Semana de 16 a 22 de junho de 2014
Nelson Rosas Ribeiro[i]
A copa do mundo continua
atraindo todas as atenções misturando a alegria dos vencedores com a frustração
dos derrotados e não dando oportunidade para preocupações com a economia
mundial, que continua a se arrastar sem maiores novidades.
A recuperação americana
preocupa e o Fundo Monetário Internacional (FMI) reduziu sua projeção de
crescimento dos EUA, em 2014, de 2,8% para 2% e recomenda a manutenção das
taxas de juros próximas à zero por um tempo mais prolongado. Christine Lagarde,
diretora-gerente do Fundo, sugeriu uma elevação do salário mínimo do país,
considerado por ela muito baixo, a fim de melhorar a distribuição de renda e
estimular o consumo. Por seu lado, o Federal Reserve (Fed), banco central
americano, preocupado com a possibilidade de fuga em massa dos investidores em
fundos de títulos, pretende criar “tarifas de saída” para dificultar a retirada
desordenada e súbita dos capitais.
A recuperação na União
Europeia (UE), também continua em ritmo lento e as preocupações aumentam com o
corte do fornecimento de gás à Ucrânia, pela Rússia, decorrente do conflito
entre os dois países. A tensão não melhora e as preocupações da UE, quanto às
fontes de energia, cresceram com o agravamento da situação no Iraque onde
forças sunitas com o apoio do talibã avançam sobre a capital Bagdá e já
controlam algumas regiões petrolíferas.
As complicações do mundo
desenvolvido, aliadas ao afrouxamento monetário generalizado, encontrando taxas
de juros elevadas pelos emergentes, como Turquia, Brasil, Índia, Indonésia e África
do Sul serviram como estimulo a volta dos capitais especulativos a estes
países. Os especuladores, que apenas em junho de 2013 haviam retirado de 30
países emergentes US$ 32,5 bilhões, segundo dados do Institute of International
Finance Inc., nos últimos 11 meses injetaram US$ 221,7 bilhões nesses mesmos
países, incluindo US$ 45 bilhões, só no mês de maio. O excesso de liquidez
global faz aumentar o “apetite por risco” dos abutres financeiros
internacionais, de acordo com o banco BofA Merrill Lynch.
Na América Latina a
grande novidade é o contencioso entre a Justiça dos EUA e o governo da
Argentina, após a Suprema Corte ter rejeitado a apelação do governo contra uma
decisão que obrigava o país a pagar integralmente a dívida de um grupo de
credores participantes de três fundos (NMI, Aurelius e Olifant). Estes fundos
não aceitaram o acordo anteriormente assinado por 93% da totalidade dos
credores, quando a Argentina, em 2001, declarou um “default” e negociou toda a
sua dívida. Temem-se as consequências dessa decisão em outros acordos
envolvendo pagamento de dívidas.
No Brasil, apesar de
termos passado para as oitavas de final, mesmo com grandes sofrimentos, a
situação não anda bem. O Índice de Confiança do Empresário Industrial (Icei),
calculado pela Confederação Nacional da Indústria (CNI), continuou abaixo dos
50 pontos, considerado o segundo pior já calculado até agora. A maior queda
verificou-se nas indústrias da construção, transformação e metalurgia.
As estimativas para o
crescimento do PIB este ano, feitas pelo mercado, foram reduzidas de 1,44% para
1,24%. Segundo a CNI, a indústria continua acumulando estoques apesar de baixa
produção, com especial destaque para o setor automotivo. Também apresentaram
mal desempenho os setores de máquinas e materiais elétricos e couros.
Mas, enquanto alguns
curtem suas dificuldades, outros continuam acumulando grandes fortunas. No
Brasil, segundo o Boston Consulting Group (BCG), a riqueza privada cresceu 5,6%,
em 2013, atingindo US$ 1,3 trilhão, pouco menos de 60% do PIB do país. Na
América Latina esse crescimento foi de 11,1%, atingindo US$ 3,9 trilhões e no
mundo foi de 14,6%, com um montante de US$ 152 trilhões. Segundo o BCG, o
Brasil ficou em 24º lugar, com 70 mil famílias milionárias. Em primeiro lugar
vem os EUA, com 7,1 milhões de famílias, seguidos pela comunista China, com 2.4
milhões.
E continuamos nós por
aqui, pelo menos festejando o São João, curtindo a copa e torcendo pelo Brasil.
[i] Professor
Emérito da UFPB e Coordenador do Progeb – Projeto Globalização e Crise na
Economia Brasileira progeb@ccsa.ufpb.br);
(www.progeb.blogspot.com).
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