Semana de 23 a 29 de junho
de 2014
Rosângela Palhano Ramalho
[i]
Na situação atual tornou-se inevitável iniciar o texto
desta análise de conjuntura com boas notícias. É incrível como esta crise
mundial vem se arrastando ao longo dos últimos anos. Se um indício de
recuperação é noticiado, logo vem acompanhado pelos adjetivos frágil, incerto,
duvidoso, dúbio, impreciso, inconsistente... Estudo feito por economistas
europeus que integram o Centre for Economic Policy Research, por exemplo, conclui
que a recuperação europeia continua “frágil e desigual” e acompanhada de altas
taxas de desemprego. Os analistas afirmam que não há consistência no fato de
que a economia está saindo da recessão, afinal os números do primeiro trimestre
foram sofríveis e o PIB da zona do euro cresceu apenas 0,2%. Se a base for a
economia americana, o cenário piora. O PIB norte-americano caiu 2,9% no
primeiro trimestre.
O Brasil acompanha o baixo ritmo, como era de se esperar.
No primeiro trimestre, a economia interna empatou com a europeia: cresceu
apenas 0,2%. Esta semana, o Banco Central reduziu as estimativas de crescimento
do PIB para 2014. Em seu Relatório Trimestral de Inflação, a instituição aponta
que a atividade crescerá apenas 1,6%, contra os 2% estimados no documento
anterior. O Boletim Focus, também do Banco Central (BACEN), que apura semanalmente
as perspectivas de crescimento do PIB junto a economistas das principais
instituições financeiras em atuação no país, é ainda mais pessimista. As estimativas
para o crescimento do PIB caíram pela quarta semana consecutiva, de 1,24% para
1,16%. Considerando este período, a produção industrial, segundo o Focus, cairá
de 0,51% para -0,14%.
Como nosso leitor assíduo já sabe esta não é a principal
preocupação do governo. Apesar da projeção de baixo crescimento, o indicador de
inflação, segundo o relatório do BACEN, continua a subir e aumentou de 6,2%
para 6,4%. A esperança da autoridade monetária está no arrefecimento do choque
de oferta dos preços dos alimentos, na acomodação dos preços administrados e,
principalmente, nos efeitos defasados da política monetária, que levarão a
inflação ao centro da meta. Embora acredite que os juros permanecerão em 11%
até o fim do ano, a maioria dos economistas defende insanamente a necessidade
imediata de um choque de juros.
Continuam os economistas a tentar entender o porquê dos
juros altos não combaterem a inflação. Por que a inflação não cede? Por que
será que a realidade econômica não se adequou ao que prevê a teoria? Será que a
realidade está errada e a teoria está certa?
Que sinuca de bico!
Em meio às alianças que se formam para a próxima eleição,
surge mais uma voz dissidente quanto aos rumos da política econômica. Desta
vez, foi Ciro Gomes do PROS – Partido Republicano da Ordem Social, que oficializou
o apoio ao governo Dilma, mas reclamou: “Está errada a política econômica, está
errada a política monetária, está errada a política fiscal. Não tem política econômica
que funcione no Brasil”.
Soma-se a isto mais uma notícia ruim, desta vez sobre a desigualdade
de renda no Brasil. Dados dos censos de 2000 e 2010 sobre a população
economicamente ativa mostram que não se alterou a parcela da renda concentrada pelo
1% mais rico. Em 2000, esta parcela detinha 17,2% da renda nacional. Dez anos
depois, a situação é a mesma. Houve uma melhora na parcela dos de menor renda,
como por exemplo, entre os 60% mais pobres, que detinha 18,1% da renda em 2000 e
em 2010, 21,5%. No entanto não houve mudanças significativas nos extremos das
classes de renda. Pesquisadores do Insper (Instituto de Ensino e Pesquisa)
concluíram que, em média, os 60% mais pobres apresentaram um crescimento da renda
de 155% entre 2000 e 2010. Mas para os 40% seguintes, o crescimento da renda
média foi de 106%. Nelson Barbosa, que é ex-secretário de Política Econômica do
Ministério da Fazenda, estima que os 10% mais ricos detêm cerca de 95% da
riqueza do país.
Tal comportamento da distribuição de renda justifica o
sucesso de um mercado que não para de crescer no país. A Mercedes-Benz está
ampliando sua rede de concessionárias especializadas na venda de carros de
luxo. Este é o melhor ano, segundo a montadora, em termos de vendas de
luxuosos. O setor anda na contramão da crise automobilística, que já amarga uma
queda de 19,6% dos emplacamentos em junho comparados a junho do ano passado e
de 5,4% em relação a maio.
Este é o cenário ingrato do Brasil.
[i] Professora
do Departamento de Economia da UFPB e pesquisadora do Progeb – Projeto
Globalização e Crise na Economia Brasileira. (www.progeb.blogspot.com)
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