Semana de 05 a 11 de maio de 2014
Nelson Rosas Ribeiro[i]
Na semana passada, a
Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico (OCDE) divulgou, em
Paris, seu relatório semestral. Os dados confirmam as tendências que temos
apontado em nossas análises. As economias dos países desenvolvidos continuam em
lenta recuperação e as dos emergentes desaceleram. As estimativas das taxas de
crescimento da economia mundial foram corrigidas para baixo, de 3,6%, para
3,4%. Para os EUA espera-se um crescimento de 2,6%, para a zona do euro e o
Japão, de 1,2%. A OCDE recomenda manter os juros baixos na zona do euro, por
causa do desemprego, da deflação, do lento crescimento e do endividamento
público. No caso dos emergentes, para a China, a previsão é de que continuará
desacelerando. A taxa de crescimento foi reduzida de 7,8% para 7,5%. Para o
Brasil a OCDE prevê uma taxa de 1,8%, com inflação alta e recomendou a elevação
dos juros. Tudo de acordo com o manual ou bíblia ideológica oficial.
Educados na mesma escola
e rezando pelo mesmo breviário, os BCs de todo o mundo já estão agindo.
O Banco Central Europeu
(BCE) já se prepara para o seu afrouxamento monetário (Quantitative Eeasing –
QE) que deve acontecer até junho, segundo as análises dos pronunciamentos do
seu presidente Mario Draghi. No entanto, a crise da Ucrânia é um complicador
para a situação. A fúria americana para isolar a Rússia e todo o ranço secular
dos franceses e alemães (ambos derrotados militarmente em batalhas históricas
pelos russos) tentam implementar sanções econômicas contra a possível
“anexação” de partes do território ucraniano pelos russos. No entanto, os
interesses geoestratégicos chocam-se com os interesses econômicos e comerciais
das grandes empresas que operam na Rússia. Para não falar da dependência
energética da Europa do petróleo e gás russos. Como a Rússia certamente não está
disposta a aceitar a presença dos canhões e mísseis da OTAN perto de suas
fronteiras, não parece que venha a fazer muitas concessões. Um agravamento das
sanções, pelo ocidente, no entanto, poderá ter duras consequências também para
a recuperação de toda a eurozona.
Enquanto isso o Federal
Reserve (Fed) banco central americano continua o seu “tapering”, redução da
compra de títulos podres, na velocidade de US$ 10 bilhões por mês, mas não
eleva os juros com medo de derrubar a sofrível recuperação.
No caso do Brasil, a OCDE
confirma as nossas previsões. O risco é que a situação venha a se deteriorar
ainda mais, por causa do ano eleitoral. Enquanto o governo vacila com sua dúbia
política econômica, fruto da confusa ideologia econômica que professa, a
oposição ataca com fúria em todas as direções. Para piorar, surgem novas
denúncias de casos de corrupção que afetam ainda mais a Petrobras.
A situação interna não é confortável.
A desaceleração da produção industrial continua particularmente no setor
automotivo. Novas férias coletivas são anunciadas na Ford, Scania, Volvo,
International, Iveco, Mercedes Benz, Honda, Hyundai, etc. Segundo a Fenabrave,
a queda na venda de veículos foi de 2,1%, no primeiro trimestre, e 5%, de
janeiro a abril. As vendas de caminhões da Mercedes Benz caíram 11%, nos
primeiros quatro meses. O faturamento da indústria de máquinas e equipamentos
caiu 9,5%, no primeiro trimestre, segundo a Abimac, entidade que representa o
setor, apesar do aumento de 28% das exportações. Como as importações caíram
3,3% temos o retrato da queda dos investimentos no país. O setor, em março,
operou com 75,5% de sua capacidade instalada.
Mesmo com a desaceleração,
a inflação continua elevada. Embora o ritmo tenha caído, de março para abril, a
taxa anualizada subiu de 6,15% para 6,41%.
Neste quadro econômico
adverso, as pesquisas apontam a queda da popularidade do governo Dilma. Enquanto
o PT empenha-se em reverter a situação os ministros esforçam-se em desmentir os
fatos que comprometem a administração.
Mas, certamente não será
com palavras ocas e punhos cerrados, erguidos por mensaleiros posando de heróis,
que o PT e o governo Dilma recuperarão sua credibilidade.
[i] Professor
Emérito da UFPB e Coordenador do Progeb – Projeto Globalização e Crise na
Economia Brasileira progeb@ccsa.ufpb.br);
(www.progeb.blogspot.com).
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