimos anos, com a entrada de várias montadoras no país.
Além disso, vários subsídios foram dados e o crédito foi facilitado
possibilitando um aumento exagerado do consumo.
Estes dados negam a existência do tal ciclo de expansão.
Não se trata aqui, como muitos defendem, de otimismo ou pessimismo. É a
observação da realidade objetiva que nos permite chegar à conclusão de que o
Mantega continua a viver no mundo da fantasia e, por isso, suas declarações em
nada contribuem para a credibilidade do governo.
[i] Professora
do Departamento de Economia da UFPB e pesquisadora do Progeb – Projeto
Globalização e Crise na Economia Brasileira. (www.progeb.blogspot.com)
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